São Paulo – O relatório de estabilidade financeira que o Banco Central (BC) divulgou na última semana comprova o que os balanços dos bancos já vinham apontando: a diminuição dos juros promovida pelos bancos públicos resultou na expansão do crédito nessas instituições. Os bancos privados, que baixaram mais timidamente suas taxas, tiveram um ritmo menor de crescimento no crédito.
Segundo o BC, enquanto a carteira dos públicos expandiu 27,8% em 2012, a dos privados nacionais, assim como a dos estrangeiros, cresceu de forma bem mais moderada: 6,7% e 9,4%, respectivamente. Isso, ainda de acordo com o relatório, “demonstra a diferença de disposição a conceder crédito desses segmentos”. Além disso, a participação relativa dos bancos públicos atingiu 47,9% da carteira total em dezembro de 2012, contra 33,8% cinco anos antes.
O balanço mostra que a redução dos juros, intensificada no primeiro semestre de 2012 e capitaneada por instituições como Banco do Brasil e Caixa Federal resultou ainda queda da inadimplência e menor comprometimento da renda das famílias. A inadimplência pessoa física teve sua tendência de alta revertida, o que, por sua vez, refletiu positivamente na carteira de crédito total, já que a da pessoa jurídica (PJ) permaneceu estável no período.
A queda desse indicador foi leve no semestre: 3,7% em dezembro de 2012 ante 3,8% em junho, baixa determinada pela redução dos atrasos na carteira PF. Mas o BC destaca que essa tendência de queda deve se manter no próximo semestre, “à medida que as safras mais antigas de crédito percam representatividade na composição da carteira total, e também em função da confirmação de expectativas macroeconômicas favoráveis, tais como a manutenção do desemprego em nível baixo, a redução das taxas de juros, com impactos positivos sobre o comprometimento de renda das famílias, a retomada do processo de crescimento da atividade doméstica e a continuidade nos ganhos reais de renda da população”.
Outro ponto destacado pelo BC foi o crescimento da portabilidade de crédito, incentivado pelo aumento da concorrência, com a queda das taxas. “Como as instituições públicas reduziram suas taxas de forma mais significativa, essas foram as que mais receberam créditos de outras instituições.”
O BC informa que o estoque total de operações de crédito do Sistema Financeiro Nacional (SFN) atingiu R$ 2,37 trilhões em dezembro, o que representa alta de 8,8% no semestre e de 16,4% em doze meses, correspondendo a 53,6% do PIB. Ainda assim, o ritmo de expansão anual foi inferior ao dos dois anos anteriores (2010 e 2011), quando o crédito cresceu 20,6% e 18,8% respectivamente.
Rentabilidade – Mesmo com o crescimento menor da carteira de crédito e as altas provisões, a rentabilidade dos bancos continua muito acima da Selic. Levantamento da consultoria Economatica, divulgado nessa segunda 8, mostra que no ranking de rentabilidade dos maiores bancos da América Latina e dos Estados Unidos em 2012, os brasileiros ocupam as três primeiras posições. No topo da lista está o Bradesco, com ativos totais superiores a US$ 100 bilhões e rentabilidade de 17,27%. A segunda e terceira posições ficaram com o Banco do Brasil e Itaú, respectivamente com 16,89% e 16,70%. “A rentabilidade dos principais bancos brasileiros foi superior a de gigantes norte-americanos como Wells Fargo, J.P. Morgan, Goldman Sachs e Citigroup”, destaca a presidenta do Sindicato, Juvandia Moreira, e acrescenta: “Os bancos continuam ganhando muito. E nós bancários vamos continuar na luta por mais valorização salarial e reconhecimento de nossos direitos!”.
Andréa Ponte Souza - 9/4/2013
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Relatório do BC mostra que empréstimos cresceram muito mais nas instituições públicas, que baixaram juros. Ainda assim, rentabilidade dos bancos brasileiros é das mais altas na América Latina e EUA
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