São Paulo – O CineB, projeto que leva cinema brasileiro a bairros mais afastados de São Paulo, completou 10 anos em 2017 com um balanço extremamente positivo. Segundo levantamento dos organizadores, cerca de 90% do público das sessões é feminino.
Desde a estreia, diretoras, roteiristas e atrizes se juntaram a moradoras das localidades por onde a tela do projeto passou. Além da exibição de filmes, intensos debates sobre o audiovisual nacional.
A atriz Bruna Oliveira (ao centro, na foto ao lado), por exemplo, participou da exibição do filme Tudo que Aprendemos Juntos, em Paraisópolis, seguida de debate.
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“Pude perceber muito mais mulheres que homens na plateia. Havia muitas donas de casa e mães com filhos, por exemplo, mas dificilmente vemos homens. Tem a questão do interesse, de levar os filhos para uma opção de lazer, e também do horário, já que muitos homens estão trabalhando nesse horário e muitas dessas mulheres trabalham em casa”, comentou.
Para Izabel Graciana, presidente da Associação de Moradores e Amigos da Água Funda, a maior participação feminina entre o público do CineB acontece por conta de uma série de fatores, culturais e sociais.
“A cultura parece demorar mais para chegar à figura masculina, que é mais ligada ao esporte. Isso é incutido na cabeça dos rapazes, que cultura é ‘coisa de mulher’. Mas também é bem possível que esse grande percentual de mulheres nas sessões do CineB também seja um reflexo do aumento do número de mulheres fazendo cinema. Então é preciso investir mais nesse ponto mesmo”, defendeu.
Desigualdade – A participação feminina no cinema brasileiro vem crescendo nos últimos anos, mesmo que de forma tímida. Vivian Szelpal, assistente geral de produção do CineB, conta que o percentual de filmes feitos por diretoras subiu de 14,7% em 2017 para 20,3% em 2016. Em 2017, foram 29 os filmes dirigidos por mulheres. Para a produtora, este número ainda pode melhorar.
“O combate à discriminação implica na recriação da imagem da mulher na sociedade. Desta forma, acredita-se que a entrada da mulher neste campo [do audiovisual] pode contribuir para a construção de uma nova imagem da mulher, ou melhor, da imagem de uma nova mulher”, defendeu.
Histórico – O CineB foi lançado no dia 21 de maio de 2007, no Café dos Bancários. O projeto de cidadania foi idealizado pelo Sindicato em parceria com a Brazucah Produções com o objetivo de levar cinema brasileiro de qualidade para localidades que não têm acesso às salas comerciais. Na estreia, foram exibidos gratuitamente quatro curtas-metragens. Desde então, o projeto se espalhou por vários cantos de São Paulo e região, com exibições em bairros como Itaquera, Grajaú e Jaguaré. As sessões ocorrem em associações de moradores, escolas e igrejas – o que também contribui para a maior participação feminina.
“As entidades e escolas que solicitam as sessões são, na maioria, dirigidas justamente por mulheres”, afirma Vivian.
Profissionais do cinema nacional também participaram de várias edições, de debates após os filmes e respondendo perguntas dos espectadores. Já passaram pelo CineB, por exemplo, nomes como Bruna Lombard, Rita Cadillac, Anna Muylaert, Tatá Amaral, Cecilia Engels e outras.
“O CineB é uma experiência bastante interessante. Jovens da periferia quase não têm acesso ao cinema brasileiro. Quando a gente fala sobre isso, soa como uma coisa antiga, da década de 60 ou 70. E o CineB vem para a periferia trazendo isso, divulgando essas produções e promovendo debate sobre aspectos técnicos e sociais”, afirmou Izabel Graciana, lembrando a sessão na Água Funda.