
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central do Brasil (BCB) elevou a taxa básica de juros da economia (Selic) de 14,25% para 14,75%. É a maior taxa desde julho de 2006, quando os juros estavam em 15,25% ao ano.
A taxa Selic atua como referência para todas as demais taxas de juros praticadas no mercado, influenciando desde o crédito até o consumo, passando pelos financiamentos e investimentos. É também um instrumento de política monetária para o controle da inflação.
“Juros maiores da taxa Selic resultam em contratações de empréstimos e financiamentos mais caros, dificultando o investimento das empresas na expansão dos seus negócios, o que afeta a geração de empregos. A falta de vagas de trabalho, por sua vez, inibe o consumo, forçando a queda dos preços. Na prática, a conta do ajuste cai nas costas dos trabalhadores.”
Neiva Ribeiro, presidenta do Sindicato dos Bancários de São Paulo
A elevação da taxa Selic começou em setembro de 2024, quando o presidente do BCB era Roberto Campos Neto, indicado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro. Campos Neto assumirá em primeiro de julho o cargo de “vice-chairman” do Nubank, o que pode reforçar sua proximidade com o mercado financeiro e levantar questionamentos relacionados a conflito de interesses.
O ciclo de alta na Selic está se mantendo na atual gestão de Gabriel Galípolo, no comando do BCB, por pressão do mercado financeiro, sob a justificativa da contenção da inflação.
Elevação da Selic beneficia rentismo
O aumento da taxa Selic impacta também em outro lado da economia. A elevação dos juros serve como base para as taxas pagas pelo Tesouro Nacional como remuneração das Letras Financeiras do Tesouro (LFT). Estas são indexadas à Selic e compõem cerca de 43% dos títulos públicos.
A última decisão do BCB de subir a Selic, elevou a DBGG a (Dívida Bruta do Governo Geral) em R$ 50,3 bilhões por ano. Este valor representa aproximadamente 71% do valor do pacote de cortes anunciado pelo ministro Fernando Haddad em 29 de novembro de 2024, de acordo com os cálculos do próprio BCB.
“Além de desestimular o investimento na produção, o que resulta em desemprego, a elevação da taxa Selic favorece os interesses dos bancos, das seguradoras e dos fundos de investimentos, estes responsáveis por quase 90% do total de estoque da dívida pública, e que lucram com cada aumento da Selic”, afirma Neiva Ribeiro.
“Aumentar os juros sob o pretenso combate à inflação pode desacelerar a economia, reduzindo investimento produtivo e consumo sem resolver a causa raiz da inflação. Um círculo vicioso que deteriora as contas públicas e beneficia apenas um grupo restrito e já muito rico que vive do rentismo, em detrimento da quase totalidade da população brasileira”, finaliza a dirigente.
