São Paulo – O número de acidentes com vítimas atendidas pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) nas marginais Pinheiros e Tietê aumentou 186% após o aumento das velocidades definido pelo prefeito da capital paulista, João Doria (PSDB). Dados obtidos pela Folha de S. Paulo, por meio da Lei de Acesso à Informação, mostram que entre 25 de janeiro e 10 de março o Samu realizou 186 atendimentos nas duas marginais. Em igual período de 2016, foram 65 ocorrências.
Antes disso, a própria Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) já havia admitido um crescimento de 60% no número de acidentes, apenas no primeiro mês dos novos limites.
O Programa Marginal Segura, criado por Doria, definiu o aumento da velocidade nas marginais Pinheiros e Tietê, de 50 para 60 quilômetros por hora, na via local, de 60 km/h para 70 km/h, na via central, e de 70 km/h para 90 km/h, na via expressa. Como parte do programa, embora alegasse que não haveria impacto na segurança, o prefeito determinou que 14 novas ambulâncias recebidas por meio de convênio com Ministério da Saúde, em janeiro, fossem utilizadas exclusivamente nas marginais.
O maior número de ocorrências foi registrado na Marginal Tietê, onde foram atendidos 87 acidentes no período, aumento de 278,3% em relação aos 23 atendimentos feitos a igual período do ano passado. Com isso, a média de atendimentos subiu de quatro por dia, para quase 11. O maior número de chamados ocorreu entre 10h e 17h, quando os motoristas conseguem trafegar em velocidades maiores.
Socorristas ouvidos pelo jornal disseram que o atendimento "voltou ao normal, ou seja, ao que era antes de terem reduzido a velocidade máxima. Temos atendido muitos motoqueiros, principalmente na pista central".
Promessa de campanha de Doria, o aumento da velocidade das marginais ignorou apelos de organizações que trabalham por segurança no trânsito, associações de ciclistas e pedestres e urbanistas. A Associação Ciclocidade entrou na Justiça contra o aumento da velocidade e teve um vitória temporária, mas a liminar foi derrubada dois dias antes da mudança. Para mitigar os problemas causados pelo aumento da velocidade, a gestão Doria disse que deixaria quatro ambulâncias e 10 veículos operacionais para atender exclusivamente as marginais.
A gestão Haddad reduziu a velocidade das marginais em 20 de julho de 2015. Um ano depois, a queda no número de acidentes foi acentuada. As vias tiveram 608 acidentes no primeiro semestre de 2015, ante 380 nos primeiros seis meses de 2016, segundo dados da CET. O número de atropelamentos também caiu, indo de 27 para nove no mesmo período. Além disso, o índice de congestionamentos teve redução de 6%, em linha com a análise de especialistas em mobilidade urbana.
Em nota, a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) informa que o Programa Marginal Segura vai muito além da readequação da velocidade e foi responsável pela implantação de uma série de ações para segurança, sinalização e educação no trânsito.
"O programa aumentou o efetivo de agentes de trânsito nas marginais, passando de 45 agentes turno/dia para 75 agentes turno/dia. Com o aumento de 67% no contingente, mais ocorrências nas marginais passaram a ser atendidas. Além disso, as marginais receberam o reforço de novos veículos de apoio como carros, guinchos, motos e ambulâncias. Em média, são usadas 40 viaturas em cada um dos turnos, envolvendo motos, guinchos e os 'Veículos Anjos'. A CET ressalta ainda que é cedo para realizar qualquer tipo de comparação estatística sobre acidentes nas marginais uma vez que os dados disponíveis não permitem esse tipo de conclusão".