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Adoecimento é fruto da luta incondicional pelo lucro

Linha fina
Foi o que ressaltou o diretor da UNI Finanças, o brasileiro Márcio Monzane, durante sua participação em seminário de saúde do Sindicato
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São Paulo – Os problemas de saúde que acometem a categoria bancária estão diretamente associados às metas de produtividade das empresas, relacionadas à venda de produtos bancários. É por isso que a UNI Finanças, braço da UNI Sindicato Global, lançou em 2010 uma campanha mundial para a venda responsável de produtos pelo setor financeiro.

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> Vídeo: matéria especial sobre o seminário

O diretor da UNI Finanças, o brasileiro Márcio Monzane, falou sobre a campanha na mesa de encerramento do seminário Práticas organizacionais, saúde e condições de trabalho bancário no capitalismo em crise, realizado no Sindicato na terça-feira 28, na sede da entidade. “Para a UNI Finanças, o adoecimento dos trabalhadores do ramo financeiro decorre do modelo de trabalho e é sobre esse modelo que devemos interferir.”

O Sindicato compartilha dessa visão. O seminário foi a primeira ação do relançamento da campanha Menos Metas, Mais Saúde. Além disso, a entidade realizará, em parceria com o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), uma campanha pela venda responsável de produtos. O lançamento está previsto para 15 de março.

UNI – “A lógica dos bancos é estabelecer objetivos para gerar lucros, quando eles deveriam estabelecer objetivos para atender às necessidades dos clientes e da sociedade”, disse o diretor da UNI Finanças.

Monzane, que já foi diretor executivo do Sindicato, ressaltou que a venda responsável não resulta apenas em melhores condições de trabalho, mas cumpre papel fundamental na diminuição de riscos para a economia. “Queremos difundir a cultura da venda responsável. Oferecer um cartão de crédito ao cliente pode significar risco de endividamento para esse consumidor, mas também, em larga escala, impacta em toda a sociedade.”

O dirigente explicou que a campanha da UNI atua sobre várias faces do problema. “Defendemos treinamento adequado para os trabalhadores, e com isso também estamos combatendo a precarização do trabalho por meio da terceirização.” Ele se referiu ao fato de os bancos usarem comumente empresas de call center para vender produtos financeiros, um trabalho executado por pessoas que não são qualificadas para tal.

Outra preocupação da campanha é com o tempo de atendimento aos clientes. “O trabalhador tem que ter o tempo necessário para passar todas as informações pertinentes ao cliente. E a lógica nos bancos é fechar rapidamente um contrato para poder oferecer outro ao próximo cliente. Fui bancário e sei como é”, lembrou.
A campanha também reforça a importância da qualidade do produto oferecido. “Tem que servir às necessidades dos clientes. O que acontece é que bancários de diferentes estados, que trabalham com clientelas diversas, têm de cumprir as mesmas metas e vender as mesmas coisas.”

Interferência dos sindicatos – Para o diretor da UNI Finanças as entidades representantes dos trabalhadores devem discutir metas com os bancos. “Essa questão é polêmica, mas nós entendemos que os sindicatos podem e devem participar de toda e qualquer discussão que envolva os trabalhadores. Se existe um procedimento interno sobre como atender e assessorar os clientes, os sindicatos têm de discutir isso com os bancos.”

Remuneração variável – Monzane também defendeu a predominância da remuneração fixa sobre a variável, que costuma ser usada pelas empresas como um incentivo ao cumprimento de metas. “Estima-se que aproximadamente 50% dos salários dos trabalhadores no mundo já são provenientes de remuneração variável. Os sindicatos também devem discutir participação nos lucros com os bancos, já que isso é uma realidade, mas sempre se baseando nos princípios de que o peso da renda variável no bolso do trabalhador não deve ser maior que o do salário.”

Ações no mundo – A campanha da UNI Finanças já comemora algumas conquistas. Entre elas, citou, uma nova lei na Austrália que prevê regras sobre como criar e vender produtos financeiros e o fim das metas individuais. Segundo Monzane, a lei passa a vigorar ainda este ano e já teve repercussão na vizinha Nova Zelândia. “Os empresários neozelandeses convidaram o sindicato local para conversar sobre o assunto.” Outro exemplo é o acordo que está sendo construído no México e que impõe limites ao estabelecimento de metas no setor financeiro.

“O trabalhador está doente, mas o sistema financeiro também está, e pelos mesmos motivos: a luta incondicional pelo lucro. Uma coisa só vai se resolver com a outra e a UNI está à disposição dos sindicatos nessa luta”, afirmou.

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Andréa  Ponte Souza - 29/2/2012

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