O setor bancário eliminou 2.929 postos de trabalho em 2018. Somente em dezembro, os bancos cortaram 1.389 vagas. Os dados são do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), compilados pelo Ministério da Economia.
Durante o ano, o salário médio dos demitidos equivalia a R$ 6.774, enquanto a remuneração média dos admitidos corresponde a R$ 4.327. Isso significa que os novos funcionários foram contratados ganhando 36% menos do que os demitidos.
“Os bancos valorizam tanto o discurso da meritocracia e exigem dos seus empregados que se esforcem, se qualifiquem, batam metas inatingíveis, mas tudo isso a troco de quê? Para lá na frente jogarem na rua os bancários que foram promovidos e passaram a ganhar mais? É um contrassenso absurdo da forma organizacional das instituições financeiras que visam apenas os lucros cada vez maiores obtidos sobre a exploração dos trabalhadores”, protesta Marta Soares, diretora executiva do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região e bancária do Itaú.
Desigualdade de gênero persiste
Entre os gêneros, a desigualdade também persiste e aumentou. Em 2018, as mulheres foram contratadas ganhando em média R$ 3.696, 25% menos do que os homens admitidos (R$ 4.916). As demitidas ganhavam em média R$ 5.879, 23% menos do que os dispensados (R$ 7.657).
“Outro contrassenso que não tem nenhuma outra explicação a não ser a discriminação, porque está comprovado pelo censo da categoria bancária que as mulheres têm mais anos de escolaridade do que os homens. Qual a justificativa para que elas ganhem menos do que eles?”, questiona Marta.
Na última Campanha Nacional Unificada dos Bancários, no ano passado, a categoria conquistou a realização de um novo Censo da Diversidade, que deve iniciar este ano. O censo é uma ferramenta importante no combate às desigualdades de gênero e raça no setor bancário e para a promoção de políticas de igualdade de oportunidades para mulheres, PCDs (pessoas com deficiência) e negros.
Lucro e sobrecarga aumentaram
A eliminação de postos de trabalho é ainda mais injustificável se o aumento da lucratividade e a relação clientes por empregado forem considerados. Em setembro de 2017, os cinco maiores bancos que atuam no país (Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, Itaú, Bradesco e Santander) tinham em média 847 clientes por empregado. Um ano depois, essa relação aumentou 4%, para 881 clientes por empregado. Os dados são das demonstrações contábeis das instituições.
Já o lucro líquido desses bancos, que empregam cerca de 90% do total de funcionários do setor, cresceu 20,4% entre setembro de 2017 e setembro de 2018, passando de R$ 54,077 bilhões para R$ 65,117 bilhões. Os dados do quarto trimestre do ano passado ainda não estão disponíveis.
“O aumento substancial da lucratividade é resultado direto do cumprimento de metas abusivas. Essa exigência, aliada à sobrecarga de trabalho gerada pela redução de postos de trabalho, leva à epidemia de doenças psicossomáticas e por esforço repetitivo observadas na categoria bancária. Lembrando que por meio da ratificação da Convenção Coletiva de Trabalho, os bancos se comprometeram para que o monitoramento de resultados ocorra com equilíbrio, respeito e de forma positiva para prevenir conflitos nas relações de trabalho, como determina a cláusula 53 da CCT”, finaliza Marta.