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Categoria que luta com raça e classe por melhores e mais direitos

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Imagem mostra manifestação de bancários, em 2011, levando para as ruas o debate das relações compartilhadas: igualdade de oportunidades na vida e no trabalho

Quando em maio de 2001 a então Confederação Nacional dos Bancários (CNB, atual Contraf-CUT) lançou a cartilha Os Rostos dos Bancários, em parceria com o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (o Dieese) e apoio do Sindicato, deu-se início a uma revolução na nossa categoria. Não seria a primeira nem a última. Os trabalhadores dos bancos, por meio de suas representações no movimento sindical, sempre estiveram na vanguarda da conquista de direitos. E isso se deve muito ao fato de pensar o trabalho do tamanho que ele é, com a importância que tem na sociedade e na vida de cada cidadão. Nesse caso, os bancários avançavam rumo à tão almejada igualdade de oportunidades numa categoria que já tinha participação preponderante das mulheres, por exemplo.

“Há tempos a CNB formou a convicção de que o movimento sindical precisa incorporar à sua prática cotidiana o combate a todas as formas de exclusão, entre elas a discriminação e o preconceito”, descreve a apresentação da cartilha de 2001. “Desde 1996 a CNB/CUT vem exigindo a inclusão desse tema na mesa de negociações com a Fenaban, sob a bandeira de igualdade de oportunidades. Alegando não possuir dados concretos sobre os quais discutir, os banqueiros sempre se esquivaram ao tema. Até que, no acordo coletivo de 2000, os bancários conseguiram pela primeira vez na história do movimento sindical brasileiro incluir explicitamente essa bandeira.”

A cláusula 51, à época, lançava um desafio: “IGUALDADE DE OPORTUNIDADES: O sindicato apresentará resultado de pesquisa sobre o tema, abrindo discussões entre as partes”.

A pesquisa foi feita, então, pelo Dieese a pedido da CNB/CUT: “Uma radiografia precisa e completa da força de trabalho no sistema financeiro brasileiro (…) e um fato inédito no Brasil, e por si mesmo, um momento histórico do sindicalismo no país”.

O resultado estarrecedor “escancarava os efeitos do preconceito e da discriminação de raça e de gênero no interior daquele que se considera o mais moderno e dinâmico setor da economia brasileira”.

O estudo trazia um retrato das mudanças ocorridas no sistema financeiro desde a década de 1990. Eram tempos de fusões, terceirizações, automação. Mulheres, pardos e negros, maioria da população brasileira eram, como ainda são hoje, subrepresentados nos bancos, os mais prejudicados tanto do ponto de vista salarial como de cargos de chefia. “São discriminações inaceitáveis. Eliminá-las será um dos nossos desafios”, salientava o documento. “O primeiro passo importante foi dado com a inclusão do assunto no debate sindical. O segundo passo é este mapeamento da discriminação feito pelo Dieese. O próximo será a instalação da mesa temática com a Fenaban.”

Isso aconteceu há 23 anos. E de lá para cá, se muitas das injustiças promovidas pelos bancos persistem, assim como na sociedade brasileira em geral, os bancários garantiram com suas campanhas avanços fundamentais na luta perene por igualdade de oportunidades.

Os rostos dos bancários - Mapa de gênero e raça do setor bancário brasileiro

Promoção da diversidade

Os Rostos dos Bancários foi o embrião do Censo da Diversidade. A pesquisa conquistada no âmbito das mesas de negociação de Igualdade de Oportunidades vem sendo realizada entre os trabalhadores da categoria desde 2009 e a cada cinco anos, ou seja 2014 e 2019. Na campanha realizada este ano, a federação dos bancos (Fenaban) respondeu de forma positiva à realização do quarto censo da categoria.

Esse recorte de gênero, raça, orientação sexual e de pessoas com deficiência (PCDs) nos bancos é fundamental para pautar políticas de inclusão no setor. E está na base dos mais importantes avanços garantidos pelos bancários na mesa de Igualdade de Oportunidades, muitos deles depois estendidos aos demais trabalhadores.

“Essa mesa tem 23 anos. Quando a gente começou a discutir isso, as pessoas ironizavam. Por que o Sindicato está discutindo a questão da desigualdade salarial entre homem e mulher? É óbvio que a mulher ganha menos porque ela tem filho, porque ela fica em casa, porque ela menstrua”, comenta o preconceito a presidenta do Sindicato, Neiva Ribeiro. Ela também é personagem dessa revolução. Terceira dirigente sindical mulher a presidir a entidade, Neiva sucede Juvandia Moreira, a primeira eleita depois de 87 anos, em 2010; e Ivone Silva, a primeira dirigente sindical negra eleita presidenta do Sindicato em 2017. Novamente a entidade torna-se referência também ao ter mulheres no comando da gestão.

“No Brasil, as mulheres em geral ganham menos, estão menos empregadas, são as menos promovidas e as primeiras a serem demitidas, além de serem vítimas de assédio sexual e violência doméstica, e as principais responsáveis pelos cuidados com a família”, disse Neiva em entrevista durante a campanha deste ano. “Em relação às mulheres negras, essa desigualdade é maior ainda. No setor bancário, um dos mais rentáveis da economia, as mulheres ainda ganham 20% menos que os homens, e as mulheres negras menos 36% que os homens brancos. Além disso, as mulheres bancárias ocupam menos cargos de liderança; e os negros (pardos e pretos) são 26,2%”, critica.

“Por isso, cobramos ano a ano ações e políticas que mudem esse quadro e promovam mais respeito, justiça e oportunidades iguais no ambiente de trabalho. Lembramos à Fenaban que nossa CCT já é pioneira em vários pontos do tema, como licença-maternidade estendida, direitos iguais para casais homoafetivos, canal de combate ao assédio sexual, entre outros. Temos que avançar ainda mais e, assim, contribuir para um mundo mais justo, com respeito a todos e sem discriminações”, acrescentou.

Neiva, assim como as outras presidentas, participou ativamente durante muitos anos dos debates por igualdade de oportunidades. E viu a categoria se tornar referência no assunto. “Por exemplo, a lei da igualdade salarial sancionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (em julho de 2023), foi inspirada e tem muitas similaridades com o que debatemos na nossa mesa de igualdade de oportunidades”, comemora a dirigente.

<em>A eA ex-presidenta do Sindicato, Juvandia Moreira, atualmente à frente da Contraf-CUT, em campanha pela igualdade de oportunidades.</em>
<em>Marcha Noturna pela igualdade racial, em maio de 2011: luta pelo fim da discriminação e do preconceito.</em>

Conquistas históricas

Em 1986, a categoria bancária foi a primeira a ter garantido, em acordo coletivo de trabalho, o direito ao auxílio-creche. Em 1987, instala-se a Comissão Permanente de Raça, Gênero e Orientação Sexual, origem da mesa permanente de Igualdade de Oportunidades. Com a intensificação dos debates nas mesas de negociação, a campanha de 2009 garante uma das grandes conquistas das bancárias: a ampliação da licença-maternidade para 180 dias que muitas outras categorias passariam a ter direito depois. Além disso, todas as cláusulas da CCT passam a valer também para cônjuges de relações homoafetivas.

A partir de 2014, um novo direito: mulheres que forem demitidas e engravidarem durante o aviso prévio proporcional, serão readmitidas. A ampliação da licença-paternidade para 20 dias veio na campanha de 2016.

Todo esse debate é permeado por um trabalho importante realizado pelo Sindicato junto à categoria sobre as noções de relações compartilhadas e paternidade responsável.

Outro importante avanço, para toda a sociedade, é de 2019. O programa “Basta! Não irão nos calar!”, busca dar suporte às mulheres vítimas de violência doméstica. E atua no sentido de assegurar medidas
de apoio às denunciantes contra possíveis agressores, buscando a devida apuração e punição, seja na esfera corporativa, na esfera civil ou penal, com atendimento jurídico gratuito oferecido pelo Sindicato. Além das mulheres vítimas de violência doméstica e de gênero, o Basta! oferece atendimento jurídico gratuito e especializado para negros e negras em situação de discriminação racial. E para pessoas LGBTQIAPN+ vítimas de discriminação motivada pela orientação sexual ou identidade de gênero.

A campanha de 2022 garante a instalação de canais de combate ao assédio sexual no ambiente laboral. Também o programa de atendimento às mulheres vítimas de violência. Além de programas de formação, sob responsabilidade dos bancos, para combater o assédio. Em 2023 é lançado o Programa Nacional de Prevenção à Violência de Gênero na categoria. Este ano, o Sindicato promove o lançamento das cartilhas Sexo frágil: um manual sobre masculinidade e suas questões e Como conversar com homens sobre violência contra meninas e mulheres.

Lançamento da Campanha Nacional 2013, no centro de São Paulo: igualdade de oportunidades sempre como bandeira de luta

Apoio e mais direitos

Marcha do Dia Internacional das Mulheres, em 8 de março de 2014: a luta por igualdade de oportunidades é mundial

A campanha de 2024 trouxe novas cláusulas que visam a alterar substancialmente a situação da mulher bancária dentro das instituições financeiras.

Uma dessas cláusulas é a que garante iniciativas para inclusão de mulheres na área de tecnologia. Levantamento levado pelo Comando Nacional dos Bancários às mesas de negociação com os bancos demonstrou que as mulheres são minoria na TI, área que representa o maior número de contratações nos bancos atualmente. Em 2022, 75,4% dos trabalhadores de TI nos bancos eram homens e apenas 24,6% mulheres. Sendo que, em 2012, a proporção de mulheres na área era maior: 31,9%. Entre 2012 a 2022, o percentual de trabalhadores de TI nos bancos passou de 5,1% para 11,2%.

Também estão garantidas cláusulas sobre combate ao assédio moral, sexual, violências no trabalho.

PCDs passaram a ter direito de abono no dia em que precisam consertar prótese, órtese, cadeira de rodas.

“São dez novas cláusulas conquistadas e que representam avanços no combate ao assédio moral, ao assédio sexual e a outras formas de violência no trabalho”, comemora Neiva. “Também o compromisso com a isonomia salarial entre homens e mulheres; promoção do acesso e permanência de pessoas LGBTQIAPN+ nos bancos. Além das iniciativas de requalificação para que os trabalhadores se adaptem às mudanças tecnológicas; requalificação e capacitação para o ingresso de mais mulheres na área do TI. E, ainda, a realização de um novo Censo da Diversidade para que possamos ter informação, base para seguir em frente na luta por igualdade de oportunidades.”

Atual presidenta do Sindicato, Neiva Ribeiro, ao lado da dirigente Elaine Cutis, em negociação da mesa de igualdade de oportunidades em 2016: pauta central para a categoria bancária.
Denise Motta Dau, do Ministério das Mulheres, ao lado de Ivone Silva, ex-presidenta do Sindicato, com o ministro do Trabalho, Luiz Marinho, a presidenta do Sindicato, Neiva Ribeiro, e a Secretaria da Mulher da Contraf-CUT, Fernanda Lopes, em cerimônia realizada em Brasília, em 3 de julho de 2023: presidente Lula sancionou o PL 1.085, que muda a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) para assegurar a igualdade salarial entre homens e mulheres

100 anos de luta

Para celebrar seus 100 anos de trajetória, o Sindicato dos Bancários lançou um site voltado especialmente para seus registros históricos. O portal está repleto de depoimentos, histórias e conteúdos especiais relembrando e celebrando esse um século de luta. Acesse 100anos.spbancarios.com.br ou clique no botão do canto superior esquerdo da página principal do site do Sindicato e conheça esse importante projeto de memória.

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