São Paulo - É preciso pensar no trabalho decente como outro modelo de desenvolvimento, com o homem no centro do processo, e não somente o enriquecimento, a execução do trabalho. Foi em volta deste conceito a conversa desta terça-feira 27 no Centro Cultural São Paulo (CCSP) durante o segundo dia da conferência “Trabalho Decente e Desenvolvimento Sustentável – o direito de viver com qualidade”.
No primeiro dia, a prefeitura de São Paulo e representantes da Organização Internacional do Trabalho (OIT) no Brasil lançaram as bases de uma agenda para promover o trabalho decente na cidade. Entre as diretrizes estão a criação de mais e melhores empregos, com equidade de oportunidades e de tratamento, combate ao trabalho forçado e infantil e o fortalecimento do diálogo tripartite entre empresários, trabalhadores e poder público.
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Segundo o secretário municipal do Desenvolvimento, Trabalho e Empreendedorismo, Artur Henrique, a agenda começará dentro de casa, referindo-se à gestão atual e o processo de combate a desigualdades, que deve ser feito primeiro dentro da própria estrutura municipal, depois em toda a cidade.
“O país está se mexendo” - Para o economista especializado em sistemas de planejamento Ladislau Dowbor, é preciso avançar no trabalho justo em São Paulo, mas em todo o Brasil essa mudança é visível. “Em 1991, 85% dos municípios brasileiros estavam com IDH muito baixo. Em 2010, apenas 32 municípios, ou 0,6%, apresentavam IDH muito baixo. O país está se mexendo”, ressaltou.
Ele defende que entre as principais mudanças esteja o avanço tecnológico, e destacou que a conectividade gera transformações. Também ressaltou o combate a desigualdade como um dos eixos a serem trabalhados na luta pela sustentabilidade em todo o mundo. “Grandes fortunas não são méritos de produção. O sistema financeiro gera desigualdades. O mercado financeiro ganha cada vez mais enquanto produtores são cada vez menos remunerados. Não faz sentido uma família ganhar 100 ou 300 vezes mais que outra, pois ninguém é tão mais produtivo assim que o outro”, expôs o professor.
Dowbor também destacou que “não existe mais pobre como antigamente”, nem mais o “sim, senhor!”. Falou, ainda, que as pessoas sabem que devem ter acesso à saúde, à educação, em todo o mundo, mesmo em áreas rurais.
Poder é do povo – O professor elogiou a existência dos conselhos participativos municipais, mas defende que a capilaridade administrativa deve chegar aos bairros com maior potência. “É uma mudança cultural, é dar instrumento para as pessoas se organizarem. Temos que revitalizar o conceito de parcerias”, ressaltou.
Muitos desafios – O evento também contou com a presença do representante da OIT Paulo Sergio Muçouçah. Após a exposição de Dowbor o público conferiu informações sobre o andamento de projetos na área de Educação, representada na conferência por Joane Vilela; Igualdade Racial, com Marcilene Garcia; Políticas Públicas para Mulheres, com Maria Cristina Corral; Mobilidade Reduzida, com Tuca Munhoz e Direitos Humanos, representada por Marina Novaes.
Todos mostraram que será um grande desafio promover trabalho decente e sustentabilidade na cidade, mas que ações já estão sendo planejadas desde o início da gestão de Fernando Haddad.
Gisele Coutinho – 27/5/2014
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Conferência sobre desenvolvimento sustentável apontou que gestão municipal está cheia de desafios pela frente, mas que outro modelo é possível
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