São Paulo – Balanço divulgado pelo Ministério da Saúde (MS), sobre a primeira fase de inscrições do Programa Mais Médicos, revelou que dos 1.618 profissionais selecionado, 522 tem atuação e registro no exterior, ou 32% do total.
Segundo o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, estes profissionais devem chegar ao Brasil no final de agosto e terão três semanas de treinamento e adequação à realidade do Sistema Único de Saúde (SUS), sob supervisão de universidades e secretarias estaduais de saúde. Também irão passar por processos de checagem em relação a conhecimentos e língua portuguesa. O atendimento nos municípios deve começar em outubro. O balanço foi divulgado na quarta 14.
Dos 3.511 municípios que se inscreveram no programa, 703 não foram escolhidos por nenhum médico, incluindo os estrangeiros.
Os participantes do programa correspondem a 10,5% dos 15.460 profissionais necessários, segundo demanda apresentada pelos municípios. Os diplomas estrangeiros são de 32 países. A maioria da Argentina (141), seguida por Espanha (100), Cuba (74), Portugal (45), Venezuela (42), México (26) e Uruguai (25). Cerca de 70% dos médicos, tanto estrangeiros quanto brasileiros, se formaram nos últimos dez anos.
Padilha disse esperar que mais médicos formados no exterior e recém-formados no Brasil se inscrevam no programa na segunda etapa. A prioridade será para as 703 cidades totalmente descobertas.
O edital seguinte será lançado na sexta-feira 16, e o sistema para inscrições estará aberto a partir de segunda 19.
“Em agosto temos expectativa de que vários médicos que se formaram em julho aqui no país se inscrevam, já recebemos sinalizações, e profissionais de países do hemisfério norte, em que as férias ocupam julho e agosto.”
Cobertor pequeno - Padilha reforçou que a falta de interesse de atendimento para 703 locais reforça a tese de que não há médicos suficientes no país para atender em saúde básica da família em regiões periféricas e no interior do país, com alta vulnerabilidade social. A afirmação é rejeitada por entidades médicas, que desde o início de julho, quando o programa foi lançado, criticam o Mais Médicos.
“Ficou claro nestes primeiros 15 dias de inscrição que o país não tem número suficiente de médicos para atendermos todas as áreas carentes do país. Nossa estratégia está certa, em apoiar primeiro o médico brasileiro, mas certamente estava correto o diagnóstico do ministério que para cobrir áreas carentes do país o número de médicos do Brasil é insuficiente. O cobertor é curto, ou se cobre só parte do colchão ou se busca colcha em outro lugar para emendar com o cobertor”, afirmou.
De acordo com o ministério, 67,3% dos médicos vão atuar em regiões de extrema pobreza e distritos de saúde indígena.
“Essa foi uma estratégia importante para ocupar postos em região de fronteira”, disse o ministro. Ainda segundo o ministério, 95% dos municípios que receberão médicos do programa já estão executando programas de investimentos em infraestrutura e manutenção de unidades básicas de saúde.
Ele ressaltou também que a atenção básica à saúde é responsável por evitar 80% dos problemas de saúde que tem de ser resolvidos em ambiente hospitalar, e que é necessário que o “paradigma de que saúde só é feita no hospital” tem de acabar.
“Uma das questões que este programa traz é debater o paradigma de que a saúde deve começar fora do hospital, deve haver infraestrutura adequada para atender as pessoas fora do hospital. Deve-se romper com a mentalidade do SUS de ainda hoje, que para atender a pessoa tem que ter equipamento entre você e a pessoa. Isso contribui para debate da formação do médico, de dar mais atenção à saúde básica da família. A pessoa vai lá, o profissional não conversa, não olha, não sabe o que a pessoa faz, o que come, pede 15 exames e todos acham que foi bem atendida.”
Depois da entrevista coletiva que divulgou o balanço do Mais Médicos, o ministro Padilha foi à Comissão de Seguridade Social da Câmara dos Deputados para falar sobre a contratação de médicos estrangeiros para atuarem no país.
Júlia Rabahie, da Rede Brasil Atual, com informações da Agência Brasil - 14/8/2013
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Grupo mais numeroso vem da Argentina, seguido por Espanha e Cuba; 703 cidades continuam sem profissionais
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