ATUALIZAÇÃO: A proposta de um canal de atendimento a bancárias vítimas de violência foi novamente apresentada à Fenaban, na mesa desta quarta-feira 19, e foi acatada pela entidade patronal. A Fenaban ficou de elaborar um acordo inicial para apresentar ao Comando Nacional dos Bancários nos próximos dias, para dar início a novas discussões entre as partes. A ideia é que o acordo seja firmado ainda no mês de março, em que se celebra o Dia Internacional da Mulher (8 de março), com data indicativa para assinatura em 11 de março.
A criação do canal de atendimento às bancárias vítimas de violência é uma proposta do Coletivo Nacional das Mulheres da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT) de enfrentamento à violência contra a mulher, que é uma das principais bandeiras de luta para o Dia Internacional da Mulher.
“As mulheres vítimas de violência doméstica já estão fragilizadas com a situação vivenciada em casa, não encontra nenhum tipo de acolhimento no seu local de trabalho, aonde passa o maior tempo”, afirmou Silmara Antonia da Silva, diretora do Sindicato dos Bancários de São Paulo.
A dirigente sindical se formou no curso de Administração em 2019 e escolheu Política de acolhimento de mulheres em situação de violência doméstica nas instituições financeiras, como tema do seu trabalho de conclusão de curso (TCC), por já ter atendido bancárias nesta situação. Ela foi a idealizadora da reivindicação, apresentada à Federação Nacional dos Bancos (Fenaban), em reunião da mesa de Igualdades de Oportunidade, realizada em abril do ano passado.
“A nossa expectativa é que a Fenaban possa dar continuidade nas discussões que já foram iniciadas na mesa de Igualdade de Oportunidades e tornar essa proposta uma realidade dentro dos bancos, o que será fundamental para dar a proteção e o respeito que precisam, além de manter o respeito no ambiente de trabalho”, salientou Elaine Cutis, secretária da Mulher da Contraf-CUT.Para Silmara, a estratégia de prevenção é mais necessária. “Um canal que possa olhar as trabalhadoras com mais atenção, pode iniciar um processo de mudança na empresa e contribuir para a redução dos números de violência e até feminicídio no país.”
A dirigente aponta que a ausência de uma política interna para lidar com o problema, vivenciado por muitas mulheres no Brasil, leva o gestor dos bancos ao imobilismo ou ao tratamento inadequado da situação. “A falta de compreensão dos fatos e de falta de orientação por parte da instituição contribui para a perpetuação de uma cultura de violência e punição da própria vítima do processo. É difícil para a mulher separar o que vivenciou da violência sofrida pelo seu companheiro, da sua relação do trabalho, o que acaba influenciando diretamente no rendimento no trabalho.”
A pesquisa de Silmara ainda sugere outras intervenções necessárias para contribuir e minimizar o sofrimento psíquico da mulher vítima de violência, como curso sobre violência doméstica para gestores e trabalhadores; liberação da funcionária sem penalidades e horários flexíveis, caso haja necessidade, devido as agressões recebidas; horários de trabalho flexíveis; alteração temporária das responsabilidades do trabalho; assistência jurídica; segurança pessoal e prioridade em estacionar próximo ao prédio e manter o sigilo.