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Mais de 60 mortos em roubos envolvendo bancos

Linha fina
Pesquisa revela que em 2014 assassinatos tiveram aumento de 34,7% em comparação a 2011, com São Paulo na dianteira dos casos; movimento sindical cobra atualização da lei e implantação de medidas de segurança por parte das instituições financeiras
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São Paulo – Em 2014 ao menos 66 pessoas foram assassinadas em assaltos envolvendo bancos, média de 5,5 vítimas fatais por mês. O número representa aumento de 1,5% em relação a 2013, quando foram registradas 65 mortes. Em comparação com 2011, os assassinatos em transações bancárias tiveram crescimento de 34,7%. São Paulo (20), Rio de Janeiro (8), Goiás (5), Minas Gerais (4), Paraná (4) e Pernambuco (4) foram os estados com o maior número de mortes.

O crime conhecido como “saidinha de banco” foi a principal ocorrência, tendo provocado 32 mortes, o que representa 48,5% do total. Em seguida, figurando 24,2% das mortes aparece o assalto a correspondentes bancários, que vitimou 16 pessoas. O transporte de valores é a terceira modalidade de crime que mais ceifou vidas: nove, ou 13,6%. O assalto a agências (10,6%) tirou a vida de sete pessoas. Houve também duas mortes em ataques a caixas eletrônicos.

Os dados foram revelados na pesquisa realizada pela Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT) e Confederação Nacional dos Vigilantes (CNTV), com base em notícias da imprensa e com apoio técnico do Dieese.

Os clientes foram mais uma vez as principais vítimas (36 mortos ou 54,5% do total), seguidos de vigilantes (10) e policiais (oito). Os demais assassinatos são de transeuntes, donos ou empregados de correspondentes bancários e vítimas de balas perdidas em tiroteios entre assaltantes de bancos e policiais.

A pesquisa também revela a faixa etária das vítimas, quase sempre identificada nas notícias da imprensa. As idades entre 31 a 40 anos e acima de 60 anos foram as mais visadas, com 14 mortes cada (21,2%), seguida pela idade de 41 a 50 anos, com 13 mortes (19,7%), e a idade até 30 anos, com nove mortes (13,6%).

Já o gênero das vítimas continua sendo liderado pelos homens (57), o que representa 86% dos casos. Também foram assassinadas nove mulheres (14%).

“Os números comprovam que os bancos têm pouco apreço pela vida humana, pois preferem gastar bilhões com marketing e publicidade ao invés de destinar recursos ao aperfeiçoamento de medidas de segurança que poderiam ter evitado muitas dessas mortes”, afirma o secretário Jurídico do Sindicato, Carlos Damarindo.

Descaso e desrespeito à lei – Segundo dados apurados pelo Dieese com base nos balanços publicados, os cinco maiores bancos (Itaú, BB, Bradesco, Caixa e Santander) apresentaram lucros de R$ 60,3 bilhões em 2014. Já as despesas com segurança e vigilância somaram R$ 3,7 bilhões, o que representa média de 6,1% em comparação com os lucros auferidos.

Além da escassez de investimentos, os bancos seguidamente desrespeitam a lei federal 7.102/83, que regulamenta a segurança para estabelecimentos financeiros e estabelece normas para as empresas particulares de vigilância e de transporte de valores.

No ano passado, a Polícia Federal aplicou multas contra 21 bancos, no total de R$ 19 milhões, durante as reuniões da Comissão Consultiva para Assuntos de Segurança Privada (Ccasp). Na avaliação do movimento sindical, a lei, que tem mais de 30 anos, está defasada diante do crescimento da violência e da criminalidade.

Medidas de segurança – O movimento sindical defende ações preventivas para enfrentar a “saidinha de banco”, como a instalação de biombos entre a fila de espera e os caixas, e de divisórias individualizadas entre os caixas, inclusive os eletrônicos, para garantir a privacidade nos saques e dessa forma neutralizar a ação dos olheiros. 

A instalação de biombos já virou lei em vários municípios, como João Pessoa, Belo Horizonte, Recife, Curitiba, Fortaleza e Belém. Também está prevista, junto com outras medidas, em projeto piloto conquistado pelos trabalhadores para a região do Recife (PE), de comprovada eficácia.

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Outra medida defendida por bancários e vigilantes é a isenção de tarifas de transferência de recursos (DOC, TED), como forma de reduzir a circulação de dinheiro na praça.

“Alternativas para reverter esse quadro existem, são muitas e os bancos conhecem. Só falta vontade por parte da Fenaban em adotá-las e iniciativa do poder público e das autoridades em obrigar sua implantação”, avalia Damarindo. “Enquanto as medidas de seguranças forem encaradas pelas instituições financeiras como gastos e não como investimentos, a vida humana continuará tendo pouco valor e seguiremos ouvindo todos os anos notícias sobre mortes que poderiam ter sido evitadas”, acrescenta o dirigente.

Carta - A Contraf-CUT e a CNTV protocolaram, na terça 24, uma carta no Ministério da Justiça solicitando audiência com o ministro José Eduardo Cardozo, "dentro da maior brevidade possível, para discutirmos as mortes de trabalhadores, clientes, policiais e outras pessoas em assaltos envolvendo bancos em todo o país".

"Queremos analisar com Vossa Excelência os dados da Pesquisa Nacional de Mortes em Assaltos envolvendo Bancos, referente ao ano de 2014, mostrando a ocorrência de 66 assassinatos no ano passado, um a mais que no ano anterior", apontam as entidades.

Elas acrescentam que tomaram "conhecimento, por meio da imprensa, de que nesta quarta-feira, dia 25, Vossa Excelência concederá audiência para o Secretário da Segurança Pública de São Paulo, Alexandre de Mores, para debater a proposta de alteração da legislação com o objetivo de proibir a fabricação de dinamite, visando enfrentar a onda de explosões de caixas eletrônicos", salientam. "Esperamos sermos também recebidos e podermos dialogar com Vossa Excelência, a fim de podermos apresentar as propostas dos vigilantes e bancários para combater as mortes em assaltos envolvendo bancos, que se repetem ano a ano sem que nenhuma força-tarefa seja montada para proteger a vida das pessoas e mudar essa triste realidade", concluem.

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Rodolfo Wrolli – 24/2/2015
(Atualizada às 14h de 25/2/2015)

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