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Chapéu
#8Mulheres

‘Fui tratada diferente por conta da cor da minha pele’

Linha fina
Mulher relata que preconceito contra negros ainda existe em diversos níveis sociais. Assunto faz parte da Jornada das Mulheres em Defesa da Democracia e por Direitos, que vai até 1º de maio
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Foto: Katarzyna/123rf

Camila de Oliveira (nome fictício), 29 anos, negra, formada em Ciências da Computação. Após batalhar por uma oportunidade em uma multinacional, na qual trabalhou por três anos, há meses viu seu sonho virar um pesadelo. Ela conta que desde que se formou, no final de 2014, sempre se preparou para ter um bom currículo, mas que após sair da universidade, quase nenhuma empresa dava oportunidade.

“Meu currículo foi cadastrado nessas empresas de recrutamento online, e sempre que ia às entrevistas, as pessoas perdiam o interesse. Davam desculpas ou diziam que para a vaga precisariam de alguém com mais experiência.  No início, pensei realmente que fosse pela minha falta de experiência, mas depois comecei a perceber como as pessoas me olhavam”, diz Camila.

Após conseguir a vaga desejada, Camila conta que começou a ser tratada de forma diferente pelos seus superiores, principalmente em relação aos homens que trabalham com ela no mesmo setor.

“Vi que meu chefe me tratava com frieza e depois de meses percebi que meu salário era menor do que o dos meus colegas. Achei aquilo um absurdo, já que exercíamos a mesma função. Perguntei, mas ninguém soube me dar uma resposta”.

Como consequência da crise, Camila se sentiu assombrada com as demissões. Mas ficou ainda mais magoada porque foi a única do setor a ser desligada. Só depois ela soube que um diretor gostava do seu trabalho, mas, mesmo assim, foi demitida por racismo. 

Jornada de Luta das Mulheres

As barreiras enfrentadas pela mulher negra no mercado de trabalho estão entre as pautas debatidas na Jornada de Luta das Mulheres em Defesa da Democracia e dos Direitos, que foi lançada em 24 de fevereiro, em São Bernardo do Campo, e que percorrerá cidades do interior paulista até 1º de maio.

> Jornada de luta contra desigualdades e retrocessos

Segundo um estudo do Dieese, as mulheres negras são as mais vulneráveis em ocupações com menor proteção social. Muitas delas sem carteira assinada, no emprego doméstico ou trabalhando como terceirizadas, em geral na limpeza. No entanto, a inclusão delas no mercado de trabalho ainda é um desafio.

“Não consegui até o momento me encaixar numa vaga similar para o que me formei. Em todos os lugares em que chegava, as pessoas ficavam espantadas quando eu dizia para qual vaga estava concorrendo. Como preciso trabalhar, acabei optando por uma vaga em uma loja de calçado e sem carteira assinada. Mas me sinto totalmente desprotegida. Me ofereceram essa vaga dizendo estar de acordo com as novas leis trabalhistas”, afirma Camila, acrescentando que as oportunidades melhores ficarão cada vez mais remotas com a deforma trabalhista de Temer e dos maus empresários.

A pesquisa do Dieese revelou, ainda, que a taxa de desemprego entre as mulheres negras no Brasil é bem maior do que a do restante da população. No caso das mulheres pretas, é de 14%, o dobro da de desempregados entre os homens brancos (6,9%). A de mulheres pardas, com a segunda taxa mais baixa, é de 13%, mais alta do que as desempregadas entre as mulheres brancas (9,7%).

O estudo também aponta dados da remuneração média de mulheres negras, maioria na pirâmide do mercado de trabalho, que é R$ 1.125, contra R$ 2.589 dos homens brancos. Além disso, são as mulheres negras que enfrentam a jornada doméstica mais pesada. Dados do Ipea de 2013 mostram que as mulheres pretas e pardas gastam quase 22 horas semanais com afazeres da casa. Esse número cai para 9 horas quando a referência são homens brancos.  

“Essa mudança social e cultural não depende apenas do povo negro, depende da consciência da sociedade em geral. Porque enquanto alguns quiserem manter os privilégios, a desigualdade vai permanecer. E isso é um absurdo, já que nós, pertencentes à população negra, representamos 54% dos brasileiros. Mas as oportunidades não aparecerem nas mesmas proporções”, destaca a dirigente sindical Ana Marta.

 

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