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Chapéu
Negociação

Igualdade de Oportunidade: bancárias avaliam resultados da mesa e cobram avanços na paridade salarial

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Foto da mesa de igualdade de oportunidades

O Comando Nacional dos Bancários e a Federação Nacional dos Bancos (Fenaban) reuniram-se na tarde desta segunda-feira 31 para os debates da Mesa de Igualdade de Oportunidades, que faz parte do calendário de negociações permanente. Foi a primeira mesa sobre o tema deste ano.

Entre os pontos discutidos no encontro, marcado para concluir as atividades do Mês da Mulher, estão as ações dos bancos para reduzir a desigualdade salarial e de ascensão entre homens e mulheres; o programa “Mais Mulheres na TI” (resultado da Campanha do ano passado) e dados de atendimento dos canais de combate à violência de gênero dos bancos.

“Foi uma reunião produtiva, nós conseguimos ver os números dos programas de valorização da diversidade, do relatório de igualdade salarial, que é uma política pública nacional que o setor bancário tem apoiado. E é muito importante para nós discutir como que os bancos vão criar planos de ação para efetivamente diminuir a desigualdade salarial entre homens e mulheres, como vão criar mais possibilidades de ascensão na carreira para as bancárias, de como colocar mais mulheres na área de TI... Reforçamos aqui nosso compromisso de trabalhar para efetivamente mudar os números do setor, cobrando dos bancos as políticas afirmativas”, destacou a presidenta do Sindicato e coordenadora do Comando dos Bancário, Neiva Ribeiro.

“Essa mesa tem uma responsabilidade muito grande, são 23 anos de luta. Estivemos recentemente com a ministra das Mulheres, Cida Gonçalves, durante o lançamento do programa Mulheres na TI, em que destacou uma declaração do secretário-geral da ONU dizendo que a igualdade entre homens e mulheres vai demorar 300 anos para se concretizar. Não temos esse tempo, queremos que a igualdade de salários e oportunidades aconteça nesta geração. Queremos ações concretas. O setor bancário tem condições financeiras, assessoria, estrutura e queremos sair daqui com números e dados concretos, ações afirmativas para construir um novo modelo de inclusão na sociedade”, acrescentou Neiva.

“A reunião foi importante para avaliar o resultado do que conquistamos em negociamos no ano passado: muitas mulheres foram beneficiadas pelos canais de atendimento contra violência – 1.106. Em relação à formação de mulheres na TI, temos mais de 1.000 inscritas, isto na primeira fase. E estamos recolocando o debate de igualdade salarial, de oportunidade e acessão profissional nos bancos”, destacou Juvandia Moreira, presidenta da Contraf-CUT e também coordenadora do Comando.

Neiva Ribeiro e Juvandia Moreira, as coordenadoras do Comando dos Bancários

Igualdade salarial

Nos bancos, as mulheres recebem, em média, 19% menos que os colegas homens. No recorte racial, o cenário é ainda pior: as bancárias negras tem remuneração 34,5% inferior à remuneração média do bancário branco do sexo masculino.

A categoria conquistou na última renovação da Convenção Coletiva de Trabalho (CCT), fruto da Campanha Nacional dos Bancários 2024, o compromisso dos bancos de alcançar a paridade de remuneração entre homens e mulheres. A proposta é que as empresas acelerem o cumprimento da Lei de Igualdade Salarial, em vigência no país desde 2023.

Com base em dados da Relação Anual de Informações Sociais (Rais) dos últimos 10 anos, o Dieese estima que a categoria bancária poderá alcançar a paridade salarial apenas em 46 anos. “Por isso que a Lei de Igualdade Salarial é fundamental, mas para que o seu cumprimento seja efetivo existem medidas que nós defendemos, como a forma em que os dados são divulgados e organizados pelos bancos”, explica Juvandia Moreira.

A lei prevê que estabelecimentos com mais de 100 funcionários devem enviar, periodicamente, ao Ministério do Trabalho e Emprego, informações para o relatório anual de transparência e que vem sendo utilizado para programar as políticas de igualdade de gênero. “Exigimos que os bancos divulguem os dados por empresa e não somente por estabelecimento (CNPJ), isso porque cada banco tem vários CNPJs, dificultando o entendimento do cenário real para alcançar a igualdade plena”, acrescenta.

A título de comparação, o Fórum Econômico Mundial aponta que a equidade salarial de gênero levará 131 anos para ser atingida, isso considerando a realidade global.

Neiva Ribeiro em debate da mesa de Igualdade de Oportunidades (foto: Willy Roberto)

“Apesar de o quadro da categoria bancária estar muito aquém da igualdade que defendemos, é graças aos 23 anos da mesa de Igualdade de Oportunidade que avançamos. Mas precisamos seguir com ações concretas e afirmativas”, refletiu a presidenta do Sindicato e coordenadora do Comando Nacional, Neiva Ribeiro.

Ficou acordada a realização de um novo encontro, em abril, com os RHs dos bancos, não só com a comissão de negociação, na qual o Comando dos Bancários irá apresentar a diferença salarial e de oportunidades e as propostas para alcançar equidade.

Desigualdade é maior nos altos cargos

As bancárias também destacaram que a desigualdade salarial de gênero é maior nos cargos mais altos. Enquanto que, numa função da base, como de escriturários, as mulheres recebem em média 96% da remuneração dos homens, nos cargos de dirigentes e gerentes elas recebem, em média, 68,9% em relação aos colegas homens.

"É muito difícil aceitar esse cenário: já é difícil que mulheres alcancem espaços de liderança e, quando chegam lá, simplesmente recebem menos por uma questão de gênero, por ser mulher", criticou a secretária da Mulher da Contraf-CUT, Fernanda Lopes.

Neiva Ribeiro, Juvandia Moreira e Fernanda Lopes (foto: Willy Roberto)

Mulheres são maioria entre desligados

O Comando Nacional cobrou não só a igualdade salarial de gênero, mas a reversão da queda no número de mulheres no setor.

Entre 2020 e 2024, o saldo de emprego na categoria bancária foi negativo em 17.066 postos de trabalho, mas nesse período, as admissões foram maiores para homens e os desligamentos foram muito superiores para as mulheres, fazendo com que o saldo negativo de empregos para os homens ficasse em 730 postos e o das mulheres em 16.336 postos. Ou seja, mais de 95,7% dos postos de trabalho fechados nos bancos foram os que eram ocupados por mulheres.

Por outro lado, na área que mais cresce em contratação nos bancos, a da Tecnologia da Informação (TI), a representação de mulheres caiu de 31,9% para 25,2%, entre os anos de 2012 e 2023. "Sem ações afirmativas, com o objetivo de estabelecer prioridades, não vamos alcançar a correta inclusão e, com isso, a paridade de gênero", pontuou Juvandia Moreira.

Mais mulheres na TI

Outro debate reforçado na mesa foi o incentivo à formação de mulheres na TI. Representantes das escolas PrograMaria e Laboratória trouxeram dados da primeira fase do programa “Mais Mulheres na TI”, conquistado pela categoria na última CCT.

O programa prevê um total de 3.100 bolsas para a capacitação de meninas e mulheres. Desse total, mil já foram selecionadas pela PrograMaria e 118 pela Laboratória. As representantes dos trabalhadores frisaram que essa iniciativa é o resultado efetivo de reivindicações da categoria e eram dados que deveriam ser comemorados. As beneficiadas por esses programas são mulheres negras, mães, empreendedoras, que estão buscando posição no mercado de trabalho.

Uma segunda fase de inscrições será aberta, ainda neste semestre, e divulgadas pelo Sindicato.

“A procura foi muito alta, mostrando que existe uma demanda reprimida entre as mulheres que querem sim, aprender e atuar na área da tecnologia”, pontua Fernanda Lopes. “Segundo a PrograMaria, as inscrições superaram em 295% a expectativa de buscas pelas bolsas”, completou.

Canais de combate à violência doméstica

Por fim, os bancos apresentaram dados sobre outra conquista da categoria na CCT: a oferta de canais de combate à violência doméstica.

Segundo a Fenaban, 84% dos bancos já estão disponibilizando canais de denúncia e acolhimento e outros 11% afirmaram que irão implementá-los ainda em 2025.

O Comando destacou que vai continuar acompanhando para que esses canais dos bancos funcionem efetivamente. E destacou ainda a importância da divulgação para que as bancárias possam utilizá-los quando precisarem de ajuda. As dirigentes reforçara ainda que iniciativas como essas salvam vidas, e citaram como exemplo o projeto Basta! Não irão nos calar! – um programa que foi criado pelo Sindicato dos Bancários de São Paulo e depois incorporado pela Contraf-CUT –, que já atendeu 1.161 vítimas, além disso, desde 2021, foram criados14 canais em todas as regiões do país e realizados 504 atendimentos.

As dirigentes destacaram que com os canais de muitas bancárias que sofriam violência e acabavam por perder seus empregos, agora podem ser acolhidas.

“A gente precisa divulgar mais os canais de denúncia de assédio moral e assédio sexual porque foram mais de mil pessoas que procuraram esses canais desde que a gente começou a fazer esse trabalho em mesa de negociação. Isso é importante para que a gente mude a realidade do setor”, destaca Neiva Ribeiro.

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