O Brasil é o quinto país com maior número de mortes violentas de mulheres no mundo. Entre 1980 e 2013, 106 mil mulheres foram assassinadas no Brasil, segundo o Mapa da Violência 2015. Apenas em 2018, 364 mulheres foram vítimas de feminicídio. O Brasil também lidera o ranking mundial de assassinatos de transexuais e travestis no mundo, segundo a ONG europeia Transgender Europe (TGEu). Diante dessa realidade, o Comando Nacional dos Bancários propôs à Federação Nacional dos Bancos (Fenaban) a mudança do caráter do Censo da Diversidade Bancária.
“O objetivo é que o censo não apenas trace um perfil da categoria, mas seja aplicado como um instrumento de transformação contra a violência e a discriminação que se perpetuam na sociedade e também muitas vezes são constatadas no setor bancário na forma de assédio sexual e moral”, explicou a presidenta do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região, Ivone Silva, que é uma das coordenadoras do Comando Nacional dos Bancários.
Agente da Diversidade
A Fenaban também aceitou a proposta da criação do Agente da Diversidade, que será constituído por um representante em cada local de trabalho responsável por promover os debates sobre diversidade.
“Os bancários e o setor financeiro não vivem em uma bolha. Estão inseridos em uma sociedade na qual a intolerância, a discriminação e a violência crescem em ritmos alarmantes, e a mudança do caráter no censo e o Agente da Diversidade podem contribuir para combater esse cenário por meio da capacitação e conscientização da categoria no sentido de tornar os trabalhadores do setor propagadores da diversidade, respeito e igualdade na sociedade, e também nos locais de trabalho”, acrescenta Ivone.
A Fenaban apresentará um cronograma de atividades para sua implantação na próxima reunião da mesa de igualdade de oportunidades, que está prevista para acontecer no dia 10 de abril.
Canal de assistência às bancárias vítimas de violência
O Comando Nacional dos Bancários também propôs à Fenaban a criação de um canal de atendimento às bancárias vítimas de violência, doméstica ou social, a exemplo do Magazine Luiza, que já dispõe deste serviço às suas funcionárias
Pela proposta, cada banco deverá desenvolver um canal qualificado para atendimento de mulheres vítimas de violência e encaminhar para as áreas envolvidas:
- Acolhimento de denúncias
- Assistência psicológica
- Assistência financeira
- Assistência jurídica
- Transferência da trabalhadora para proteção da vítima (se for o caso)
- Acompanhamento de resultados
“O setor financeiro é o mais lucrativo da sociedade e tem responsabilidade pelo bem estar das suas trabalhadoras, já que elas contribuem para a obtenção dos resultados expressivos do setor, que tem plenas condições de implantar esses canais”, afirma Ivone.
Cartilha sobre diversidade
O Comando Nacional dos Bancários sugeriu ainda a criação e distribuição para toda a categoria de uma cartilha sobre diversidade com conteúdo elaborado pela Organização das Nações Unidas e a Organização Internacional do Trabalho sobre o tema.
A Fenaban aceitou a proposta e se comprometeu a analisar a implantação do canal de assistência às bancárias. Os temas voltarão a ser discutidos na próxima reunião da mesa de igualdade de oportunidades.
Desigualdade salarial
Durante a reunião, foram apresentados dados que reforçam que a desigualdade de gênero no setor bancário não só persiste como é ainda maior do que em relação à sociedade brasileira em geral.
Em 2012, no mercado de trabalho geral as mulheres ganhavam, em média, R$ 1.901,10, e os homens R$ 2.481,40. Diferença de 23,39%. Em 2018, as mulheres passaram a ganhar R$ 2.050,90 e os homens R$ 2.579,50. Diferença de 20,49%. Nesse ritmo, levará 42 anos para que as mulheres ganhem o mesmo que os homens.
No setor bancário, a desigualdade é ainda maior. Em 2012, as mulheres ganhavam, em média R$ 6.111,67 e os homens R$ 8.038,11. Diferença de 24%. Em 2018, as mulheres passaram a ganhar R$ 6.958,44 e os homens R$ 8.952,95, em média. Diferença de 22,3%. Se o mesmo ritmo for mantido, levará 66 anos para que as mulheres bancárias ganhem o mesmo do que os homens no setor.
Assédio sexual
Além da desigualdade salarial, o assédio sexual foi outro tema explicitado na mesa de negociação com a Fenaban. Foi reforçado que muitas trabalhadoras bancárias são vítimas deste crime praticado tanto por clientes como por colegas de trabalho e superiores. E na maioria das vezes os gestores não estão preparados para lidar com a situação, o que acaba resultando na culpabilização da vítima.
“O combate ao assédio sexual e a violência doméstica é uma urgência que trará ganhos para todos, trabalhadores e empregadores, já que as trabalhadoras seguras e amparadas produzem mais e faltam menos ao trabalho”, ressaltou Juvandia Moreira, presidenta da Contraf-CUT, citando como exemplo uma pesquisa que apontou que as mulheres vitimas de violência faltaram em média 18 dias por ano no trabalho no estado de Pernambuco.