São Paulo - Um policial militar, de posse de uma prancheta, entra numa agência bancária. Pouco tempo depois, sai, entra na viatura que o aguarda na porta e segue para outra agência. Essa atividade tem ocupado boa parte do dia dos policiais militares de São Paulo, incumbidos, de acordo com um convênio firmado entre a PM e a federação dos bancos (Febraban), de visitar cerca de sete unidades bancárias por dia na cidade de São Paulo. Em bairros de classe alta, esse número pode chegar a 15.
Na prancheta está a papeleta onde os soldados recolhem as assinaturas dos gerentes que comprovam as agências visitadas. A “operação” é chamada de “saque seguro”.
“Essa segurança, no entanto, é questionável”, afirma Daniel Reis, diretor executivo do Sindicato, que participa das reuniões da comissão consultiva da Polícia Federal, que trata de assuntos de segurança privada, a Ccasp. “Em reportagens veiculadas pela imprensa, até os PMs afirmam que a visita, além de ineficiente é um risco, já que o bandido pode perceber que aquela agência já foi visitada, ou seja, passa a estar exposta”, ressalta o dirigente. “Vale lembrar que a capital tem cerca de 3 mil agências. Há PMs para tanto? Na verdade, essa parceria proporciona a bancários e clientes uma falsa sensação de segurança e deixa claro o quanto estão vulneráveis para achar que algo assim pode ser positivo.”
Dívida – Estudo feito pela subseção do Dieese da Contraf-CUT, com base nos balanços dos cinco maiores bancos do país (Banco do Brasil, Itaú Unibanco, Bradesco, Santander e Caixa Econômica Federal) de janeiro a setembro de 2011, mostra que essas instituições investem somente R$ 1,9 bilhão em despesas com segurança e vigilância, enquanto o lucro no período bateu a casa dos R$ 37,9 bilhões.
E o pior, enquanto os crimes aumentam – subiram mais de 6% na cidade de São Paulo no período – os bancos economizam com a vida de clientes e funcionários: comparado a 2010, constata-se uma queda de 5,45% para 5,20% na relação entre o lucro e os gastos com segurança.
Privatização – O Ministério Público Estadual instaurou inquérito civil para descobrir se há improbidade administrativa no fato de a Polícia Militar de São Paulo ter criado esse serviço especial. O inquérito aberto na quinta-feira 8, pela Promotoria de Justiça do Patrimônio Público e Social, vai convocar o comandante-geral da PM, coronel Álvaro Batista Camilo, representantes da Febraban, e o secretário de Segurança Pública, Antonio Ferreira Pinto, para prestar esclarecimentos.
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“Desde que essa parceria entre PM e bancos foi anunciada, em maio de 2011, o Sindicato cobra que as agências tenham segurança por 24 horas e portas em todas as agências”, lembra a presidenta da entidade, Juvandia Moreira.
Legislação – Além de mais investimento em segurança, com profissionais especializados, o Sindicato cobra dos bancos isenção das tarifas para transferências de recursos (DOC, TED, ordens de pagamento etc), de forma a desestimular os saques de grandes quantias; instalação de vidros blindados nas fachadas; instalação de porta de segurança antes do autoatendimento; câmeras em todos os espaços de circulação de clientes; biombos ou tapumes entre a fila de espera e a bateria de caixas e de divisórias entre os caixas, garantindo a privacidade das operações efetuadas.
Essas demandas estão sendo debatidas por representantes dos bancários, dos vigilantes e da Polícia Federal, com o secretário de Assuntos Legislativos do Ministério da Justiça, Marivaldo Pereira, na formulação do novo estatuto da segurança privada. “Queremos acrescentar pontos que visem à proteção da vida de bancários, clientes e vigilantes, que deve vir antes da do patrimônio”, ressalta Daniel Reis, representante do Sindicato nesses encontros.
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Sem portas, com risco - O Sindicato enviou carta ao presidente da Câmara Municipal de Vereadores de São Paulo, José Police Neto, solicitando audiência para tratar da retirada das portas de segurança por alguns bancos. De acordo com a própria Febraban, o índice de roubo a banco em 2011 cresceu 14% em todo país em relação a 2010. Na cidade de São Paulo o aumento foi de 20%.
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Redação - 12/3/2012