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Chapéu
Economia de Francisco

“Davos do Papa”: Nobéis de Economia e jovens discutem modelo econômico

Linha fina
Evento organizado pelo Vaticano reuniu dois mil jovens economistas de 120 países com o objetivo de pensar um novo modelo econômico menos concentrador de renda e mais harmônico com o meio ambiente
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Foto: Juanca Guzman Negrini

Os 2.153 bilionários do mundo possuem uma riqueza maior do que 4,6 bilhões de pessoas, aproximadamente 60% da população global. Os 22 homens mais ricos do mundo têm mais riqueza do que todas as mulheres da África. Os dados são da ONG britânica Oxfam. 

Além da concentração cada vez maior de renda e do sexismo que exclui milhões de mulheres da renda mundial, o modelo econômico atual também contribui para o avanço desenfreado da devastação ambiental. 

O quinto relatório Panorama da Biodiversidade Global (GBO-5, em inglês), publicado em setembro pela Convenção das Nações Unidas sobre a Diversidade Biológica (CBD), aponta que os países precisam redobrar os esforços em políticas de preservação do meio ambiente, sob risco do surgimento de novas doenças desconhecidas, com resultados semelhantes ou ainda piores do que a atual pandemia do novo coronavírus.

Diante deste cenário, e com o objetivo de pensar em como dar vida a uma Economia “Re-almada” – ou seja, que o modelo econômico tenha a humanidade no centro de seus interesses – o Papa Francisco reuniu jovens do mundo inteiro e economistas que já venceram o prêmio Nobel. 

O evento realizado on-line e oficialmente intitulado de The Economy Francesco, mas também chamdo de “Davos do Papa” – em alusão ao Fórum Econômico Mundial realizado na cidade de Davos, na Suiça – ocorreu entre os dias 19 e 21 de novembro. Está previsto um novo encontro presencial na Itália, quando a pandemia permitir. 

“O Papa Francisco quer cerrar fileiras com a juventude mundial preocupada com novos rumos, e por isso nos convocou para debater essa transformação geracional com vários economistas Prêmio Nobel”, relata Lucimara Malaquias, economista, vice-presidente de juventude UNI Américas e representante do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região no evento. 

Os indianos Amartya Sen e Muhammed Yunus participam desta construção. Atualmente, os economistas estão entre os nomes mais críticos ao atual modelo que impõe um crescimento planetário ilimitado à custa da destruição da natureza e exploração do trabalho humano. 

Em sintonia com o Papa, premiados economistas criticam a concentração de renda para uma minoria de pessoas, enquanto para a imensa maioria, as necessidades básicas são desconsideradas, excluindo e matando quem menos possui.

O evento foi estruturado de maneira a distribuir os jovens participantes em 12 Vilas temáticas: Mulheres pela Economia; Agricultura e Justiça; Políticas para Felicidade; Gestão e Dom; CO2 das Desigualdades Negócios e Paz; Energia e Pobreza; Vocação e Lucro; Vida e Estilo de Vida; Finanças e Humanidade; Negócios em Transição; Trabalho e Cuidado.

Como nasceu o evento Economia de Francisco?

A ideia de propor uma nova economia à juventude mundial surgiu de uma reunião entre o Papa e o economista Joseph Stiglitz, laureado pelo Nobel por seu trabalho sobre a urgência do combate às desigualdades – naquele momento, Stiglitz confessou que somente Francisco, o Papa, reuniria as condições morais para liderar um pacto global contra os desequilíbrios sociais. 

Longe de ter sido pensado apenas para religiosos, o evento foi desenhado por uma curadoria científica sob a égide do atual pontificado. Atenderam a este chamado 2 mil jovens economistas de 120 países, dentre eles a dirigente do Sindicato e economista Lucimara Malaquias.

“Na história da doutrina social da igreja, é a primeira vez que a construção está na mão dos jovens, dos trabalhadores de todas as religiões e ateus e não somente dos católicos, Já somos centenas de pessoas, estudantes, pesquisadores, professores, empresários, jornalistas e sobretudo trabalhadores construindo a mudança. Somos pessoas comuns, de vida simples, que sonhamos e estamos trabalhando para que coisas extraordinárias aconteçam, orientadas pelo fortalecimento da democracia e do estabelecimento da paz e da justiça social para todos os povos e Nações. Estamos lutando para que a cultura da indiferença não se naturalize e não se perpetue”, pontua Lucimara.  

Segundo o Papa Francisco, a causa das catástrofes social e ambiental é uma só – que ele chama de a “idolatria do dinheiro”. 

O convite para a juventude ecoa as linhas escritas em sua encíclica “verde” a Laudato si’, lançada em 2015 para a Conferência do Clima da Organização das Nações Unidas (ONU). 

O documento enfatiza que “mais do que nunca, tudo está intimamente conectado e a salvaguarda do ambiente não pode ser separada da justiça para com os pobres e da solução dos problemas estruturais da economia mundial. É necessário, portanto, corrigir os modelos de crescimento incapazes de garantir o respeito ao meio ambiente, o acolhimento da vida, o cuidado da família, a equidade social, a dignidade dos trabalhadores e os direitos das futuras gerações”.

“Um novo processo civilizatório está em curso e todos os povos do mundo serão obrigados a definir-se como querem participar dele. Este novo processo civilizatório se define pela participação das diferentes sociedades e estados nacionais na produção e apropriação das novas descobertas científicas e tecnológicas da atual revolução técnica-informacional. As possibilidades de construir uma nova economia são tão urgentes que o Encontro e - já podemos dizer - o movimento que dele se originaram terão certamente um papel fundamental na construção do novo processo civilizatório”, afirma Lucimara. 

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