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Bancários não querem Reforma da Previdência

Linha fina
Trabalhadores destacam que aumentar idade mínima para 65 anos prejudica maioria dos brasileiros, que começa a trabalhar cedo, e que mercado não vai absorver desempregados com mais de 50 anos
Imagem Destaque
Redação SPbancários
8/9/2016


São Paulo – “Hoje morri um pouco profissionalmente. Descobri que uma das minhas maiores motivações profissionais será retirada de mim, sem que eu tenha ao menos uma chance de discutir, sugerir, opinar ou contribuir com ideias”, diz um gerente do Itaú sobre a Reforma da Previdência proposta pelo governo Temer, que altera a idade mínima da aposentadoria para 65 anos para todos os trabalhadores: homens e mulheres, servidores públicos ou da iniciativa privada, da cidade ou do campo. “É uma violação à própria vida do trabalhador.”

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O bancário lembra ainda que a mudança vai prejudicar a maioria dos brasileiros que, como ele, começou a trabalhar cedo. “Lembro do meu primeiro dia de serviço registrado. Eu tinha 16 anos, mas mesmo antes disso já havia trabalhado em várias outras coisas: servi mesa de bar, varri pátio de escola pública, vendi pipa, geladinho, troquei jornal por banana na feira... Tudo isso me engrandeceu, motivou, pois sabia que lá na frente poderia desfrutar ainda com saúde do restinho da minha vida. Só que não sabia que esse ‘lá na frente’ seria tão lá assim. ”

Ele diz que, se a mudança for aprovada, terá de trabalhar quase 20 anos a mais do que havia planejado. E isso nas condições atuais das agências bancárias, que viraram “balcões de negócio”, com gente “se digladiando por clientes”.

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“E quem abdicou da infância e da juventude cedo, para auxiliar a família?! É justo ter que trabalhar 50 anos ininterruptos e, se tiver sorte e estiver vivo, se aposentar aos 65 anos? Meu pai e meu sogro faleceram com 70 anos. Contribuíram muito e não conseguiram desfrutar de suas aposentadorias”, conta o trabalhador.

Mercado não absorverá – Outra preocupação relatada é que o mercado de trabalho no Brasil não está preparado para absorver os mais velhos. Assim, pessoas de 50 anos que por algum motivo perderem o emprego, terão ainda 15 anos pela frente para arrumar um jeito de sobreviver, sem salário, nem aposentadoria. “Atualmente ter 40 anos já é um risco, é viver na corda bamba. Absurdo alterar a idade mínima nessa proporção enquanto as empresas diminuem seus quadros de meia idade. É justamente no momento mais importante que o trabalhador ficará totalmente desamparado, sem salário, sem aposentadoria, sem convênio, sem alimentação”, destaca o gerente do Itaú.

Dívida pública consome mais – O bancário da Caixa Marcos Videira ressalta que o governo Temer quer cortar gastos com Previdência, Saúde e Educação (por meio da PEC 241), quando os gastos com a dívida pública, alimentada pela Selic alta ao gosto dos especuladores financeiros, consomem muito mais do orçamento da União.

Ele explica “o gráfico de pizza do orçamento”. “Se você olhar, aquilo é o Brasil. Eles querem congelar gastos com Saúde e Educação, que não chegam a 4% do orçamento. A Previdência, pagando pessoas acidentadas, aposentadoria, pensão para viúva, auxílio-maternidade e tudo mais, dá 21%. Aí tem um negócio que dá 45%, que são os juros da divida.”

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E acrescenta: “Tem gente que fala que Saúde, Educação e Previdência não cabem no orçamento e não falam nada dos 45% dos juros da dívida pública. Mas quantos brasileiros sabem disso? Sabem que o problema são os juros? A Miriam Leitão, o Sardenberg [jornalistas da Globo] não vão falar, porque são serviçais pagos para fazer a cabeça das pessoas e difundir a ideologia de mercado. O que o brasileiro precisa saber o que é gasto com Saúde, Educação e Previdência e o que é gasto com os juros da dívida”.

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Outro bancário do Itaú reclama. “Pelas minhas contas, com essa regra (65 anos) eu teria que trabalhar mais 17 anos. Eu já tenho 27 registrados na carteira e 48 anos de idade. Na regra atual eu trabalharia mais uns oito anos aproximadamente, o que já não é uma tarefa fácil dentro do banco. A preocupação deixa a gente inquieto todos os dias.”
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