O home office que até 2013, ocorria de forma tímida no setor bancário teve de ser acelerado devida a pandemia de coronavírus e pode ser uma modalidade de trabalho que deve permanecer na categoria bancária. Os dados foram apresentados durante a terceira mesa da 22ª Conferência Nacional dos Bancários que falou sobre os impacto da crise sanitária no sistema financeiro.
A Conferência, que reúne bancários de todo o Brasil está sendo realizada pela primeira vez de forma virtual. Iniciou na noite desta sexta-feira 17 e vai até o final deste sábado 18.
Para o economista do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), Gustavo Cavarzan, há uma forte tendência de que a digitalização e o tetetrabalho nos bancos sejam a nova realidade e passam a ser cada vez mais implementados a partir deste anos já que a crise sanitária impactará significativamente no lucro dos bancos em 2020.
"Os bancos tiveram um lucro recorde de R$ 108 bilhões em 2019, e como neste ano, os resultados serão menores, eles precisarão reagir a esse cenário. E para conseguir alcançar o resultado que esperam estão investindo pesado na automação e digitalização dos sistemas por conta do crescimento nas transações via mobile e internet banking e com os bons resultados gerados por conta do teletrabalho, o que reduz drasticamente as despesas de pessoal e administrativas, além dos custos fixos", destaca.
Outra reação dos bancos para retomar o crescimento será com o fechamento de postos de trabalho e de agências físicas, migrando cada vez mais para o digital.
"Com a pandemia, os bancos fizeram um investimento de 25 bilhões em tecnologia. Desde que começou o isolamento social, as transações via internet banking cresceram cerca de 40% em 2020, e somente no mês de abril subiu para 67% as operações via aplicativos. As interações com robôs também cresceram 78% e está substituindo cada vez o trabalho humano, o que gera uma economia para os bancos", explica.
Ainda segundo o Dieese, desde 2013, houve uma redução de 70 mil postos, e em 2014 foram fechadas 3.400 agências físicas em todo o Brasil.
Impacto do teletrabalho na saúde
Por mais que a maioria dos bancários estejam preferindo a opção do teletrabalho, por conta da pandemia, uma pesquisa realizada pelo Dieese na categoria bancária, comprovou alguns debates que já vem sendo discutindo pelo movimento sindical: jornadas extensas, sobrecarga de trabalho, novas doenças e a dificuldade cotidiana conciliar trabalho e tarefas domésticas.
Apresentada pela sociológa e também economista do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), Barbara Valejjos, a pesquisa foi respondida por 11.133 bancários, sendo 48% do sexo feminino e 51% do sexo masculino, entre os dias 1 e 12 de julho.
A pesquisa revelou que 98% passaram para o home office por conta da pandemia; a maioria(30,5%) dividem a residência com 3 pessoas; (49%) têm filhos em idade escolar; usam a sala (44%), para realizarem o home office; e que para as mulheres (15,7%) há uma grande sobrecarga de trabalho por conta do acúmulo de tarefas domésticas e se têm, filhos, fica mais difícil se concentrarem no trabalho.
A pesquisa revelou também que o home office tem causado mais pressão para o cumprimento de metas e conseqüentemente problemas de saúde como dores musculares, fadiga, ansiedade por conta das horas trabalhadas, mobílias e equipamentos inadequados para o desenvolvimento do trabalho.
"Os bancários acabam sendo responsabilizados por gerir o próprio trabalho e lidar com as metas e ao mesmo tempo aparece a insegurança pelo medo de ser esquecido ou de perder algumas oportunidades. Isso gera um desconforto na saúde que já aparecia, e agora, em apenas quatro mesmo, aparece deforma mais intensa. O movimento sindical precisa ficar atento porque daqui a um ano, os resultados podem ser ainda bem piores para os trabalhadores", destaca.
Barbara ainda mostra que o home office acabou transferindo os custos das empresas para os trabalhadores e isso precisa ser rediscutido com os bancos. Já que 31% dos participantes disseram ter tido um aumentou na conta de luz; 16% revelou ter aumentado muito os gastos com internet e 34,9% notou gastos excessivos com supermercado.
"Os desafios dessa campanha será discutir jornada de trabalho, saúde e questões relativas a gênero. Essa conta não pode ser transferida para os trabalhadores e tudo precisa ser acordado ponto a ponto com os bancos", finaliza.
Legislação
O assessor jurídico da Contraf-CUT, Jefferson de Oliveira , disse que há grande desafio para o movimento sindical ao ter de negociar como os bancários estarão respaldados perante as leis trabalhistas. O que existe hoje é insuficiente e é necessário que a negociação coletiva faça a adequação para o setor bancário do que é estabelecido na CLT para o que efetivamente ocorre com os bancários.
"É preciso deixar claro o que é teletrabalho, como será realizado e onde, e quais as atribuições que serão de responsabilidade do empregador e empregado. Isso precisará constar num aditivo à convenção dos bancários para que se faça valer a lei e não gerar prejuízos aos trabalhadores".
O assessor jurídico da Contraf-CUT lembrou que foram feitas apenas duas alterações legislativas visando atender essa nova situação: em 2011, fora dos moldes que temos hoje, e na Reforma Trabalhista, com a inclusão de cinco artigos que definem o que é teletrabalho juridicamente.
"A transformação do seu regime presencial para o teletrabalho só é possível com um mútuo acordo, mas o contrário não é verdade, basta o empregador avisar com 15 dias de antecedência. E tudo isso tem que ser feito através de um aditivo em seu contrato. Toda e qualquer alteração a respeito da responsabilidade do fornecimento e manutenção dos equipamentos necessários para a realização do teletrabalho terá que ser discutido e pactuada neste instrumento aditivo, que vai regrar as condições do seu trabalho".