São Paulo - É sintomático que o estudo apresentado pela federação dos bancos – O Setor Bancário em Números – ignore justamente o principal: os trabalhadores que fazem o serviço bancário. A pesquisa apresentada na segunda quinzena do mês de junho pela Febraban, na 20ª edição do Ciab, não aborda a quantidade de funcionários no setor ou sua contribuição na quantidade de transações. Deixa claro, novamente, que os investimentos estão concentrados em tecnologia cujo principal objetivo é retirar os usuários das agências. Numa distorção do real conceito de inclusão bancária, as instituições financeiras focam cada vez mais em instrumentos como o mobile banking (banco por celular!), cuja principal função será a de pagamento de contas, transformando o cidadão basicamente num consumidor.
A estratégia dos bancos, de precarizar o atendimento presencial ao longo dos últimos anos, vem funcionando. De acordo com os dados do Ciab, entre 2008 e 2012 houve crescimento de 30% para 42% na utilização dos canais virtuais. Somente no ano passado foram R$ 20,1 bilhões para os setores de TI e telecomunicações – crescimento de 9,5% sobre 2011.
“Claro que não somos contra a tecnologia, que deveria vir para somar e facilitar a vida de bancários e clientes. Os ganhos da tecnologia não podem servir para aumentar ainda mais o lucro dos bancos e gerar demissões. Têm de ser incorporados para reduzir a jornada de trabalho e melhorar o atendimento aos usuários”, afirma a presidenta do Sindicato, Juvandia Moreira. “Pesquisas apontam que os brasileiros preferem ser atendidos por bancários e há muitas situações que só mesmo um profissional qualificado pode auxiliar.”Os próprios dados da Febraban indicam isso. Mesmo com crescimento de quase 14% no número de cidadãos com acesso a internet e de 20,8% de contas com internet banking, caiu somente 5,3% as transações feitas presencialmente em agências, a despeito de todas as dificuldades para acessá-las (variação entre 2008 e 2012).
Futuro – No capítulo que trata dos desafios para eficiência do setor, fica claro no estudo da Febraban que os bancos não pretendem, por vontade própria, melhorar essa relação. Diante do novo cenário mundial – de mais regulação para o setor e elevação dos custos de captação de capital – e para não ver reduzidos seus lucros, o corte de empregos tem sido a estratégia adotada. Em 2012 foram extintos 10.752 postos de trabalho nos bancos privados.
“Para o setor, demitir bancários é o meio para alcançar os tão sonhados índices de eficiência. Mas o resultado disso é a precarização do trabalho, com serviços cada vez mais criticados, muita reclamação e insatisfação dos clientes”, destaca Juvandia. “Eficiência para nós é responsabilidade social, bancos cumprindo seu papel no desenvolvimento da economia, atendimento de qualidade com boas condições de trabalho bancário. Nossa campanha nacional unificada começa nos próximos meses e o emprego é tema central”, completa a presidente do Sindicato.
Cláudia Motta - 20/6/2013
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Resultado são péssimas condições de trabalho e de atendimento aos clientes, numa distorção do real conceito de inclusão bancária
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