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Rapidinha debate direitos reprodutivos da mulher

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Evento no Sindicato teve discussão sobre aspectos legais e de saúde pública da legalização do aborto
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São Paulo – O Sindicato foi palco mais uma vez de um debate de extrema relevância social: o direito de decidir da mulher sobre seu próprio corpo.  No terceiro módulo do ciclo Rapidinha no Sindicato, na sexta 19, palestrantes e bancários discutiram os aspectos jurídicos e sociais da legalização do aborto e como ele ainda é tratado como um tabu na sociedade.

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Para uma plateia cheia, falaram a doutora em ciências da religião, Regina Soares Jurkewickz, e a advogada especialista em diversidade, Amarilis Costa. O evento foi mediado pela diretora executiva do Sindicato, Maria Rosani (foto abaixo, ao centro).

Para a dirigente sindical, poder fazer um debate sobre um ‘tabu’ é importante, especialmente para levar a discussão para o âmbito social e da saúde pública. “Sabemos que as pessoas que têm dinheiro fazem abortos em clínicas privadas, e são as mulheres negras e pobres que sofrem mutilações e morrem em abortos clandestinos”, disse.

Legalização – A advogada Amarilis Costa palestrou sobre o PL 5069/2013, projeto de lei de autoria do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) que visa retirar direitos reprodutivos das mulheres, como o uso da pílula do dia seguinte e o aborto em caso de estupro. Para ela, o perfil conservador do Congresso impede avanços nesse importante assunto.

“É um debate complexo de se fazer no Brasil, porque a composição do nosso estado pode ser laica, mas a construção política não é. Por isso é que a laicidade busca afastar o pensamento religioso dos dispositivos da lei, e não é o que a gente consegue observar na fase atual”, explicou.

Segundo ela, a resistência ainda é grande na sociedade especialmente pelo modo como o assunto é abordado. “É sempre levado para um ponto de vista religioso, etéreo, não por análises legislativas. E o que a gente debate é a legalização jurídica da prática do aborto, e não a questão moral em relação à prática. A legalização não obrigará ninguém a fazê-lo, mas essa é uma premissa difícil de ser quebrada”, completou.

Clandestinidade – Regina Soares, que faz parte do grupo Católicas Pelo Direito de Decidir, disse que a sociedade precisa compreender que, gostando ou não da ideia, o número de abortos é grande, e que a mulher que não tem amparo legal para garantir seu direito, vai buscar métodos clandestinos.

E lembrou que o tema é importante para as mulheres, mas que toda a sociedade, inclusive os homens, deve ser abrangida. “Hoje o tema não é só de feministas, mas de profissionais da saúde, de operadores do direito e da sociedade em geral, incluindo os homens. Eles também são vítimas do machismo no sentido de que sem uma sociedade igualitária, ninguém passa bem. Ainda que o homem viva uma situação de privilégio, ele não pode ser inteiramente humano se não vive uma situação de igualdade com as mulheres”, finalizou.


William De Lucca – 19/2/2016
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