São Paulo – O reconhecimento do papel do Sindicato na história do fortalecimento da democracia no Brasil e na ampliação de direitos da classe trabalhadora veio agora da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo. O plenário Juscelino Kubitschek ficou lotado para a sessão solene e em homenagem aos 90 anos da entidade representativa dos bancários, promovida na sexta-feira 19 por iniciativa do seu ex-presidente, Luiz Cláudio Marcolino, deputado estadual pelo Partido dos Trabalhadores.
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A mesa da Alesp foi ocupada por diretores da executiva do Sindicato, representantes de parceiros como Afubesp, Bancredi e Rede Brasil Atual, o presidente da CUT (Central Única dos Trabalhadores), Vagner Freitas, e os homenageados pela luta dessas nove décadas: ex-presidentes eleitos, a presidenta Juvandia Moreira e a ex-funcionária Maria Aparecida Venâncio, a Cidinha.
Marcolino, que conduziu o Sindicato entre 2004 e 2010, ressaltou o papel de todos os presidentes eleitos desde a retomada – Augusto Campos (1979 e 1983), Luiz Gushiken (1985 a 1987), Gilmar Carneiro (1988 a 1994), Ricardo Berzoini (1994 a 1998), João Vaccari Neto (1998 a 2004) e Juvandia desde 2010 – e elencou alguns dos principais avanços e conquistas da categoria nesse período. “Além dos aumentos salariais, vales refeição e alimentação, o direito à participação no lucro dos bancos, a igualdade de oportunidades, os direitos aos homoafetivos, a licença-maternidade de seis meses, o combate ao assédio moral, a PLR sem IR”, elencou o deputado bancário, ao anunciar a exibição do filme dos 90 anos. “É pela construção de sonhos que lutamos, também é assim aqui no parlamento. Entrei com 20 anos no Sindicato e passei metade da minha vida lá. Se tivesse de voltar, faria tudo de novo.”
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Juvandia recebeu de Marcolino uma placa em sua homenagem e uma também para o Sindicato. “Todos estão sendo homenageados hoje: dirigentes, militantes, funcionários. São 90 anos de história que temos a felicidade de comemorar e com a qual aprendemos cada vez mais. É a referência de quem somos e do que fazer para continuar essa luta. Temos de levar, contar essa história aos bancários para que entendam a importância de continuar lutando para fortalecer a categoria e a sociedade”, afirmou a presidenta, explicando que a categoria mudou bastante principalmente nos últimos 10 anos. “Mudou o processo de trabalho, as características, muitos foram contratados principalmente nos bancos públicos e não sabem que tudo é conquista: vales-alimentação, refeição, PLR. Acham que é benefício o que é resultado de conquista da categoria, da luta, organização, engajamento de todos. Assim como a política de valorização do salário mínimo, a correção da tabela do imposto de renda têm o engajamento dos bancários na luta da classe trabalhadora ao lado da CUT”, ressaltou ao dizer que a categoria é exemplo. “A licença-maternidade de seis meses, o instrumento de combate ao assédio moral, os direitos para homoafetivos: são lutas que viram referência.”
Contra injustiças – O presidente da CUT, Vagner Freitas, lembrou que poucos sindicatos têm 90 anos no Brasil e que essa história se confunde com a luta de toda classe trabalhadora brasileira. “Muito temos que andar, porque nosso país ainda tem injustiça social muito grande. Nesses 10 anos do governo popular e democrático não foi possível consertar tudo. Mas esse Sindicato sempre atuou na construção de uma nova sociedade em que o paradigma seja a justiça social. Estamos de parabéns todos nós”, comemorou o primeiro bancário a presidir a Central.
O deputado estadual Marcos Martins (PT), ex-funcionário do Sindicato, lembrou de seus tempos ao lado da oposição bancária e de organização da Regional Osasco. “Foram várias lutas memoráveis como a que parou a matriz do Bradesco (Cidade de Deus, em Osasco) pela primeira vez em 1983. A partir daquela paralisação o Sindicato passou a ser reconhecido. Antes, os bancários tinham medo até de pegar a Folha Bancária”, relatou, destacando que isso levou à intervenção da entidade por 18 meses. “Mas a nossa FB continuou a circular clandestinamente, com a ajuda dos trabalhadores. Esse Sindicato deu contribuição importante à redemocratização do nosso país e na solidariedade a outras categorias.”
Homenagens – O deputado federal Ricardo Berzoini (PT-SP) foi um dos ex-presidentes homenageados, presentes ao evento. Além de Gushiken, Augusto Campos e João Vaccari, que não puderam participar.
O também ex-ministro do Trabalho e da Previdência durante o governo Lula, falou de sua trajetória como bancário. “Foi uma grande alegria poder aos 20 e poucos anos de idade, decidir ser militante sindical. Já era filiado ao PT e sindicalizado (como funcionário do Banco do Brasil), mas comecei a me tornar militante na greve geral de 1983. E continuo com a mesma percepção, de que ninguém consegue nada sozinho, só a luta coletiva. São 30 anos ao lado de companheiros valorosos como Luiz Gushiken que não está aqui porque enfrenta a pior das doenças, um câncer, mas estará com a gente em muitos outros momentos”, destacou Berzoini, emocionado. “Quando acabou a greve em 1988 todas estavam felizes com o piso salarial que era de 200 dólares à época. Hoje o piso chega a 1.150 dólares somado aos vales refeição e alimentação, além dos dois salários de PLR que quase todos os bancários recebem e sem contar tantas outras conquistas importantes desses anos. Então, fico muito feliz por ter participado desse período e sempre me referencio na minha categoria.”
Gilmar Carneiro recebeu a placa em homenagem à sua trajetória no Sindicato, sendo chamado ao púlpito pelo “apelido” que usa para chamar a todos. O “nego véio” lembrou que a presença dos trabalhadores na Alesp sempre foi traumática nos tempos de Maluf, das greves da época da ditadura. “Mais recentemente, a imagem que se tem também é de uma casa distante. Quem mais aproximou foi o Luiz Cláudio com sua obsessão de trabalhar 24 horas por dia de domingo a domingo.”
Atualmente na assessoria da presidência da CUT, Gilmar contou que sua mãe também faz 90 anos e que enviou a ela, que mora na Bahia, o livro que conta essa história. “Disse a ela que desses 90 anos, participo de 34. Somos a caixa de ressonância do clamor do povo. Temos de mobilizar a população para que as casas legislativas estejam a serviço do povo. E nossos parlamentares têm dado exemplo disso.”
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Na secretaria – Os funcionários do Sindicato também foram lembrados na homenagem da Alesp. Além de Cidinha, Domingos Savio, também já aposentado foi lembrado, mas não pode comparecer ao evento. O deputado Marcolino lembrou que a homenagem era extensiva a todos os trabalhadores da entidade: “vocês não medem esforços e quero que se sintam representados nessa homenagem”.
Cidinha falou emocionada ao plenário lotado por muitos dos ex-dirigentes que secretariou e funcionários com quem conviveu enquanto esteve no Sindicato. “Ao longo de mais de 30 anos aprendi que cada um, independente do cargo, da função que exerça, vira militante e faz isso porque acredita. Os funcionários são reflexo da diretoria. Nem sempre é tudo alegria, claro, mas sinto muito amor pelo Sindicato e muito orgulho por fazer parte dessa equipe.”
Claudia Motta - 19/4/2013
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Dirigentes, militantes, funcionários lotaram o auditório da Assembleia Legislativa em sessão solene de iniciativa do deputado bancário Luiz Cláudio Marcolino
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