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Chapéu
Ocupação no Largo

Bebê morto após parto prematuro se torna símbolo da resistência no Paissandu

Linha fina
Recém-nascida, filha de casal que vivia no prédio que desabou no 1º de maio terá velório nesta sexta-feira 8, em Vila Formosa. Vítimas do desabamento e do descaso continuam no acampamento
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Foto: Vinícius Lima/Rede Brasil Atual

Raphaelly Vitória é novo nome da ocupação formada pelas famílias acampadas no Largo do Paissandu, centro de São Paulo, que nesta sexta-feira 8 completa 39 dias. O título homenageia a filha da auxiliar de cozinha Jaqueline da Silva Moraes, de 24 anos, e do ambulante Rafael Alves Ribeiro, de 28. A matéria é da Rede Brasil Atual

Vítima do incêndio seguido de desabamento do edifício Wilton Paes, o casal de sem-teto perdeu o bebê no parto prematuro de Raphaelly, aos 7 meses de gestação, na quarta-feira 6, em pleno acampamento. Jaqueline entrou em trabalho de parto às 17h30. Segundo Rafael e amigos acampados, a ambulância demorou cerca de 50 minutos para chegar ao local.

“Minha esposa me chamou porque estava sentindo dores, quando fui ver dentro da barraca, a minha filha estava nascendo. No meio do parto, a PM interrompeu, disse que eles assumiriam a partir dali. Do nada, chega bombeiro e ambulância”, disse Rafael.

Acompanhado de um advogado voluntário, Rafael foi ao 2º DP para depor sobre o óbito. Jaqueline foi levada à UTI da Santa Casa, no bairro de Santa Cecília. No boletim de ocorrência de Rafael, foi comprovado que ele residia no “Prédio de Vidro”, como era popularmente conhecido o Edifício Wilton Paes.

Jaqueline já recebeu alta e está num apartamento próximo ao Largo do Paissandu, emprestado por voluntários atuantes na ocupação.

“Se alguém achava que a gente estava aqui de brincadeira, agora está vendo que a coisa é séria. Tem gente morrendo aqui na praça. Isso não é brincadeira, é a nossa vida”, enfatiza Rafael.

Segundo a Secretaria de Habitação, das 171 famílias cadastradas na ocupação antes da tragédia, 146 já estão recebendo auxílio-aluguel. Das 300 famílias que fizeram o pedido de assistência depois da tragédia, apenas 67 conseguiram comprovar algum vínculo com a ocupação.

prefeitura afirma que Rafael, pai da criança, não constava no cadastro realizado pelo município antes da tragédia. Ele, contudo, passou pelo estudo de caso, juntamente com as outras 300 famílias, e teve parecer favorável esta semana, podendo sacar o benefício a partir da quinta-feira 14.

A ocupação continua no Largo do Paissandu, agora com um símbolo de resistência: Rafaelly Vitória. Diariamente, os moradores recebem doações de diversas instituições e pessoas, mas Rafael afirma: “não queremos só doações, queremos moradia. Abrigo não é lugar para a gente morar. A gente quer casa”. Outras pessoas que estão por lá enfatizam a necessidade de lonas para se proteger da chuva. 

O velório de Raphaelly Vitória acontecerá nesta sexta-feira 8, no cemitério de Vila Formosa, às 21h. Segundo moradores da ocupação, “é de extrema importância a presença de outros movimentos neste dia do velório”. Ainda não existe previsão para um ato. De acordo com Rafael, “vamos esperar o luto passar, pois queremos que a Jaqueline seja uma linha de frente quando fizermos alguma coisa”.

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