O 34º Congresso Nacional dos Funcionários do Banco do Brasil (CNFBB), realizado em São Paulo, teve sequência nesta quarta-feira 5. Os trabalhos tiveram início com a aprovação do regimento interno do 34º CNFBB e com falas dos representantes da CEBB (Comissão de Empresa dos Funcionários do Banco do Brasil), das centrais sindicais e de correntes políticas.
“Temos muitas coisas para discutir aqui. Muitos assuntos de extrema importância para o funcionalismo. Sabemos que a maior parte das discussões e das pautas que nós vamos abordar aqui não são nenhuma novidade. Elas vêm se arrastando do período anterior. Dos governos Temer e Bolsonaro nós herdamos reestruturações, adoecimento, questões sobre as quais precisamos avançar”, disse na sua fala de abertura Antonio Netto, representante da Fetec-CUT/SP na CEBB.
“Existe uma expectativa grande da nossa base, que acompanha uma alta lucratividade do banco, e quer que isso seja revertido nos salários, nos planos de carreira. É para isso que estamos aqui. Para tirar propostas e encaminhar uma discussão para uma campanha que seja vitoriosa”, completou o dirigente.
“Teremos dois dias de muita conversa, muito diálogo, para sairmos daqui levando o melhor destes debates para os colegas nos locais de trabalho, para que eles acompanhem todas as etapas desta campanha que se inicia”, disse a coordenadora da CEBB, Fernanda Lopes.
Desafios da sociedade e dos trabalhadores
A primeira mesa de debates do 34º CNFBB debateu os desafios da sociedade e dos trabalhadores, e teve como convidados José Dirceu, ex-ministro chefe da Casa Civil no primeiro governo Lula; e Juvandia Moreira, presidenta da Contraf-CUT e uma das coordenadoras do Comando Nacional dos Bancários.
Na sua fala, na qual analisou a conjuntura nacional e internacional, José Dirceu afirmou que o Brasil precisa de unidade em torno de um projeto de país. “Temos que focar em duas frentes: fazer uma aliança política que priorize o crescimento econômico, com um projeto de país; e uma revolução social. Fazer uma reforma tributária, uma reforma do sistema financeiro bancário, que dê ao Brasil o que é dele, o que ele merece”, enfatizou.
Dirceu também destacou o papel dos bancos públicos neste projeto. “O Brasil tem bancos públicos. 50% do crédito e dos ativos está aqui. É um instrumento para o crescimento. Foi assim que a China moveu em grande parte a sua economia.”
Por sua vez, Juvandia abordou a Pauta da Classe Trabalhadora, atualizada na marcha da classe trabalhadora, realizada em Brasília no último dia 22 de maio. “Uma das nossas grandes preocupações, na pauta da classe trabalhadora, é a reindustrialização. Como pensar na reindustrialização, em soluções para o emprego, se este Parlamento não tem compromisso com um projeto de país?”
A presidenta da Contraf-CUT apontou ainda a importância do fortalecimento da negociação coletiva; da redução dos juros; e de eleger candidatos comprometidos com os interesses dos trabalhadores.
Previdência
A segunda mesa do 34º CNFBB teve como tema Previdência, e recebeu os convidados João Fukunaga, presidente da Previ; Paula Goto, diretora de planejamento da Previ; e Marcel Barros, presidente da Anapar (Associação Nacional de Participantes de Fundos de Pensão e de Autogestão em Saúde).
No início da sua intervenção, João Fukunaga destacou a importância do movimento sindical para o fortalecimento da Previ.“Boa parte das pautas da Previ foram construídas aqui, neste congresso, nas nossas mesas de previdência. Uma delas, inclusive, é a tabela PIB, que foi defendida na campanha salarial e saiu do CNFBB."
Já Paula Goto falou sobre questões como a governança da Previ e as práticas Ambientais, Sociais, de Governança Corporativa e de Integridade (ASGI) da Caixa de Previdência dos Funcionários do Banco do Brasil, destacando também o caráter associativo do fundo de pensão. “A Previ surgiu pelos funcionários do Banco do Brasil e para os funcionários do Banco do Brasil.”
Por fim, Marcel Barros abordou algumas ameaças legislativas contra os fundos de pensão fechados como, por exemplo, a PLP 268/2016, que propõe que as entidades devem buscar pessoas “do mercado” para fazer a sua gestão, e pontuou que os legítimos donos da Previ são os seus associados. “Nós, enquanto trabalhadores, somos os legítimos donos da Previ. Não é do Banco do Brasil. É dos funcionários do Banco do Brasil.”
Papel dos bancos públicos no desenvolvimento do país
O papel dos bancos públicos no desenvolvimento do país foi o tema da terceira mesa de debates do 34º CNFBB, que contou com apresentações dos economistas Juliane Furno e Gustavo Cavarzan.
Na sua fala, a cientista social, economista e doutora em Desenvolvimento Econômico pela UERJ, Juliane Furno, que também é assessora da diretoria do BNDES, desmontou o mito neoliberal de que o estado e o mercado estão em oposição, que quando existe um estado forte toma-se espaço do mercado privado. “O papel dos bancos públicos é submeter as finanças aos objetivos do desenvolvimento nacional, uma lógica diferente do setor privado, que é guiado pela maximização do lucro no menor tempo possível.”
Já Gustavo Cavarzan apresentou dados que comprovam o papel dos bancos públicos para o desenvolvimento do país como, por exemplo, o fato destas instituições serem responsáveis por 74,2% do crédito habitacional e 75,8% do crédito rural no país.
Também mencionou que os bancos públicos foram responsáveis por 90,4% das operações de crédito na região Norte; 87,8% no Nordeste; 85,7% no Centro-Oeste; 77,7% no Sul; e somente no Sudeste, região de maior concentração econômica, os bancos públicos possuem participação menor que os privados, com 26,2% do crédito.
Além disso, a presença física também evidencia a diferença de atuação regional entre bancos públicos e privados. Somente no Sudeste os bancos privados possuem mais agências que os bancos públicos.
“Desenvolvimento e bancos públicos são uma coisa só. Um não existe sem o outro”, concluiu o economista, que também atua na subseção do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) na Contraf-CUT.
Saúde e Condições de Trabalho
A última mesa de debates do segundo dia do 34º CNFBB teve como tema Saúde e Condições de Trabalho.Abrindo a mesa, Mauro Salles, secretário de Saúde da Contraf-CUT apresentou um resumo da pesquisa “Avaliação dos Modelos de Gestão e das Patologias do Trabalho Bancário”, realizada pela Contraf-CUT, em colaboração com pesquisadores do Instituto de Psicologia da Universidade de Brasília (UNB).
Entre outros dados, a pesquisa apontou que 76,5% dos trabalhadores do ramo financeiro declaram ter tido ao menos um problema de saúde relacionado ao trabalho no último ano. Destes, quase metade está em acompanhamento psiquiátrico. Dos que estão em acompanhamento psiquiátrico, 91,5% estão utilizando medicações prescritas pelo psiquiatra.
“A saúde, o combate ao adoecimento, tem que ser prioridade em nossa campanha nacional”, enfatizou Mauro Salles.
Na sequência, Graça Machado, vice-presidenta de Relações Institucionais da ANABB (Associação Nacional dos Funcionários do Banco do Brasil) e conselheira deliberativa eleita da Cassi, apresentou um panorama da situação da Cassi, Caixa de Assistência dos Funcionários do Banco do Brasil, e elencou os desafios a serem enfrentados. “Temos de enfrentar o desafio do custeio; o desafio dos funcionários pós 2018; o desafio dos funcionários dos bancos incorporados. Podem contar com todo o Conselho Deliberativo eleito da Cassi. Essa luta é nossa.”
Por fim, o presidente da Cassi, Cláudio Said, apresentou ações da gestão e valorizou o atual modelo de gestão da entidade, com aumento dos investimentos em atenção integral à saúde, focado na atenção primária. “Não é pagando pela cura, tão somente, que vamos dar mais qualidade de vida aos nossos associados e dependentes, mas prevenindo. E, com isso, também reduzimos os gastos da Cassi, tornando-a mais sustentável.”
Quinta-feira
Na quinta 6, último dia do 34º CNFBB, serão realizadas as reuniões das centrais sindicais e correntes políticas; a mesa de debates Igualdade de Oportunidades; e a plenária final, na qual será aprovada a minuta de reivindicações específicas dos bancários e bancárias do Banco do Brasil.