O 39º Congresso Nacional dos Empregados da Caixa (Conecef) teve sequência na manhã desta quarta-feira 5 com a votação do regimento interno, análise de conjuntura, além de mesas sobre impactos da Inteligência Artificial no mundo do trabalho e Funcef. O 39º Conecef faz parte da Campanha Nacional dos Bancários 2024.
“Durante o Conecef nós vamos deliberar o que vamos negociar com a direção da Caixa na Campanha Nacional dos Bancários 2024, visando a renovação do nosso Acordo Coletivo de Trabalho. Mas é muito importante lembrar que é neste congresso, realizado por empregados do Brasil inteiro, que a gente se junta para discutir os nossos problemas e onde a gente encontra saídas não só para os trabalhadores da Caixa, mas também pensa o nosso lugar de trabalhador neste país, faz o debate em defesa da sociedade brasileira, do papel social da Caixa Econômica e do quanto ela é importante para o país”, enfatizou Vivian Sá, diretora do Sindicato dos Bancários de São Paulo e representante da Comissão Executiva dos Empregados (CEE/Caixa) na Fetec-CUT/SP.
Ainda na parte da manhã foi realizada a mesa de análise de conjuntura. O editor do GGN, Luiz Nassif, avaliou que existe atualmente uma “guerra” entre o setor produtivo e o setor financeiro.
“A economia real passou a ser financeirizada. Temos um Banco Central absolutamente capturado pelo mercado. O Banco Central define a taxa básica de juros da economia. Se a taxa básica está em 13% ao ano, e eu sou uma empresa do setor produtivo e quiser colocar ações na bolsa, o investidor vai querer mais do que os 13% pagos pela taxa Selic para a minha empresa. Então nós temos hoje empresas sem nenhuma ligação com o setor produtivo. O modelo de acabar com o Estado e com a regulação faz com que o setor financeiro controle toda a economia.”
Na avaliação de Nassif, a dominação da economia pelo setor financeiro fez com que o setor produtivo fosse capturado pelo discurso da extrema-direita. Isto porque nos governos Temer e Bolsonaro o Estado perdeu grande parte da capacidade de indutor do desenvolvimento econômico, o que fortaleceu o discurso de que o Estado só serve para atrapalhar, por meio de regulamentações, e da cobrança de impostos.
“Por que existe uma espécie de ‘pacto’ entre a ultradireita, as milícias e o mercado? É porque nenhum deles quer a regulação. Eles querem um campo livre para poderem ganhar o que quiserem sem nenhuma espécie de controle”, afirmou.
Para Nassif, uma saída para o avanço da extrema-direita está na reorganização do setor produtivo local. “E os bancos públicos são a espinha dorsal desta estratégia como financiadores da produção local, do comércio local. A vocação pública é o grande ativo dos empregados da Caixa e do Banco do Brasil.”
Ivone silva, pré-candidata a vereadora para a Câmara Municipal de São Paulo pelo PT e presidenta do Instituto Lula, ressaltou a importância das eleições municipais de 2024 para a classe trabalhadora.
“Este ano serão debatidos temas que vão interferir no dia a dia do trabalhador. Na questão da tragédia do Rio Grande do Sul, por exemplo, o Governo Federal liberou R$ 5 mil para as famílias afetadas, e esse dinheiro não chega para as pessoas porque algumas prefeituras não fizeram o cadastro. Porque há uma disputa. São propostas de privatização da água, como está ocorrendo agora em São Paulo, onde a energia elétrica já foi privatizada e o serviço piorou”, enfatizou.
Inteligência Artificial e digitalização
Na parte tarde, os delegados e delegadas da Caixa debateram os impactos da Inteligência Artificial no mundo do trabalho e a digitalização bancária.
De acordo com o pesquisador e doutor em Microbiologia Atila Iamarino, ainda não há previsão para as ferramentas de inteligência artificial substituírem a capacidade humana de aprendizado.
“Essas ferramentas não são uma forma de inteligência como a gente pensa a inteligência. Só que o poder de usar muitos dados em um contexto vira uma chavinha na nossa cabeça que não tem como não atribuir uma intenção para a reposta que a ferramenta te dá. Isso te faz pensar que tem um ser pensante do outro lado. E no dia em que houver uma inteligência pensante, reprodutiva, você poderá substituir toda a mão de obra do mundo. A promessa de lucro disso é muito grande”, sublinhou o pesquisador.
Segundo pesquisa da Febraban, em 2023 os gastos em tecnologia dos bancos chegaram a R$ 39 bilhões e, para 2024, a estimativa de gastos ultrapassa R$ 47 bilhões, com os principais investimentos direcionados para Inteligência Artificial e GenAI, computação quântica, exploração de dados, cibersegurança, Cloud, processos ágeis, ESG e pessoas.
Noventa e seis por cento dos bancos que responderam à pesquisa possuem tecnologias de Inteligência Artificial e 54% dos bancos respondentes possuem tecnologias GenAI (Inteligência artificial generativa).
Alinhada ao seu planejamento estratégico, a Caixa intensificou a agenda de modernização tecnológica. Em fevereiro de 2024 foi criado o Programa TEIA, acrônimo de Transformação, Engajamento, Inovação e Aprendizado, visando acelerar o processo de transformação digital do Banco.
Além disso, ainda segundo a pesquisa Tecnologia Bancária 2024 da Febraban, no primeiro trimestre de 2024 foram efetuadas 10,5 bilhões de transações nos canais da Caixa, crescimento de 46,5% em comparação com o mesmo trimestre do ano anterior e 14,1% em relação ao trimestre anterior. Desse total, 9,6 bilhões de transações foram realizadas por meio de aplicativos, crescimento de 59,6% em relação ao primeiro trimestre de 2023 e de 15,6% quando comparado ao quarto trimestre de 2023. A pesquisa destaca a relevância da Caixa nas transações via Pix, com 18,2% do total de operações do mercado transitando pela Caixa.
Em face desta realidade, a economista do Dieese Machado, Vivian Machado, ressaltou que a inteligência artificial está transformando o mundo e o mercado de trabalho, o que tem preocupado as diversas nações por suas possíveis consequências para a população. Mas, os bancos seguem investindo altos volumes nessa transformação.
No caso específico do setor financeiro e da Caixa, novas e profundas transformações tecnológicas seguem se desenhando no horizonte e é preciso tentar, na medida do possível, se antecipar aos impactos que elas trarão para trabalhadores e a sociedade em geral.
Funcef
Na última mesa do dia os debates se concentraram na Funcef e na proposta de equacionamento da Caixa que representará em redução de direitos.
Durante os debates foram apresentados alguns dados: a Funcef tem um total de R$ 104,7 bilhões em recursos investidos, alta de 10,46% em relação ao mesmo período de 2022. Em 2023, o resultado nos Investimentos foi de R$ 11,7 bilhõe, alta de 21% em relação a 2022. A Rentabilidade consolidada foi de 12,46%, acima da meta de 8,37%. Houve superávit em todos os planos de benefícios pela primeira vez em cinco anos. O equivalente a R$ 6,1 bilhões foram pagos em 2023 no período. Ao todo são 86,4 mil participantes ativos e 53,3 mil aposentados e pensionistas, dos quais 44,7 mil aposentados e 8,4 mil pensionistas, totalizando 139 mil participantes.
“Nós tivemos um estatuto lá de 2007 conhecido como estatuto dos participantes, ele foi feito de forma democrática e foi derrubado de forma totalmente antidemocrática em 2020 com pontos que acabam com a paridade, facilitam a retirada de patrocínio. Isso ataca diretamente o participante. A gente tem um fundo de pensão de R$ 105 bilhões de ativos, é o terceiro maior fundo de previdência fechada do país. Esse dinheiro é do patrocinador? Esse dinheiro é nosso. Então como os dados são sigilosos e as decisões são tomadas sem os participantes? A gente tem de participar das decisões”, afirmou Tamara Siqueira, conselheira fiscal suplente da Funcef.
“A direção da Caixa acha que tudo bem os participantes abrirem mão de direitos. Isso é inadmissível. Nós queremos discutir o equacionamento. Outra proposta é possível! Esta discussão não pode ser desta forma, não pode ser chantageando as pessoas. Nós não vamos aceitar isso. Queremos que a Funcef garanta a participação dos empregados em tudo o que tem a ver com os planos de benefícios”, acrescentou a dirigente.