O Brasil é o primeiro país do mundo a disponibilizar a vacina contra dengue no sistema pública de saúde. A Qdenga, fabricada pela farmacêutica Takeda, foi incorporada pelo SUS no final de dezembro e começará a ser aplicada neste mês de fevereiro. Nos laboratórios particulares, o preço da vacina varia entre R$ 400,00 a R$ 490,00.
Foram entregues 757 mil doses e o público alvo inicial será crianças entre 10 e 14 anos, que são os maiores casos de hospitalização, segundo o Ministério da Saúde. A pasta informou ainda que cronograma de distribuição e a quantidade de doses para cada região serão divulgados em breve, e que a vacinação se dará de forma progressiva.
A Anvisa autorizou o uso da Qdenga para a faixa etária de 4 a 60 anos, mas não deve ser usada por gestantes, lactantes, pessoas alérgicas a algum de seus componentes ou com problemas no sistema imunológico. Ela deve ser aplicada em duas doses, com intervalo de três meses entre as aplicações. Testes em oito países mostraram que ela tem eficácia de 80% e que reduziu as hospitalizações em 90%.
Prioridade total do governo
O Brasil está na quinta semana epidemiológica com 49.234 casos prováveis da doença, segundo dados do Ministério da Saúde, e deve superar o pico de casos ocorrido em março de 2023, já neste mês de fevereiro. Especialistas apontam o calor recorde deste verão e as fortes chuvas como o principal fator de aumento dos focos do mosquito.
O Ministério da Saúde montou uma operação de emergência contra a dengue. Em vídeo divulgado na terça-feira 6, a ministra Nísia Trindade disse que o combate à dengue é prioridade total do governo. Ela anunciou algumas das principais ações da pasta e convocou prefeitos, governadores para uma força-tarefa e a população em geral para que dobre os cuidados com objetos que podem acumular água, já que 75% dos focos do mosquito estão dentro de casa.
“O Ministério da Saúde está dando total prioridade a essa ação. Ampliamos em R$ 1,5 bilhão os repasses a estados e municípios”, informou a ministra da Saúde. Além disso, “um centro de operações de emergência foi montado para analisar diariamente a evolução dos casos e mobilizar as ações de todos os órgãos envolvidos”, acrescentou.
Mudança climática e dengue
A médica e pesquisadora da Fundacentro Maria Maeno observa que a dengue é um problema de saúde pública no Brasil desde 1982, quando a primeira epidemia foi documentada, mas as mudanças climáticas têm agravado o problema. “As mudanças climáticas, com aumento das chuvas e da temperatura, têm colaborado para que a dengue se alastre para regiões onde não havia a doença.”
Ouvido pelo UOL, o infectologista do Hospital das Clínicas de São Paulo Evaldo Stanislau Affonso de Araújo também destacou que a elevação das temperaturas no planeta propicia a reprodução do Aedes Aegypti. “A mudança climática criou ambientes mais propícios à proliferação do mosquito, tornando populações até então menos expostas mais suscetíveis à exposição. O aquecimento global vai levar ao aumento de casos não só no Brasil, como no sul dos EUA e em países da Europa.”, disse ele.
Nova postura
Outro especialista ouvido pelo UOL, o professor e médico infectologista da Unesp e coordenador científico da Sociedade Brasileira de Infectologia, Alexandre Barbosa, destacou a transparência com que o governo federal tem tratado o problema. Ele ressalta que os dados têm sido divulgados de forma rotineira e atualizada. "Não havia esse tipo de informação. É salutar ter transparência, ainda que não sejam dados a se comemorar", disse.
A pesquisadora da Fundacentro também destaca a mudança de postura do atual governo diante do problema.
“Para nós, profissionais da saúde, é um alívio ver que a ciência e os estudos voltaram a fundamentar decisões no país, diferentemente do que tivemos em passado recente, quando o governo federal não dialogava com os estados e municípios e propagava notícias falsas, desorientando a população brasileira.”
Maria Maeno, médica e pesquisadora da Fundacentro