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Mais Médicos é chance de superar atraso na Saúde

Linha fina
Além de aumentar número de profissionais, programa deve investir em infraestrutura; cubanos que atuarão no país já têm experiência internacional em atenção básica
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São Paulo – O Brasil vive uma carência crônica de médicos, sobretudo nas regiões mais pobres. O país possui apenas 1,8 médicos para cada mil habitantes, número abaixo dos apresentados por países vizinhos como o Uruguai (3,8/mil) e a Argentina (3,2/mil).

Em 13 estados brasileiros, a média é inferior a um médico para mil habitantes. Em 701 municípios, não há um médico sequer.

Lançado pela presidenta Dilma Rousseff e o ministro da Saúde Alexandre Padilha, o programa Mais Médicos do governo federal é uma tentativa de alterar esse quadro. O Ministério abriu 15 mil vagas, inicialmente para médicos brasileiros que tivessem interesse em trabalhar com a atenção básica de saúde em municípios com carência de profissionais e nas periferias das grandes cidades. Apenas 1.090 médicos brasileiros se inscreveram.

Após essa baixa procura pelo programa que oferece bolsa mensal de R$ 10 mil por profissional, o Mais Médicos passou a receber inscrições de outros países, como Espanha, Portugal e Argentina.

Experiência – Em um convênio firmado entre o Brasil e a Organização Pan Americana de Saúde (Opas), ligada à ONU, cerca de 4 mil médicos cubanos, com experiência internacional em atenção básica, chegarão ao Brasil até o final do ano. Cerca de 400 profissionais já desembarcaram no país e se preparam para atender a população estudando português (muitos deles já falam a língua) e aprendendo sobre a realidade que irão encontrar nas áreas mais afastadas do país.

O Ministério da Saúde informou que 91% desses 400 profissionais cubanos que participam do Mais Médicos serão deslocados para cidades do Norte e do Nordeste do país que não foram escolhidas por nenhum outro profissional inscrito no programa.

“Acesso à saúde pública e de qualidade é uma das principais bandeiras da pauta da classe trabalhadora”, afirma a presidenta do Sindicato, Juvandia Moreira. “Como defensores dos direitos da cidadania, à frente de um Sindicato Cidadão que mantém um olhar amplo para as necessidades dos bancários, não podemos nos furtar a apoiar um projeto como esse. O Programa Mais Médicos representa o primeiro enfrentamento, de fato, ao problema que o Brasil vive de falta de acesso à saúde.”

Excelência – Todos esses trabalhadores cubanos têm especialização em medicina familiar comunitária e já estiveram em missões na Venezuela, na Amazônia boliviana e no Haiti.

O trabalho dos médicos cubanos após o terremoto do Haiti em 2010 ganhou destaque em um artigo no jornal britânico The Independent, que considerou a atuação dos profissionais como “heroica”. Números apontam que 1,2 mil médicos cubanos estão trabalhando em 40 centros em todo o Haiti, tratando mais de 30 mil doentes de cólera de janeiro a outubro de 2010. Os cubanos foram a principal delegação de médicos naquele país.

A grande maioria deles profissionais (84%) tem mais de 16 anos de atuação como médico, 20% deles possui mestrado e 28% tem outro tipo de pós-graduação.

Infraestrutura – Setores da imprensa e associações dos médicos têm criticado o programa. Um dos argumentos é de que não há falta de médicos, mas de estrutura. Os números e a realidade de usuários do Sistema Único de Saúde mostram que há falta de médicos, sim. Além disso, o Mais Médicos não visa apenas a contratação de mais profissionais. Um investimento de R$ 7,4 bilhões em infraestrutura também está previsto no programa.

Esse montante seria destinado à construção de 14 novos hospitais universitários, 225 novas Unidades de Pronto Atendimento 24h (UPA) e 6 mil novas Unidades Básicas de Saúde. Mais de R$ 4 bilhões serão destinados à compra de equipamentos. Além, obviamente, da contratação de profissionais para atuar nessas novas unidades.

No longo prazo, o programa também prevê investimento na ampliação de vagas para formar mais médicos no país. A previsão do Ministério da Saúde é que sejam abertas 11,5 mil novas vagas em cursos de graduação em Medicina até 2026 e, com isso, o país conseguiria formar 600 mil médicos, número suficiente para atender a população. Hoje o país tem apenas 374 mil. Enquanto isso, portanto, a ajuda de estrangeiros é essencial para reverter o quadro de calamidade na saúde.

Outros países – A presença de médicos estrangeiros em um país não é sinônimo de problemas ou de perda de oportunidades para os profissionais locais. Ao contrário. Países com índices de desenvolvimento altos têm como prática atrair médicos estrangeiros.

Na Inglaterra, 37% dos profissionais formaram-se no exterior. Nos EUA, os médicos estrangeiros representam 25% do total da classe médica. Há uma importante presença de estrangeiros também na Austrália (22%) e Canadá (17%). No Brasil, eles representam apenas 1,79%.


Renato Godoy – 5/9/2013
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