São Paulo – O Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil em 2017 – soma de todos os bens e serviços produzidos no país – cresceu 1% no primeiro trimestre, quando comparado ao trimestre anterior (quarto trimestre de 2016). Na comparação com o mesmo período de 2016, no entanto, o PIB registrou queda de 0,4%, é o 12º resultado negativo consecutivo nesta base de comparação.
Os dados foram divulgados nesta quinta-feira 1º, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O crescimento de 1% entre um trimestre e outro, segundo o IBGE, foi fortemente influenciado pela agropecuária, que fechou março com alta de 13,4% (a indústria teve expansão de apenas 0,9% e o setor de serviços fechou estável entre um período e outro: 0,0%).
Os economistas Marcio Pochmann, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), e João Sicsú, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), avaliam que os resultados não autorizam o governo a falar em retomada da economia brasileira.
"As informações revelam muito mais um efeito estatístico, que não deriva de ações do governo, do que uma materialidade para sustentar uma recuperação", diz Pochmann para a Rede Brasil Atual. Entre esses efeitos, está o mercado externo, parcialmente favorecido por um período de desvalorização cambial. "Poderíamos ter uma recuperação externa maior se não tivéssemos um processo de valorização cambial no governo Temer", afirma.
Quanto ao crescimento da agropecuária, para Pochmann isso demonstra acima de tudo uma convergência climática, que também não tem nada a ver com o governo. "Comércio externo e agricultura são positivos, mas não consigo identificar ações de política econômica. No que depende de política econômica, os dados não dão consistência nesse sentido".
O economista diz que o cenário é ainda preocupante para a economia, com desemprego em alta e redução de crédito e de investimento. "O que o governo fez? Reduziu a taxa de juros. Isso deveria mobilizar a demanda interna." Mas mesmo a redução da taxa básica, agora em 10,25%, não acompanhou o ritmo menor da inflação. "Temos uma queda apenas nominal, não real."
Pochmann lembra que no início dos anos 1980 e 1990 o Brasil urbano passou por recessões caracterizadas por um período de queda intensa, uma "parada" e, na sequência, nova retração. Os números do IBGE, ainda que permitam falar em copo meio vazio ou meio cheio, "não autorizam imaginar que há um ciclo de recuperação que se sustente."
Segundo o IBGE, em valores correntes, o PIB encerrou o primeiro trimestre do ano em R$ 1,6 trilhão.
"Inconsistência de um suspiro" - O João Sicsú vai na mesma linha de Pochmann e vê a recuperação é ainda distante. "O Brasil vive uma depressão e está longe de sair", afirmou, para a Rede Brasil Atual.
O professor da UFRJ também destaca que o resultado trimestral "foi puxado pela demanda externa, que nenhum governo é capaz de controlar", diz. "Na verdade, existe uma longa trajetória de queda. Cada trimestre que passa, cai mais ainda". Segundo ele, desde o último trimestre de 2014 o consumo caiu aproximadamente 10% e os investimentos, 24%. "Não existe nenhuma trajetória de recuperação consistente. Não existe nenhuma indicação de recuperação."
O professor reforça que o resultado do trimestre é característico de economias que estão em depressão, com alguns pequenos "saltos", seguidos de quedas. Ele aponta indicadores que já permitiam esperar o comportamento deste início de ano, como o crescimento das vendas de papelão ondulado e do consumo de energia. Por outro lado, caíram o consumo de óleo diesel e o emplacamento de veículos. Dados contraditórios que, segundo o economista, "mostram a inconsistência de um suspiro".
"A economia suspirou apesar do governo e não por causa deste governo", define Sicsú. "Aliás, o governo se manteve até agora paralisado, distante, do problema macroeconômico do país", acrescenta, também refutando a tese de Temer de que é preciso implementar as reformas para crescer, vendo uma "questão ideológica" no discurso. "Nenhum empresário vai investir, ou não, se fez a reforma da Previdência, se fez a reforma trabalhista. Investe se tem perspectiva de lucro." De 2007 a 2010, acrescenta, o país cresceu sem reformas.
O economista considera um equívoco atribuir aquele crescimento à expansão do consumo. Refere-se ao período como "a era do investimento", tanto público como privado. "Cresceram muito mais do que o consumo", afirma.
Ele contesta outro argumento governista, de que a inflação em queda faz aumentar o consumo das famílias. "De fato aumenta. Mas para esse raciocínio ser completo, as famílias deveriam consumir mais. Mas estão consumindo cada vez menos", argumenta, apontando o elevado desemprego como causa: parte da população está sem renda e outra parte, receosa de perder seu posto de trabalho, economiza.
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