São Paulo - Vítimas silenciosas da pressão e do assédio moral, milhares de trabalhadores sofrem com o adoecimento sem jamais procurar ajuda. É a chamada subnotificação dos acidentes e das doenças do trabalho. Para combater esse mal que acaba com a saúde e pode resultar em danos irreversíveis, foi lançada na segunda-feira 27, a Campanha de Notificação de Acidentes e Doenças Relacionadas ao Trabalho, pela Coordenação de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora da Secretaria Municipal de Saúde (SMS). O Sindicato fez parte do evento que engrossa a luta por saúde e condições de trabalho e marca o 28 de abril, Dia Mundial em Memória das Vítimas de Acidente de Trabalho.
“A notificação correta permite conhecer melhor o risco de cada profissão. Sabemos que os bancos fazem esforços para ocultar os riscos na categoria, quando negam abertura de CAT (Comunicação de Acidente do Trabalho) após um assalto ou nos casos de LER/Dort e doenças psicológicas ocasionada por metas abusivas”, explica o secretário de Saúde do Sindicato, Dionísio Reis.
O objetivo do programa municipal é fortalecer ações de prevenção a acidentes, mas também qualificar ainda mais o atendimento na Rede de Atenção à Saúde do Trabalhador. Um espaço virtual dentro da página da SMS está em construção.
“As empresas querem ver subnotificadas as doenças de trabalho. Daí a importância de fortes instrumentos e campanhas de notificações, como essa, para utilizar nessa guerra. É uma campanha de cidadania que deve ser feita em todas as categorias”, destacou Dionísio, que defendeu ainda o fortalecimento e a humanização do Sistema Único de Saúde (SUS).
Quadro grave – No Brasil, de 2011 a 2013 foram registrados 2.152.524 acidentes de trabalho. Desse número, 48.542 são pessoas que não retornarão mais ao trabalho por invalidez permanente, além de 8.503 óbitos. Os dados foram levantados pela Central Única dos Trabalhadores (CUT).
As estatísticas ainda apontam a um aumento significativo nos acidentes de trajeto, que no ano de 2011 eram em torno de 100.897, chegando ao ano de 2013 a 111.601. Todos esses dados colocam o Brasil em quarto lugar no ranking mundial de acidentes de trabalho, segundo a Organização Internacional do Trabalho.
“Nos bancos, por exemplo, o acidente de trabalho é silencioso, escondido pelas empresas, persegue todos os empregados e a automedicação é um problema seríssimo. Vamos aos locais de trabalho nesta terça 28, conscientizar os bancários que atestado médico é para ser apresentado e não guardado na gaveta, o que chamamos de presenteísmo. O trabalhador esconde sintomas que podem ser tratados até o ponto que não consegue mais trabalhar, agravando seu quadro de adoecimento”, ressalta Dionísio.
Terceirizados sofrem mais – As causas para tantos acidentes e adoecimentos são conhecidas: precarização das condições trabalho, fragilidades das comissões de prevenção a acidentes (Cipas), não cumprimento pelos empregadores da legislação de proteção à saúde dos trabalhadores, entre tantos outros.
A terceirização de serviços, no entanto, está entre as principais razões para o aumento o crescimento de adoentados. Estudo do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) indica: para cada dez acidentes de trabalho sete são com trabalhadores terceirizados.
Para Dionísio, o momento é propício para o debate de melhorias nos registros das notificações. “Nos últimos meses a luta contra a terceirização ganhou fôlego e jogou luz sobre os riscos ainda maiores que vivem trabalhadores terceiros, milhares deles prestadores de serviços para as instituições financeiras”, lembra. “Temos de mudar essa história.”
Gisele Coutinho - 27/4/2015
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Sindicato participa de campanha municipal contra as subnotificações e realiza atos no Dia em Memória das Vítimas de Acidente de Trabalho. Terceirizados estão entre as principais vítimas
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