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Batalha contra o assédio moral exige solidariedade

Linha fina
Para o professor Roberto Heloani, que participa da 14ª Conferência Nacional dos Bancários, é preciso rever forma de organização do trabalho
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Curitiba – Apontado pelos trabalhadores como um dos temas mais urgentes nas últimas campanhas, o debate sobre saúde e condições de trabalho tomou boa parte da manhã deste primeiro dia da Conferência Nacional dos Bancários. O professor Roberto Heloani, da Universidade Estadual de Campinas, ressaltou a atual forma de organização do trabalho, tanto bancário como de outras categorias, como a responsável direta pelo assédio moral. “Pensar que o assédio moral é causado somente pela postura do gestor ficou para trás. O assédio acontece quando eu vejo o outro como instrumento, passível de se jogar fora”, sentenciou.

> Vídeo: Heloani explica assédio moral

O professor defende que quem pratica o assédio moral naturaliza o processo, até mesmo de forma inconsciente, e não consegue pensar mais. E que a responsabilidade por esse quadro é da organização do trabalho, da empresa.

Heloani explicou que as consequências do assédio moral e das relações de trabalho são muito evidentes na vida de cada pessoa e que são resultado não de conflitos, naturais no ambiente de trabalho, mas do isolamento. “O indivíduo torna-se um péssimo funcionário, é a alavanca para jogar o cara para fora, para ser demitido.”

Consequências – O processo de isolamento do trabalhador, oriundo do assédio moral sofrido, e o consequente desemprego, criam para o sujeito um ciclo perverso: o homem perde sua identidade como provedor do lar, sua representação social, o casamento muitas vezes acaba, sua identidade pessoal fica comprometida, e ele chega a pensar em se matar.

“A nova configuração do trabalho atinge as relações familiares, o sujeito se torna insuportável para ele mesmo”, apontou Heloani, lembrando o processo de reengenharia de um banco público que teve como consequência o suicídio de 26 bancários, 19 deles dentro das agências onde eram seus locais de trabalho. “É uma organização de trabalho que não tem um pingo de respeito pelo ser humano.”

> Vídeo: Walcir Previtalle diz que prática é organizacional

Na opinião do professor, que também é psicólogo, o principal ponto de conflito para as mulheres é quando ocorrem problemas com os filhos e citou exemplos como casos de doenças ou relação com drogas. A mulher é a primeira a ser cobrada. A pressão vem de todos os lados: por seu papel de mãe e pela ótica de que quem paga seu salário é o banco e não o filho. “As pessoas são humilhadas, vilipendiadas, chutadas, enlouquecidas e descontam na família, nas pessoas mais próximas.”

Ética e moral – Roberto Heloani apontou outro quesito que interfere no funcionamento das relações de trabalho: os trabalhadores bancários sofrem porque têm princípios. “No sistema de metas, o que interessa é o resultado, não o processo. As pessoas têm vergonha de olhar nos olhos dos clientes, por pudor, por vergonha. A organização do trabalho está gerando isso.”

Para ele, o bancário pode ter metas a cumprir, desde que não sejam absurdas e impossíveis de serem cumpridas. “Os bancários são obrigados a vender aquilo em que eles não acreditam.” Heloani chama esse processo de cultura do cinismo. “Quando você age dessa forma, reproduz essa lógica, de forma inconsciente, para seu próprio colega. Quando vem a cobrança, você não tem apoio de ninguém, é o assédio horizontal.”

Roberto Heloani finalizou sua exposição chamando a atenção dos bancários sobre como combater o assédio moral. “Falta coesão e solidariedade do grupo. Só vamos vencer essa batalha revendo a forma de trabalhar, não fazendo com os outros o que não queremos que façam com a gente”.


Paula Padilha
Rede de Comunicação dos Bancários - 20/7/2012

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