São Paulo - Está cada vez mais distante para os trabalhadores e trabalhadoras alcançarem o sonho da casa própria. Em 2017, o governo Temer derrubou pela metade o volume de crédito destinado ao financiamento de imóveis com dinheiro da poupança. Em 2014, antes do golpe, os recursos para habitação atingiram recorde.
Sem capital para cumprir regras internacionais de proteção e mais interessados na privatização do que em fortalecer o papel social do banco estatal, os gestores da Caixa Econômica Federal reduziram os financiamentos e aumentaram os juros para a compra de imóveis.
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“O principal objetivo do governo é privatizar a Caixa e, para isso, é preciso reduzir sua atuação, impedir que ela faça o seu papel de financiar a habitação, o saneamento básico e o transporte público, necessários para as melhorias das cidades e da população”, diz Cláudio da Silva Gomes, presidente da Confederação Nacional dos Sindicatos de Trabalhadores nas Indústrias da Construção e das Madeiras (Conticom-CUT).
Segundo ele, mesmo com os lucros altíssimos obtidos com as altas taxas de juros cobradas, o banco não consegue atingir índices mínimos para dar suporte às operações de habitação e uma das razões disso é o recorde de desempregados.
“As linhas para a casa própria eram oriundas do Fundo de Garantia. Com essa política de Temer de desemprego, a arrecadação do FGTS diminuiu. Há mais saques do que depósitos no principal fundo da habitação”.
Nos governos Lula e Dilma, que tinham políticas econômicas claramente voltadas para o desenvolvimento com justiça e inclusão social, com geração de emprego e distribuição de renda, não faltavam recursos para a habitação, diz Cláudio Gomes, lembrando que os golpistas não têm políticas para o país, só interesses pessoais.
"A política habitacional pós-golpe de 2016 não existe", Cláudio Gomes, Conticom-CUT
"Assim como não existe nenhuma política econômica. O que ainda temos na área de habitação hoje são sobras dos governos Lula e Dilma, como o Minha Casa, Minha Vida,” afirma o dirigente.
Essa tese é corroborada pela economista Ana Luiza Matos de Oliveira, consultora da Fundação Perseu Abramo e doutoranda no Instituto de Economia da Unicamp.
Para ela, além da questão dos saques do FGTS, existe uma política deliberada desse governo de reduzir o montante disponível para o BNDES e Caixa, o que afeta a oferta de crédito no Brasil.
"Há uma política de descapitalização de bancos. São manobras que têm a ver com a redução do papel do Estado", Ana Luiza Matos de Oliveira
Segundo ela, nos anos 2000, havia políticas positivas que retroalimentaram a renda e o emprego e que foram importantes para o mercado de consumo e alta da arrecadação.
“Hoje, há poucos mecanismos que mantêm a roda girando. Esse governo não tem política para o desenvolvimento, especialmente pelo engessamento dos investimentos públicos com o teto dos gastos”, avalia.
“A economia está num nível muito baixo. A gente está se movendo no fundo do poço”.
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Sem luz no fim do túnel
O desemprego é apontado como um dos fatores que mais atrapalham a alta do crédito. A desaceleração do financiamento acompanhou a alta do desemprego, que subiu de 6% para mais de 13%.
O Brasil tem hoje 33 milhões de trabalhadores com carteira assinada, o ponto mais baixo da série histórica desde 2012. A taxa de desocupação é de 12,6% e 13,1milhões de trabalhadores estão desempregados.
“Desde o golpe de 2016, a construção civil perdeu 1,2 milhão de vagas. Se pensarmos que a cada vaga a menos, outras cinco também são perdidas em setores que giram em torno da construção, como materiais, madeiras e mobiliários, temos uma noção da destruição da indústria da construção”, analisa Cláudio da Silva Gomes..
“Houve uma pequena queda nos últimos meses na taxa de desocupação devido ao aumento da informalidade. É por isso que discordo do otimismo de economistas ligados ao mercado financeiro, que apostam num crescimento do PIB de cerca de 3%, baseados unicamente num possível aumento de consumo”, analisa a economista Ana Luiza.
Com essa ampliação da informalidade, os trabalhadores não têm a mesma condição de consumo. Sem salário fixo e com a insegurança de que sua renda pode cair, eles reveem sua proposta de se endividar e consumir.
“Essa visão otimista dos analistas mais ligados ao mercado precisa ser ‘problematizada’, porque o que temos visto quando se trata de economia é uma tentativa de passar imagem positiva por meio da mídia. Só que os números desmentem essas análises”, diz a doutoranda da Unicamp.
“Essa retomada do consumo e do emprego pode não vir como eles esperam”.
Ana Luiza alerta para um dado que reflete a precarização do trabalho e a diminuição da renda dos trabalhadores e trabalhadoras que impactam na análise errônea de recuperação da economia: o aumento das ocupações em trabalhos domésticos.
“Nos anos 2000 as domésticas puderam migrar pra outro tipo de trabalho. Elas foram para o telemarketing, para vendas, secretariado, entre outras atividades. Hoje o movimento é contrário. O Brasil é o país que tem mais empregadas domésticas do mundo. Isso é um reflexo da desigualdade social”, finaliza a economista da Fundação Perseu Abramo.