São Paulo – A terceirização no setor financeiro é, como na maioria dos setores, dispersa e difícil de mensurar. “São empregados que estão ‘invisíveis’, pulverizados em vários locais de trabalho”, disse a diretora executiva do Sindicato e autora de tese de mestrado sobre o assunto, Ana Tércia Sanches. Apesar de ‘escondidos’, esses trabalhadores formam contingente considerável no setor financeiro. “Não temos dados oficiais, mas estimamos que superem os 390 mil”, informou.
Ana Tércia participou da mesa A Terceirização e as Pesquisas Sociais Impactos no Mundo do Trabalho Urbano e Rural, na manhã de sexta 13, dentro do Seminário Acadêmico sobre Terceirização, realizado na quinta-feira 12 e na sexta, na Unicamp.
O cálculo baseia-se em dados da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) e da Rais (Relação Anual de Informação Social), ambas de 2009. Segundo a Pnad, 1.131.833 pessoas declararam trabalhar no setor financeiro, já segundo a Rais, são 741.263 os trabalhadores oficialmente registrados no setor. O que dá uma diferença de 390.570 trabalhadores.
A dirigente sindical lembrou que esse processo se intensificou na década de 1990, marcada ainda pelas privatizações e fusões bancárias e pela adoção de tecnologias da telemática. “Nos anos 1980, encontrava-se uma bateria de 25 caixas nas agências, hoje você encontra uma bateria de 25 terminais de autoatendimento”, exemplificou. E a terceirização nos bancos, acrescentou, avança a passos largos.
Ela enumerou alguns dos setores mais terceirizados pelos bancos, entre eles compensação e teleatendimento, e ainda a figura do correspondente bancário que, segundo a dirigente, é a forma mais agressiva. “Os bancos repassam seus serviços para lotéricas, redes de lojas, Banco Postal. Esses correspondentes fazem tudo que os bancos fazem, mas as discrepâncias entre esses trabalhadores e os bancários são muito grandes.”
Mitos - Ana Tércia enumerou alguns dos mitos da terceirização, entre eles o de gerar empregos. “São postos de trabalho que já existiam, só que se antes as tarefas eram feitas por trabalhadores com vínculo direto com o banco, agora são realizadas por contratados por terceiras, em condições precárias. Na verdade, ela diminui os postos de trabalho, porque os terceirizados têm carga horária maior que a dos bancários.”
Também é mito a afirmação dos empregadores de que ela não é inevitável. “A terceirização é uma escolha do capital em determinado momento, e cabe à sociedade aceitar ou não”, afirma.
A dirigente sindical também contradisse o argumento de que a prática é símbolo de modernidade. “É um processo que barateia mão de obra, empobrece os trabalhadores, precariza as relações de trabalho. Portanto, significa atraso social.”
A afirmação de que a terceirização é a especialização do trabalho também é falsa. “Não é verdade que as terceiras são empresas especializadas. O know how e as diretrizes técnicas são do banco, o manual e treinamento dos funcionários é feito pelo banco, as atividades dos funcionários são acompanhadas e subordinadas ao preposto do banco que tem, inclusive, ingerência na admissão, no perfil de quem vai entrar e nos desligamentos.”
Direitos rebaixados - O prestador de serviço no setor financeiro, informou Ana Tércia, ganha, em média, 40% da remuneração do bancário, vale-refeição de R$ 4,50 por dia, tem jornadas maiores, trabalham aos sábados e ganham PLR condicionada a não faltar nem um dia. Apesar de não serem enquadrados na categoria bancária, acrescentou, o Sindicato optou por representá-los. “São 20 anos de resistência, em que organizamos os trabalhadores terceirizados. Negociamos por eles - o que é difícil porque os empregadores argumentam que nós não os representamos - e ajudamos a organizar greves.”
Ana Tércia ressaltou que um dos desafios da entidade hoje está em convencer os bancários de que essa luta também é deles. “Os bancários têm de entender que muitos terceirizados hoje foram bancários antes, e que a terceirização ameaça o emprego e a força da categoria. Temos também de dialogar com a sociedade, mostrando que todos perdem com o processo, que baixa a qualidade dos serviços, causa custos ao INSS e à justiça trabalhista e empobrece os trabalhadores”, concluiu.
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