Foi realizado na última sexta-feira, 29 de novembro, em São Paulo, o Almoço Anual de Dirigentes de Bancos 2024, evento da Febraban (Federação Brasileira de Bancos) que reúne os CEOs e principais lideranças do setor financeiro do Brasil.
Durante o evento, os ministros da Fazenda, Fernando Haddad; o diretor e presidente nomeado do BC, que assume o cargo em 2025, Gabriel Galípolo; a ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet; a ministra da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos, Esther Dweck; e o deputado federal Agnaldo Ribeiro, líder da maioria do Congresso; fizeram análises sobre as políticas fiscais e monetárias do Brasil, em especial das medidas de ajuste fiscal e reforma da renda anunciadas na mesma semana pelo governo Lula.
“Na sua fala de abertura, o presidente do conselho da Febraban, Luiz Carlos Trabuco, afirmou que os bancos estão comprometidos com o país e são agentes econômicos relevantes para viabilizar o crescimento econômico e o desenvolvimento social, com mais inclusão e diversidade. Assim sendo, cobramos dos bancos este compromisso com o desenvolvimento social, com taxas mais baixas de juros para os brasileiros e a não precarização das relações de trabalho no setor, com a redução das demissões, o combate efetivo ao assédio moral, ao adoecimento da categoria, às metas abusivas, e o fim das terceirizações no setor”
Neiva Ribeiro, presidenta do Sindicato dos Bancários e Financiários de São Paulo, Osasco e Região
“Avalio ainda que os ministros, em suas exposições, mostraram claramente o compromisso do governo federal com equilíbrio fiscal, mas deixando claro que este equilíbrio deve ser acompanhado de justiça tributária e desenvolvimento social”, acrescenta.
2024, um grande ano
Na sua fala, que abriu os debates do evento, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, destacou que 2024 foi um grande ano para os brasileiros, citando o crescimento do PIB, projetado em 3,5%, e o índice de desemprego em 6,2%.
Sobre as medidas de ajuste fiscal e reforma da renda, anunciadas pelo governo na última semana, Haddad afirmou que o governo busca derrubar o déficit fiscal e reestruturar as finanças do país, mas que não existe bala de prata e que este é um processo que não se encerra com o pacote apresentado.
De acordo com o ministro, as medidas buscam, além do equilíbrio fiscal, justiça tributária.
“O objetivo da reforma, tanto do consumo como na renda, não é arrecadatório e nem de renúncia fiscal. É justiça tributária (…) Nós podemos ter um país que cresce, mais justo e mais sustentável. Não temos razão para não seguir esse curso, com as cautelas que os temas exigem", avalia o Ministro da Fazenda.
Brasil acima das expectativas e bem posicionado
Na sua exposição, o diretor e presidente nomeado do Banco Central, que assume o cargo em 2025, Gabriel Galípolo, destacou que o crescimento do Brasil superou as expectativas.
“O crescimento superou as expectativas. A economia se demonstrou mais aquecida do que se imaginava. O mercado de trabalho bateu de novo um recorde mínimo do nível de desemprego, foi a queda mais rápida do nível de desemprego. E também um recorde de crescimento de rendimento”, pontuou.
Sobre a reação do mercado com as medidas anunciadas pelo governo federal, Galípolo afirmou que, na sua opinião, ainda estão sendo “digeridas”.
“O que está acontecendo é que este processo está sendo digerido. Desde o momento que eu sentei nessa mesa, com as declarações dos dois presidentes do Congresso, e do ministro Fernando Haddad aqui, vimos o preço do dólar ceder um pouco. Isso é decorrente de uma interpretação que ainda está acontecendo. O que está sendo interpretado é que existe uma grande disposição para aprovar rapidamente o pacote de contenção de gastos, que como disse o ministro não é um ponto final”, disse o futuro presidente do Banco Central.
Sobre a posição do Brasil no cenário internacional, Galípolo afirmou que o país é um dos mais bem preparados para o atual momento.
“O Brasil é um dos países que está mais bem posicionado para enfrentar o momento do cenário internacional. Em momentos de tensão geopolítica, você ter segurança alimentar, ter segurança energética, e na sua segurança energética ter uma das matrizes mais limpas do mundo, eu acho um ponto de vantagem muito significativo (…) Cabe a nós, entre os diversos trabalhos que existem e desafios de uma ou mais gerações, transformar essas vantagens competitivas em ganho econômico”, declarou.
“Nas reuniões que pude participar, como no G20, ficou bem claro que o Brasil é um dos líderes dos países que defendem uma reglobalização (…) Uma inserção global de maneira mais harmoniosa, na qual exista uma governança entre os país que considere critérios econômicos, ambientais e sociais” acrescentou.
Vamos fazer ajustes sem retirar nenhum direito
Por sua vez, a ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, foi enfática ao afirmar que o governo irá fazer o ajuste fiscal necessário sem retirar nenhum direito. “Vamos fazer os ajustes necessários sem retirar nenhum direito, mas tudo tem de estar no orçamento.”
Tebet disse ainda que responsabilidade fiscal e social não são dois lados, no qual o governo precisa optar por um ou por outro. “Não é uma escolha de Sofia. Responsabilidade social ou fiscal. Para se fazer social no Brasil e garantir banheiros para 20 milhões de pessoas que não possuem, para garantir escola de qualidade e saúde pública decente, é preciso cuidar do orçamento brasileiro. É preciso ter responsabilidade fiscal. O governo sabe disso”, enfatizou a ministra.
Sobre a isenção de imposto de renda para quem ganha até R$ 5 mil, Tebet acredita que o Congresso será sensível ao tema. “Tenho convicção de que o Congresso terá o equilíbrio e a sabedoria para dizer que essa medida é mais do que justa e necessária para o povo brasileiro. E vamos encontrar juntos, executivo e legislativo, alternativas para que todos possam contribuir de forma justa para essa medida. E aí teremos o Brasil dos nossos sonhos, que passa por um Brasil inclusivo, sustentável e que não deixa ninguém para trás”, destacou.
Inovação e eficiência
Já a ministra da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos, Esther Dweck, destacou iniciativas do governo para melhorar a eficiência do setor público, entre elas a criação de uma base biométrica única no Brasil, a partir da nova carteira de identidade nacional.
“Este é um projeto com um potencial gigantesco para redução de fraudes. Só a partir da exigência de biometria nós vamos tirar muita gente indevida dos benefícios sociais, que não deveriam ganhar”, exemplificou a ministra.
"A palavra eficiência é um foco nosso. Um estado que faz o que precisa fazer, da melhor forma possível, com foco muito grande na qualidade do gasto público", concluiu.