
Em discurso durante a abertura da 5ª Reunião Plenária do Conselho de Desenvolvimento Econômico Social Sustentável (CDESS), o Conselhão, nesta terça-feira 5, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou a chantagem tarifária exercida pelo governo Trump e defendeu enfaticamente a soberania nacional.
“O dia 30 de julho de 2025 passará para a história das relações entre Brasil e Estados Unidos como um marco lastimável. Não há precedente, nos mais de 200 anos de relações bilaterais, de uma ação arbitrária como esta que sofremos. Nossa democracia está sendo questionada, nossa soberania está sendo atacada. Nossa economia está sendo agredida. Este é um desafio que nós não pedimos e que nós não desejamos”, declarou Lula.
O presidente ressaltou que em nenhum tarifaço aplicado a outros países houve tentativa de ingerência sobre na independência dos poderes.
“Vários setores da economia são afetados pela covardia dos que se associaram a interesses alheios aos das nossa nação. Proteger a nossa soberania é um objetivo que está acima de todos os partidos e de todas as tendências. O governo não transigirá e não vacilará em seu dever de preserva-la. Não há justificativa para as medidas unilaterais contra o nosso país”, disse Lula, lembrando que o Brasil é um dos poucos países com os quais os EUA mantém superávit comercial.
O presidente afirmou que o compromisso do governo é com os brasileiros. “Vamos colocar em execução um plano de contingência para mitigar esse ataque injusto e aliviar seus prejuízos econômicos e sociais.Vamos proteger trabalhadores e as empresas brasileiras que forem afetadas pelas medidas e recorrer a todas as medidas cabíveis, inclusive na Organização Mundial do Comércio (OMC), para defender os nossos interesses”, declarou Lula.
‘Brasil não é colônia de ninguém’
Neiva Ribeiro, presidenta do Sindicato dos Bancários de São Paulo e representante da classe trabalhadora no Conselhão junto com Juvandia Moreira, presidenta da Contraf-CUT, destacou que o Brasil vive um momento decisivo na reconstrução de sua democracia e na reafirmação da sua soberania.
“Neste contexto, é preciso destacar também a postura firme e soberana do Brasil no cenário internacional. A tentativa do presidente estadunidense, Donald Trump, de ameaçar países como o Brasil com sanções comerciais e taxações injustas demonstra o quanto nossa soberania incomoda quando não nos curvamos a interesses externos. A resposta do governo brasileiro, rejeitando com clareza essa tentativa de imposição, é um ato de coragem e de respeito à nossa autonomia. O Brasil não é colônia de ninguém. É um país com voz própria, e que deve ser respeitado como tal.”
Neiva Ribeiro participa de dois Grupos de Trabalho no Conselhão: Direitos e Democracia (CDD); e Tecnologia, Inovação e Transformação Digital (CTITD).
“O Conselhão, ao reunir diferentes setores da sociedade — inclusive o movimento sindical — é uma oportunidade de construirmos caminhos reais para um desenvolvimento sustentável, com distribuição de renda, valorização do trabalho, desafios da ampliação da tecnologia e respeito ao meio ambiente. É ali que podemos reforçar a defesa da democracia, dos direitos sociais e da soberania nacional”, pontuou.
Movimento sindical
Falando em nome do movimento sindical, o sociólogo Clemente Ganz Lúcio enfatizou a importância de o governo adotar uma estratégia consistente de enfrentamento da crise comercial e da agressão à soberania.
“E nesse conjunto de propostas nós ressaltamos a importância das medidas de curto prazo e também de longo prazo. Mas uma das tarefas fundamentais do movimento sindical é mobilizar a sociedade, os trabalhadores e as trabalhadoras em conjunto com a sociedade civil organizada para fazermos a manifestação da visão da sociedade e do seu posicionamento. Para isso nós estamos tomando iniciativas de articulação internacional com o movimento sindical dos Estados Unidos, do Canadá, da União Europeia, do México, para tratarmos dessas questões a partir da perspectiva do emprego”, ressaltou Ganz.
Reforma Tributária
Lula também criticou a injustiça tributária e defendeu uma reforma que vise cobrar mais impostos de rendas mais elevadas.
“É uma aberração. O Haddad fez uma proposta de isentar quem ganha R$ 5 mil. E colocamos para pagar essa diferença um grupo seleto que ganha um milhão por ano. E não é que essa gente achou ruim? E você não pode achar ruim porque paga 27,5% de imposto descontado na fonte. Quando você vê, já foi. Não pode nem sonegar. Nós só estamos querendo fazer um pouco de justiça tributária”, afirmou.
Redução do spread bancário
Neiva destacou que no cenário interno, outro inimigo da soberania é a política de juros altos. Neste contexto, o Grupo de Trabalho sobre spread bancário, do qual a Contraf-CUT faz parte, apresentou 40 propostas consensuais, divididas em seis eixos temáticos.
- Inadimplência, que representa 40% do custo do crédito;
- Prevenção e combate às fraudes, que já pesam no custo do crédito;
- Micro e pequenas empresas com fundos garantidores;
- Acesso dados e plataformas digitais;
- Custos e carga tributária no crédito na intermediação financeira;
- Fomentar a competitividade.
“A política de juros tem sido um verdadeiro fardo para os trabalhadores e para o povo pobre deste país. Juros elevados encarecem o crédito, dificultam o consumo, travam o investimento e aprofundam o endividamento das famílias”, ressaltou Neiva.
