Os trabalhadores e as trabalhadoras na Ford em Camaçari, região metropolitana de Salvador, na Bahia, voltaram à fábrica nesta terça-feira 23 quase dois meses após a montadora anunciar que sairia do país. A retomada à empresa para fabricação de peças de reposição para o mercado será por 90 dias, de acordo com a negociação feita entre o Sindicato dos Metalúrgicos da região.
Em Taubaté, interior de São Paulo, a categoria retomou a produção nesta segunda-feira 22, no mesmo dia que o Tribunal Regional do Trabalho (TRT) manteve uma liminar que proíbe a Ford de realizar demissões em massa, decisão da desembargadora Maria da Graça Bonança Barbosa, em resposta a um mandado de segurança da montadora.
O TRT também manteve outros pontos da decisão de primeira instância obtida pelo Ministério Público do Trabalho (MPT). Entre eles, a obrigatoriedade do pagamento dos salários e licenças até que as negociações com o sindicato sejam concluídas. A empresa segue proibida de apresentar propostas individuais aos trabalhadores e de praticar assédio moral ou negocial. A decisão vale para os trabalhadores na planta da Bahia quanto aos de São Paulo.
O Sindicato dos Metalúrgicos em Taubaté (Sindmetau) está fiscalizando a retomada da produção para garantir a segurança dos metalúrgicos. “Uma das questões que mais nos preocupava era a questão de segurança dos trabalhadores e trabalhadoras”, explica o coordenador sindical na Ford, Sinvaldo Cruz.
Também permanece vedada a venda de bens e maquinários da fábrica. Em caso de descumprimento, será aplicada multa de R$ 100 mil por trabalhador atingido ou por cada máquina ou bem removido da unidade de Taubaté.
A Ford buscava derrubar integralmente a decisão do último dia 5 de fevereiro da 2ª Vara do Trabalho de Taubaté, mas foi atendida em apenas dois pontos. A montadora está desobrigada de apresentar um cronograma de negociação coletiva. Além disso, a Justiça entendeu que a presença do MPT, neste momento, não é necessária nas negociações.
Retomada a produção
A Ford Taubaté retomou a produção com cerca de 130 funcionários. Até 330 trabalhadores devem ser convocados, de forma escalonada, ao longo desta semana.
A fábrica conta com 830 funcionários diretos. Quem não for convocado irá continuar em licença remunerada, com salários e benefícios garantidos.
Já em Camaçari, uma pequena parte dos 740 trabalhadores voltou ainda na segunda, mas a maioria só retorna nesta terça. Esse grupo abrange funcionários da montadora e prestadores de serviço. Outros 327 trabalhadores retornarão no próximo mês, 189 em abril e 31 funcionários serão convocados em maio.
O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos, Júlio Bonfim, explicou ao G1 que os 90 dias de produção será como uma "trégua" para que as partes possam chegar a uma nova negociação de indenização.
“A negociação foi dada para termos tempo para negociar. Existem alguns pontos que estão sendo colocados na negociação. Somente o acordo coletivo de quatro anos de estabilidade que nós temos. Existe também uma liminar de um inquérito feito pelo Ministério Público, que também foi emitida pela Justiça do Trabalho, que dá algumas prerrogativas de garantia e segurança aos trabalhadores", explicou
Outros problemas
Júlio também disse ao G1 que na Bahia existem cinco empresas satélites que prestavam serviços para Ford na região e que já desligaram todos os seus trabalhadores e a Ford não está se responsabilizando.
“Nós estamos tendo problemas com esses trabalhadores, para que também a Ford assuma a responsabilidade, a partir do momento em que foi ela quem encerrou as atividades de trabalho, para que também esses trabalhadores que foram desligados possam entrar nessa discussão de indenização”.
Próximos passos
Representantes do Sindmetau e da diretoria mundial da Ford devem se reunir até a próxima quinta-feira 25. É a primeira vez que a montadora aceita colocar executivos globais da empresa na mesa de negociação.
O objetivo prioritário do Sindicato é tentar reverter a saída da montadora do país. “É óbvio que a gente sabe que é muito difícil. Mas essa foi uma decisão unilateral que a Ford tomou, sem dar ao menos a oportunidade para que pudéssemos criar algumas alternativas, que permitissem a Ford permanecer na cidade de Taubaté”, lembra Sinvaldo.