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Chapéu
Compulsório

Santander quer fazer caridade com chapéu dos bancários

Linha fina
Banco espanhol desconta porcentagem da PLR dos trabalhadores que ganham menos sem autorização, enquanto deixa acionistas fora da ação caridosa
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Foto: Freepik

​Ao invés de fazer caridade com seus próprios recursos, o Santander decidiu fazê-la com o dinheiro dos bancários. Pior: sem pedir autorização dos trabalhadores, descontando automaticamente os valores da conta onde eles recebem o salário.

 O banco lançou a campanha "Sonhos que Transformam", que propõe descontar 1% da remuneração variável, incluindo o programa de Participação dos Lucros e Resultados (PLR) dos trabalhadores, que será creditada em fevereiro de 2020, para doar para instituições de caridade. O problema é que quem não quiser doar precisará entrar no site disponibilizado pelo banco e marcar a opção "não". Caso contrário, a doação é feita de forma compulsória, sem a autorização do bancário.

 "A campanha tinha tudo para ser um sucesso, já que ela permite que as pessoas indiquem a instituição para qual querem doar, mas isso tudo se desfaz quando o trabalhador precisa entrar no sistema caso decida não doar, sendo descontado indevidamente caso não o faça", critica o dirigente sindical Wellington Correa, funcionário do Santander.

 Também não há transparência quanto à utilização dos dados de doação, se eles serão usados ou não como critério para pontuação.

 Para completar o quadro, o desconto não será feito sobre o montante da variável recebida em ações ou em parcelas diferidas, deixando de fora da "boa ação" do Santander os salários mais altos da entidade, já que os que recebem ações e bônus diferidos como parte da renda variável são os altos executivos, que desde 2010, conforme resolução 3921 do Bacen, ao menos 50% de sua remuneração variável é paga em ações e no mínimo 40% de bônus diferidos para pagamentos futuros.

Para a diretora executiva do Sindicato, Rita Berlofa, ações de solidariedade são importantes, mas seria mais coerente se os executivos encabeçassem esta iniciativa.

"É uma iniciativa positiva, mas o modelo escolhido para esta ação contraria a legislação, que diz que o trabalhador precisa autorizar qualquer desconto que venha ocorrer em sua conta. O Santander precisa reverter este método, deixando que a contribuição seja efetivamente voluntária e, de preferência, que a filantropia comece com os salários mais altos da empresa, considerando como base de desconto a totalidade da remuneração variável recebida sem expurgos de ações e bônus diferidos", pontua Rita, que também é funcionária do Santander.

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