São Paulo – A irresponsabilidade dos bancos com a vida de seus funcionários, ao entregar a bancários chaves de cofres e de agências, continua fazendo vítimas, algumas fatais.
Uma delas foi gerente do Bradesco que, no caminho de casa ao trabalho, foi sequestrada e assassinada. Ela estava com a chave do cofre da agência. O caso ocorreu em 2006 e, este mês, a família da bancária, morta aos 27 anos, teve reconhecido pela Justiça Trabalhista o direito a indenização.
O Tribunal Regional do Trabalho de São Paulo (TRT da 2ª Região) entendeu que, ao encarregar a funcionária de ficar com as chaves, o banco seria o responsável por qualquer violência que viesse a lhe acontecer. Gerente na agência Parque Novo Mundo do Bradesco, a trabalhadora foi sequestrada quando dirigia a caminho do banco, por volta das 8h. Horas depois seu corpo foi encontrado nos arredores de Guarulhos. Nada foi roubado da bancária, mas não foram encontradas a chave nem o cartão de identificação da funcionária. O TRT condenou o Bradesco a pagar indenização por danos morais aos pais da trabalhadora.
Por ter acompanhado de perto o caso, a presidenta do Sindicato, Juvandia Moreira, na época secretária-geral da entidade, foi chamada pelo advogado que representou a família da bancária como testemunha no processo. “Uma das nossas lutas na área de segurança bancária é para acabar com isso. Bancário não tem de carregar chave de cofre ou dinheiro”, disse.
Pauta – Nesta terça-feira 21, o Comando Nacional dos Bancários debate com os representantes da federação dos bancos as reivindicações da categoria para segurança bancária. Os trabalhadores querem que seja proibido o transporte de chaves e valores por bancários. Exigem ainda a instalação de portas de segurança nas agências e a colocação de biombos nos terminais de autoatendimento e entre os caixas e a fila de clientes, como forma de evitar o chamado crime da saidinha.
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Demitidos – Após passarem por assalto e ameaças, dois funcionários do HSBC que eram incumbidos pelo banco de guardar as chaves do cofre, foram demitidos.
Em 12 de março passado, assaltantes entraram na agência antes das 10h, renderam funcionários e esperaram o gerente de atendimento e o coordenador de atendimento responsáveis por guardar, cada um, uma das chaves necessárias para abrir o cofre da unidade. “Eles mostraram fotos minhas e do meu colega, entrando e saindo da garagem do banco, e também fotos da frente da minha casa”, conta o ex-tesoureiro.
Depois do trauma, o trabalhador ficou 14 dias de licença e o gerente teve de ficar afastado por cinco meses. Dias depois de o gerente voltar da licença, os dois foram demitidos. “Eles alegaram descumprimento de normas, mas não foram claros. Como nós dois fomos demitidos no mesmo dia e horário, só posso achar que foi por causa do assalto. É uma injustiça, pois além de passarmos por essa violência e nos sentirmos alvos dos bandidos, ainda somos ‘recompensados’ dessa forma pelo banco”, critica o ex-funcionário.
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De acordo com Juvandia, os dois casos ilustram muito bem que, ao passar chaves ou valores aos funcionários, o banco os torna alvos de violência. “Não é atribuição dos bancários cuidar das chaves do banco. As instituições financeiras têm todas as condições de investir em segurança e mostrar mais respeito à vida de trabalhadores e clientes”, afirma.
Dados – Pesquisa realizada pela Contraf-CUT e pela Confederação Nacional dos Vigilantes (CNTV) mostra que os ataques a bancos cresceram 50,48% no primeiro semestre deste ano, em relação a igual período do ano passado.
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De janeiro a junho de 2012 foram 1.261 ocorrências em todo o país – das quais 289 no estado de São Paulo, que lidera em número de casos –, o que dá uma média assustadora de 6,92 por dia. Desse total, 377 foram assaltos, inclusive com sequestros de bancários e vigilantes, e 884 foram arrombamentos a agências, postos de atendimento e caixas eletrônicos. Já no primeiro semestre de 2011 foram registrados 838 casos, dos quais 301 assaltos e 537 arrombamentos.
As ocorrências também cresceram em relação ao segundo semestre de 2011, quando foram verificados 753 ataques, dos quais 331 assaltos e 422 arrombamentos.
Outra pesquisa feita pelas mesmas entidades mostra que chegou a 27 o número de mortos em assalto a bancos no primeiro semestre deste ano, um aumento de 17,4% em relação ao mesmo período de 2011, quando foram registradas 23 mortes.
“O aumento das ocorrências e das mortes aponta que as instituições financeiras não estão investindo o suficiente na proteção das pessoas. Mas segurança é coisa séria e vamos para a mesa de negociação dispostos a arrancar dos bancos respostas positivas às nossas reivindicações”, afirma Juvandia.
Mais números – Em 2011, os cinco maiores bancos do país apresentaram lucros de R$ 50,7 bilhões, mas os investimentos em segurança e vigilância somaram apenas R$ 2,6 bilhões, o que significa 5,2%, em média, na comparação com os lucros.
Estatística da própria Febraban mostra que houve redução de assaltos após instalação da portas de segurança a partir do final dos anos 1990. O número caiu de 1.903 em 2000 para 369 em 2010. Mas houve aumento em 2011, para 422, ano em que o Itaú retirou portas giratórias nas reformas das agências e o Bradesco inaugurou unidades sem esse equipamento ou com número insuficiente de vigilantes.
Andréa Ponte Souza - 21/8/2012
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Em mesa de negociação, categoria exige portas giratórias, instalação de biombos e a proibição de que bancários portem chave de cofres ou valores
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