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Chapéu
25ª Conferência Nacional dos Bancários

Bancários debatem transformações no mundo do trabalho, tecnologia e sistema tributário justo

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Palco com os integrantes da segunda mesa de debates da Conferência Nacional dos Bancários, tendo ao fundo painel com a arte da Conferência

A 25ª Conferência Nacional dos Bancários, aberta oficialmente na noite de sexta 4, prosseguiu neste sábado 5 com quatro mesas de debates sobre temas importantes para a categoria bancária, para os trabalhadores em geral e para a sociedade.

A primeira mesa, sobre conjuntura nacional e internacional, abordou as transformações que estamos vivendo hoje no mundo, com a tecnologia, a comunicação digital e o avanço da extrema direita. A cientista política Tathiana Chicarino fez um resgate da história da democracia brasileira – da ditadura militar de 1964 às novas ameaças recentes – para alertar que precisamos reforçar os valores democráticos na sociedade brasileira. O segundo palestrante, o professor doutor Moisés Marques, diretor acadêmico da Faculdade 28 de Agosto, reforçou que, com o novo governo, o Brasil está recuperando a credibilidade internacional e retomando políticas fundamentais para restauração de um país dilapidado pelo governo anterior. Entre os desafios, ressaltou que o mercado financeiro precisa financiar projetos de infraestrutura no país e dar uma contrapartida à sociedade; e que é necessário manter a luta em defesa dos bancos públicos.

Tecnologia a serviço da sociedade

O segundo debate foi sobre a regulamentação das plataformas digitais e a inteligência artificial. A mesa teve como palestrantes o deputado federal Orlando Silva (PCdoB-SP) e o biólogo Atila Iamarino, e foi mediada pela presidenta do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região, Neiva Ribeiro.

“Hoje, a cada 10 operações bancárias, sete são digitais. O setor financeiro investe muito em tecnologia e a área de TI dos bancos é a que mais cresce, apesar de crescer ainda com poucas mulheres. O uso da tecnologia já está tirando os empregos da categoria. Para a maioria de nós, a tecnologia ainda é um desafio. Ainda temos que entender como organizar os trabalhadores e sensibilizar a sociedade sobre o fato que a IA e a tecnologia precisam ser usada com ética, a serviço da sociedade, e não do lucro de grandes corporações.”

Neiva Ribeiro, presidenta do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região

Relator do PL 2630/2020, que institui a Lei de Liberdade, Responsabilidade e Transparência na Internet, o deputado Orlando Silva destacou os ataques que o PL sofreu da imprensa comercial e das grandes empresas de plataformas digitais como Google, Spotify e Telegram. “A imprensa batizou de PL das Fake News, mas é uma lei que defende a liberdade de expressão, para que o usuário possa contestar a moderação de conteúdo das empresas que controlam as redes sociais. Que prevê combate à desinformação e ao modelo de ódio. Que exige transparência dessas grandes plataformas. E que prevê a responsabilização dessas empresas que estão lucrando com a incitação ao ódio e com divulgação de conteúdo falso. A importância da regulamentação das plataformas digitais é uma tarefa geracional.”

O biólogo Átila Iamarino, que se destacou na defesa da ciência e da vacina durante a pandemia, analisou a Inteligência Artificial hoje e disse que ferramentas como Chat GPT ainda são muito falhas nas tarefas que executam, mas que a tendência é serem cada vez mais eficientes no futuro. E destacou que, diante disso, o que se verá cada vez mais é uma crise da realidade. “Já existe e vai ser cada vez mais fácil criar imagens ultrarrealistas, voz parecida com as das pessoas. Vamos entrar na fase de criação dos vídeos, com imitações cada vez mais fiéis de personalidades e até criando pessoas que não existem. Nossa realidade pelos próximos anos vai mudar completamente e ela não vai ser mais tão real.” Mas ressaltou que é preciso lembrar que por trás dessas ferramentas há humanos e que são os humanos que estão definindo esses passos. “Precisamos focar menos na ferramenta e mais nas pessoas que estão definindo esses passos.”

Reforma tributária progressiva e distributiva

O sistema tributário brasileiros foi o tema da terceira mesa de debates, que teve como palestrantes a economista e técnica do Dieese Rosângela dos Santos e o ex-presidente do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região e ex-deputado federal e ex-ministro dos governos Lula e Dilma, Ricardo Berzoini.

A técnica do Dieese mostrou as características gerais do sistema tributário brasileiro, e destacou que ele é complexo, o que favorece a sonegação, e é injusto, uma vez que é regressivo: recai mais sobre o consumo do que sobre a renda, fazendo assim com que os mais pobres paguem proporcionalmente mais do que os mais ricos. Quando deveria ser progressivo: incidindo mais sobre a renda e fazendo assim com que os mais ricos paguem mais.

Ricardo Berzoini frisou que nosso sistema tributário é um dos mais injustos do mundo. “O nosso sistema tributário propaga e aprofunda cada vez a desigualdade. Se não resolvermos isso, não teremos um país justo. E não será o governo Lula que fará isso, por conta do Congresso atual, será a luta da classe trabalhadora. Temos que estudar o tema para conversar com os trabalhadores e temos que fazer manifestações de rua. O Brasil nunca será um país desenvolvido enquanto não fizer a reforma do sistema tributário e regulamentar o sistema financeiro.”

Transformações no mercado de trabalho

O tema da quarta e última mesa de debates do dia foi: Transformações no mercado de trabalho e organização do ramo financeiro, com os economistas e técnicos do Dieese Gustavo Cavarzan e Vivian Machado.

Vivian Machado destacou que os bancos brasileiros são o setor privado que mais investe em tecnologia no país, tendo somado R$ 34,9 bi de investimentos em tecnologia em 2022. Ela detalhou em que áreas esses investimentos foram aplicados, destacando que o setor financeiro está passando pelas 5ª (correspondentes bancários) e 6ª ondas de inovação, com as fintechs: hoje são 1.450 fintechs no país.

Gustavo Cavarzan destacou as profundas transformações no setor financeiro, com o uso da tecnologia, e na categoria bancária. “A cada onda tecnológica, uma parte do serviço financeiro sai do banco, vai para fora da estrutura do banco, ainda que o banco assuma o controle nessa cadeia de geração de riquezas. A categoria bancária não vai acabar, não está acabando, mas está mudando drasticamente.”

Ele citou que em 2012, a categoria representava 59% do emprego formal no sistema financeiro, e em 2021 já era 44%, com redução de 70 mil postos de trabalho (dos quais 20 mil são caixas de banco). Por outro lado, os outros segmentos do setor financeiro se expandiram, com os correspondentes, as fintechs, as plataformas. Gustavo destacou que ainda não se sabe o tamanho desse universo, mas ressaltou a necessidade de o movimento sindical procurar atuar junto a essa nova realidade. “Parece fundamental debater mudanças na estrutura sindical brasileira e também nas estratégias internas do movimento sindical para fazer frente a essa nova composição do mercado de trabalho. Nessa empreitada, é fundamental conhecer a realidade regional de cada base para definir prioridades e planos de ação.”

Domingo

A 25ª Conferência Nacional dos Bancários tem como tema: Brasil democrático sempre, com distribuição de renda, direitos, emprego decente e proteção do meio ambiente, e reúne 514 delegados que representam os bancários de todo o país. Ela prossegue neste domingo 6, com apresentação da consulta nacional feita junto à categoria e a plenária final com aprovação das resoluções do encontro.

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