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Chapéu
Visionário e transformador

Legado de Augusto Campos trilhará futuro do sindicalismo

Linha fina
Companheiros que conviveram e aprenderam com líder bancário lamentam sua morte e afirmam que sua visão influenciará o futuro da organização dos trabalhadores
Imagem Destaque
Foto: Seeb-SP

São Paulo – Grande articulador, visionário, solidário, transformador, guru, referência na luta sindical, mestre. Essas são algumas das características lembradas por outros líderes que conviveram e aprenderam com Augusto Campos, presidente do Sindicato dos Bancários entre 1979 e 1985, e um dos principais responsáveis – ao lado de dirigentes como Luiz Gushiken – pela retomada da organização bancária, ainda durante a ditadura militar. Augusto morreu na terça-feira 18 de julho, em São Paulo, aos 75 anos, em decorrência de complicações no tratamento de um câncer. Funcionário do antigo Banespa, foi também vereador pelo PT na capital paulista (2001-2004)  

Homenagem a uma história de luta e resistência

No início dos anos 1970, Augusto, ajudou na articulação e organização dentro dos bancos públicos, como Banco do Brasil e Banespa, para que o Sindicato tomasse outro rumo, fazendo oposição ao modelo vigente, ao imposto sindical, e à interferência da Justiça.

> Sindicato dos Bancários lamenta morte de Augusto Campos
> Augusto Campos inaugurou uma nova forma de sindicalismo

“Morreu meu guru, meu modelo, minha referência sindical”, declarou o presidente da CUT, Vagner Freitas, em uma rede social. “Augusto Campos respeitava as divergências e diferenças, era extremamente democrático, amigo, companheiro. Amizade para ele era estar à disposição do outro o tempo todo. Vá em paz, grande mestre!”, acrescentou Vagner. 

“Seu comprometimento com os trabalhadores fez com que, durante a ditadura militar, mudasse a forma de fazer sindicalismo, unindo os trabalhadores e inaugurando uma nova forma de negociar com os banqueiros, sem que a Justiça interviesse nas negociações, com greves combativas e assembleias fortes. Foi um defensor da liberdade e um grande líder na defesa dos trabalhadores”,  disse Ivone Silva, presidenta do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região, em nota oficial da entidade.

Vagner, Vaccari, Gilmar, Gushiken, Juvandia, Augusto, Berzoini e Marcolino
(Foto: Paulo Pepe)


“Augusto foi a pessoa mais importante no sindicalismo bancário desde a década de setenta”, escreveu em seu blog Gilmar Carneiro, que presidiu o Sindicato entre 1991 e 1994, e grande amigo do Véio do Rio, como era carinhosamente apelidado pelos companheiros. “Um guru, uma pessoa que tinha como missão de vida contribuir para a formação da consciência de classe dos trabalhadores.”

Para Luiz Claudio Marcolino, que presidiu o Sindicato entre 2005 e 2011, Augusto Campos foi um líder com visão além do seu tempo. “Ele tinha um olhar para as próximas décadas e buscava fazer com que as pessoas acompanhassem e pudessem ter conhecimento das estratégias para que a organização e a luta fossem transformadas em ação coletiva.”

Augusto Campos foi eleito presidente do Sindicato no movimento que ficou conhecido como "retomada", quando a entidade se livrou das amarras impostas pela ditadura que dominou o país entre 1964 e 1985. Sob seu comando, em 1979, é organizada a primeira greve da categoria em décadas, ainda durante o regime militar e sob forte repressão. 

“Ele tirou o Sindicato das mãos da ditadura, fez uma transformação interna da estrutura sindical, e quando as pessoas tinham medo e não conseguiam se organizar, teve a coragem de fazer o enfrentamento. Nesse período, ajudou a construir o debate da unificação do salário mínimo e da criação da Central Única dos Trabalhadores”, resgata Marcolino. “Foi uma pessoa que lutou a vida inteira, ajudou a repensar o movimento sindical e deixa lições de vida e de luta. No momento atual em que a reforma trabalhista acaba de ser aprovada, seu legado servirá para que possamos trilhar os próximos 30, 40 anos da estrutura sindical. Foi uma pessoa que sempre esteve à disposição para ouvir e apontar o caminho.”

Ricardo Berzoini, que presidiu o Sindicato entre 1994 e 2000, destaca que Augusto foi decisivo para renovar a estrutura sindical com a criação da Fetec-CUT/SP, no final dos ano 1980. “A Fetec quebrou, junto com a Confederação Nacional dos Bancários [hoje Contraf-CUT], a estrutura sindical da pelegada. Ele trouxe uma nova cultura dentro da categoria de investir na luta e organização de base, e estimulou os sindicatos a atuarem além da relação capital e trabalho, participando das discussões que envolvem as comunidades e a sociedade”, declarou.

Augustão e Berzoini


“O Augusto é um dos responsáveis por termos a organização nacional forte que temos, por termos construído uma convenção coletiva nacional. Um companheiro que via além do seu tempo, um visionário. Um dos líderes do novo sindicalismo que prestou uma enorme contribuição à classe trabalhadora. Obrigada, Augustão”, declarou Juvandia Moreira, vice-presidenta da Contraf e presidenta do Sindicato entre 2011 e 2017. 

“Sua liderança deixou um legado não somente para a categoria dos bancários, mas ajudou a fortalecer a luta dos trabalhadores de todo país”, postou o presidente do Brasil entre 2003 e 2010, Luiz Inácio Lula da Silva, em uma rede social. “Augusto Campos foi e continua sendo um companheiro inesquecível de lutas. Tive o prazer de ser presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC quando ele, depois de nove anos na oposição sindical, derrotou o peleguismo e foi eleito presidente do Sindicato dos Bancários, entidade que ele transformou. Depois, participou da fundação da CUT e do PT. Augusto Campos jamais será esquecido”, afirma Lula.

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