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Relação compartilhada começa dentro do lar

Linha fina
Professora Paula Loureiro defende início de mudança na esfera íntima, depois, em toda a sociedade, com apoio de sindicatos
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São Paulo – Com o objetivo de debater com bancários e com a sociedade a responsabilidade pelas tarefas domésticas e a educação dos filhos, o Sindicato lançou a cartilha Para um mundo melhor, relações compartilhadas e promoveu um seminário sobre o papel da mulher na sociedade. O evento marcou a semana de comemorações pelo Dia Internacional da Mulher (8 de março).

> Leia a íntegra da cartilha
> Seminário lança cartilha sobre relações compartilhadas

A professora Paula Loureiro, especialista sobre o tema, comandou o seminário no qual falou sobre a opressão das mulheres, a importância do campo do Direito defender a sociedade em vez do capital e fez análises relacionando a luta por igualdade de oportunidade com os pensamentos de Alexandra Kollontai, uma das primeiras mulheres feministas marxistas da história, tema de seu no curso de Direito Político e Econômico pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Confira abaixo a entrevista com a professora.

Como você compara os pensamentos de Kollontai com o movimento sindical atual no Brasil?
Alexandra Kollontai foi uma mulher muito avançada para sua época. Durante o período em que atuou como Comissária do Povo, no governo de Lenin, Kollontai conscientizou-se da importância dos sindicatos na transformação da sociedade. Ela batalhou em favor da transferência da gestão econômica para a massa operária e o que poderia ser levado a efeito por intermédio dos sindicatos. A importância dos sindicatos na luta por um mundo mais igualitário é indiscutível, na medida em que têm o poder de chegar aonde o Direito não chega. Por serem órgãos que atuam ao lado do trabalhador, os sindicatos têm consciência da dura realidade enfrentada pela massa operária, que passa despercebida do Poder Legislativo.  

Como você avalia a atuação das mulheres na luta pela igualdade de gêneros no Brasil?
A força e o apoio da população são fundamentais para a conquista de direitos que minimizem a desigualdade existente no panorama social brasileiro. Grande parte da população feminina permanece indiferente à sua própria condição; muitas vezes as mulheres nem sequer têm consciência de que merecem uma vida mais digna, e, pior, sequer imaginam a força que possuem para lutar em prol da igualdade. Isto se dá, principalmente, em razão da forma como são criadas e educadas em nossa sociedade. O papel dos sindicatos é de vital importância para conscientização e esclarecimento não só das mulheres, mas também dos homens, que ainda seguem o modelo patriarcal e autoritário.

Qual a sua opinião sobre a suspensão do projeto de lei que punirá salários menores para mulheres?
É fato notório que o Direito, como parte integrante da superestrutura capitalista, é moldado prioritariamente de acordo com interesses econômicos. Nesse contexto, alterações legislativas que tenham por escopo minimizar a desigualdade experimentada no plano concreto, material, são difíceis de serem aprovadas, pois acarretam efeitos contrários a interesses econômicos. Penso que, embora tenhamos consciência da insuficiência do direito para propiciar igualdade material, real e efetiva, nós devemos insistir, sim, na luta voltada à conquista de alterações legislativas que possam minimizar situações de opressão. Toda conquista no campo jurídico deve ser motivo de orgulho, mas sem perder de vista que somente alterações legislativas não são suficientes. Nossa luta também é contra a moral individualista e os costumes.

De que forma podemos avançar no tema relações compartilhadas na sociedade?  
Devemos ter como horizonte de nossas batalhas, a implementação das relações compartilhadas, não só entre homem e mulher, mas sim e com maior importância entre toda a comunidade. É certo que, num primeiro momento, devemos começar a combater a moral individualista e patriarcal em nossas esferas mais íntimas, o que deve ser feito estabelecendo as relações compartilhadas dentro do lar. Isto já constitui, por si só, um grande desafio. Num segundo momento, devemos caminhar no sentido de ampliar o âmbito das relações compartilhadas para toda a sociedade. Significa dar um passo após o outro, para evitar tropeços. Quando a sociedade houver internalizado a importância das relações compartilhadas, será o momento de batalhar pela ampliação dessas relações. Comecemos, pois, promovendo as mudanças no mundo real, pois sabemos das dificuldades de se aguardar alterações no campo jurídico legislativo.

De que forma o bancário que recebe a cartilha do Sindicato pode mudar e disseminar esse comportamento para família e amigos?
Essa cartilha é ferramenta capaz de propiciar as transformações que almejamos, pois leva esclarecimento em esferas que o Direito não consegue penetrar. Infelizmente, o Direito não consegue se sobrepor aos preceitos da moral individualista. A cartilha, ao contrário, tem o poder de adentrar nessas esferas, e levar o esclarecimento necessário para o combate de toda forma de preconceito. Além disso, sabemos que pensar em relações compartilhadas entre homens e mulheres significa atacar a raiz do problema, pois, sendo os gêneros formados a partir da divisão de tarefas, somente a superação dessa divisão poderá contribuir com a eliminação das diferenças de gênero.


Gisele Coutinho – 12/3/2012

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