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Chapéu
28 DE FEVEREIRO

Dia de Combate às LER/DORT: SP Bancários chama a atenção para a incidência na categoria

Imagem Destaque
Imagem com ilustração de uma trabalhadora com lesão por esforço repetitivo

Quando os devidos cuidados não são tomados, o trabalho pode se tornar um agente de adoecimento. Entre as ocorrências mais comuns nesse sentido estão as Lesões por Esforços Repetitivos (LER) e os Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (DORT). Visando combater e prevenir esses graves problemas de saúde relacionados ao trabalho, a OIT (Organização Internacional do Trabalho) definiu a data de 28 de fevereiro como Dia Mundial de Combate às LER/DORT.

O SP Bancários trata a questão das LER/DORT com muita atenção, pois ainda são um problema recorrente na categoria, apesar do adoecimento psicológico ocupar cada vez mais espaço nas estatísticas. Em 2022, 21,1% de todos os acidentes de trabalho sofridos por bancários e reconhecidos pelo INSS foram relacionados com doenças osteomuscular e do tecido conjuntivo, bem como 14,5% relacionados aos transtornos nervosos. Ou seja, cerca de 35% de todos os acidentes de trabalho bancário no Brasil ainda estão relacionados às LER/DORT. As informações são do Observatório de Saúde do Trabalhador, do Ministério Público do Trabalho, com dados do INSS.

"O sindicato promove campanhas de divulgação e prevenção, além de negociações com os bancos exigindo ergonomia nos locais de trabalho. Temos uma secretaria de saúde que orienta e auxilia os bancários nos afastamentos por problemas de saúde. Também cobramos responsabilidade dos bancos através de órgãos públicos para o reconhecimento da doença relacionada ao trabalho."

Valeska Pincovai, secretária de saúde e condições de trabalho do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região

Causa e tratamento

A redação do SP Bancários conversou com Thais Helena Barreira, ergonomista e pesquisadora da Fundacentro (Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina do Trabalho), instituição de pesquisa vinculada ao Ministério do Trabalho e Emprego. Thais explica que as LER/DORT surgem quando o nível de exigência motora das tarefas é elevado ou prolongado no tempo. Essa exigência motora elevada pode ser ocasionada pelas cargas de peso que são manuseadas, a interseção de ângulos das articulações, o ciclo de tempo em que o movimento é repetido e as posturas exigidas.

"É comum que as pessoas não prestem atenção aos primeiros sinais de cansaço, de incômodos nos braços, nas mãos, no pescoço, nas costas... Enfim, importante saber que quanto mais cedo a pessoa perceber que está sentindo dor e incômodos regularmente, melhor e mais rápido será sua recuperação. Cabe buscar um médico de confiança, explicar o trabalho que faz, como faz, e seguir as recomendações de tratamento", orienta Thais Helena Barreira.

Traçando uma referência histórica, a ergonomista explica que, no Brasil, como em diversas partes do mundo, os processos de reestruturação produtiva e de digitalização de tarefas resultou na exigência de tarefas de entrada de dados para o processamento digital dos mesmos, o que ocorreu predominantemente no setor bancário. Na indústria, de forma a aumentar a produtividade de linhas de produção, tarefas manuais repetitivas, de curtíssimos ciclos de tempo de até 30 segundos, eram exigidas em ritmo intenso de trabalho e por jornadas completas e, por vezes, ampliadas por horas-extra.

"A tarefa de digitalização intensiva e a repetitividade dos esforços físico-motores para a realização da atividade de trabalho foi o que gerou, na época, diversas regulamentações internacionais para prevenir as Lesões por Esforços Repetitivos (LER), como foi o caso da revisão da Norma Regulamentadora 17 (NR17), de 1990. Porém, como outras formas de adoecimento do sistema músculo-esquelético existiam e não podiam ser explicados por repetitividade excessiva e rápida dos movimentos, como as afecções em ombros, coluna cervical e lombar, decidiu-se incluir o termo DORT (Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho) ao já reconhecido termo das LER."

Thais Helena Barreira, ergonomista e pesquisadora da Fundacentro

Problema ainda maior para as mulheres

A secretária de saúde e condições de trabalho do SP Bancários, Valeska Pincovai, relata um cenário ainda mais difícil para as mulheres atingidas pelas LER/DORT. A dirigente afirma que a perícia do INSS e os próprios empregadores costumam relacionar as lesões ao trabalho doméstico desempenhado pelas mulheres, buscando desvincular as LER/DORT da ocupação laboral. Apesar das dificuldades na busca pelo afastamento e cuidado médico, impostas pelo machismo, Valeska orienta as trabalhadoras a seguirem reivindicando seus direitos.

"Sempre que sentir dor ou desconforto, procure um médico, se afaste do local de trabalho, exija sempre os equipamentos adequados para trabalhar sem lesões. Se você deixar passar, tudo isso vai acarretar em prejuízos lá na frente, como tantas pessoas que ficam incapacitadas para o trabalho. Não deixe chegar no último momento, procure orientação, procure o sindicato", enfatiza Valeska.

Valeska Pincovai, secretária de saúde do SP Bancários
Valeska Pincovai, secretária de saúde e condições de trabalho do SP Bancários

NTEP

O SP Bancários, o movimento sindical e pesquisadores da área lutaram muito pela inclusão das LER/DORT no Nexo Técnico Epidemiológico Previdenciário (NTEP). O NTEP é uma metodologia do INSS que visa identificar quais doenças e acidentes estão relacionados com a prática de uma determinada atividade profissional. Essa inclusão foi muito importante porque evita que casos de LER/DORT sejam mascarados e possibilita uma real dimensão do número de casos registrados.

"O NTEP trouxe evidências de que a alta incidência de uma mesma forma de adoecimento, como aconteceu com as LER/DORT, na verdade, tratava-se de transtornos relacionados ao trabalho. Por vezes, as empresas buscam camuflar estes casos, remédios como analgésicos e anti-inflamatórios também vão mascarando o adoecimento que vai se tornando um problema crônico que é mais difícil de ser debelado", analisa a ergonomista Thais Helena Barreira.

Uma luta coletiva

Juntamente com o trabalho sindical na fiscalização e negociação por condições de trabalho cada vez mais saudáveis, os profissionais brasileiros contam com uma rede de apoio na área de saúde laboral. Entidades como as CIPAs (Comissão Interna de Prevenção de Acidentes e de Assédio), os CRSTs (Centros de Referência em Saúde do Trabalhador), o Ministério Público do Trabalho, o Ministério do Trabalho e Emprego e a já citada Fundacentro atuam em conjunto na fiscalização, prevenção e elaboração de políticas públicas voltadas para a saúde do trabalhador e da trabalhadora.

Em conversa com a redação do SP Bancários, Pedro Tourinho, presidente da Fundacentro e médico especializado em medicina preventiva e social, destacou a atuação do Governo Federal junto a diversos atores da sociedade no campo da saúde laboral. Tourinho informou que a Conferência Nacional de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora foi convocada pelo Conselho Nacional de Saúde para 2025. Até lá, ao longo deste ano, ocorrerão conferências livres em diferentes regiões e macrorregiões. Nesses encontros, movimentos sociais, sindicalistas e a sociedade civil organizada poderão avaliar o que tem sido feito até o momento e traçar linhas prioritárias.

"A mensagem que deixo aos bancários, na essência, é a que o Presidente Lula tem dado aos brasileiros e às brasileiras: nenhum governo constrói sozinho um país melhor. Assim, os acidentes e doenças relacionadas ao trabalho, em particular as LER/DORT e os transtornos psíquicos, serão prevenidos à medida em que os interesses econômicos estejam submetidos ao bem-estar coletivo, como reza a nossa Constituição Federal. Para que isso aconteça, é preciso um processo de construção do qual todos participem ativamente, não só em momentos eleitorais, mas no cotidiano, em suas cidades e em seus estados."

Pedro Tourinho, presidente da Fundacentro e médico especializado em medicina preventiva e social

Roda de conversa debate LER/DORT na Fundacentro

"Onde estávamos quando as LER/DORT eclodiam pelo país e o que aprendemos com a luta dos/as trabalhadores/as?”. Essa questão estará em pauta no evento “LER/DORT: ontem e hoje. O que apreendemos e o que fazer?”, que será realizado em 29 de fevereiro, das 9h às 12h45, no prédio da Fundacentro, em São Paulo/SP, localizado à rua Capote Valente, 710. Para participar, não é necessário se inscrever. O SP Bancários acompanhará a atividade, que também contará com transmissão pelo canal da instituição no YouTube.

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