São Paulo - Constantemente enchendo a boca para alardear uma suposta responsabilidade com o dinheiro público, Michel Temer age diferente longe dos holofotes. Segundo a ONG Contas Abertas, ele garantiu R$ 134 milhões apenas no mês de junho para 36 dos 40 deputados que rejeitaram relatório autorizando o julgamento do presidente por crime de corrupção passiva.
O relatório foi rejeitado na quinta 13 pela Comissão de Constituição de Justiça e Cidadania (CCJ) da Câmara dos Deputados. Ainda assim, a solicitação do julgamento será analisada pelo plenário da Casa e, se for aprovado, Temer poderá virar réu em processo no Supremo Tribunal Federal.
Curiosamente, o deputado com mais recursos comprometidos foi Paulo Abi-Ackel (PSDB-MG) - R$ 5,1 milhões somente em junho - responsável na CCJ por apresentar relatório favorável a Temer (contra a denúncia) logo após o original (favorável à denúncia) ter sido rejeitado.
Outro que também garantiu verbas para seus projetos foi o deputado Beto Mansur (PRB-SP): R$ 5 milhões. Ele foi colocado na CCJ dois dias antes da votação, em um dos troca-trocas promovidos por Temer.
Também recebeu R$ 5 milhões outro defensor ferrenho de Temer, Carlos Marun (PMDB-MS), outro colocado às pressas por Temer, no lugar de José Fogaça (PMDB-RS).
De acordo com o secretário-geral da ONG, Gil Castello Branco, o valor é atípico para o período. “Isso não é uma ilegalidade", disse Castello Branco para o site G1. Mas, segundo ele, neste ano o governo concentrou um grande volume de recursos no mês de junho. Antes, afirmou, "não tinha sido empenhado praticamente nada”.
Para efeito de comparação, entre janeiro e maio, o governo liberou, ao todo, pouco mais de R$ 102 milhões a todos os parlamentares. Somente em junho, foram R$ 2,02 bilhões. “Essa é a expressão em números de que o governo deixa essas liberações às vésperas de votações importantes na tentativa de obter os votos”, declarou.