Pesquisa sobre a situação da mobilidade urbana na capital paulista, realizada pelo Ibope em parceria com a Rede Nossa São Paulo, mostra que 69% dos paulistanos foram impactados negativamente pela redução das integrações e o aumento da tarifa no Bilhete Único Vale-Transporte, medidas aplicadas em março pela gestão do prefeito Bruno Covas (PSDB). Do total, 42% se disseram muito afetados e 27% um pouco afetados pela mudança, que reduziu as integrações gratuitas de três para uma e aumentou o preço da passagem de R$ 4,30 para R$ 4,57.
A reportagem é da Rede Brasil Atual.
Como a RBA revelou em maio, o corte na integração do Vale-Transporte obrigou trabalhadores paulistanos a fazer parte do trajeto a pé ou a gastar mais tempo nos coletivos. Dados da São Paulo Transporte (SPTrans) revelam que o número de integrações dos usuários de ônibus caiu 8 milhões em março, primeiro período em que as integrações no VT foram reduzidas de três para uma. No mesmo mês, o uso dessa modalidade de cartão subiu 5,8 milhões. Já os pagamentos em dinheiro e no bilhete comum ficaram na média.
A diferença de quase 2 milhões indica que parte dos passageiros não está tendo condições de pagar mais uma tarifa e contradiz o discurso do prefeito Bruno Covas (PSDB) de que os empresários iriam bancar a mudança no Vale-Transporte. A medida foi questionada na justiça pelo Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) e a Defensoria Pública de São Paulo e atualmente está em recurso no Superior Tribunal de Justiça (STJ).
Os mais afetados são os moradores das zonas norte, sul e leste. Estagiária de pedagogia, Ariana Costa teve de mudar todo o trajeto que fazia diariamente e passou a gastar uma hora a mais no percurso, tempo que deixa de passar com as duas filhas pequenas. Todos os dias ela percorre 25 quilômetros de Parelheiros, no extremo sul da cidade, até a Vila Mascote, na região do Jabaquara, utilizando o Vale-Transporte.
“Para ir eu pego um ônibus para Santo Amaro, desço na Estação de Transferência Vitor Mazini e pego um pro Jabaquara. Mas na volta, eu estou muito cansada, e (antes das mudanças) procurava chegar o mais rápido possível em casa. Era muito pesado pegar o Terminal Varginha, no Jabaquara, e depois pegar o Santa Terezinha, demorava demais”, contou.
Para reduzir o tempo gasto, Ariana passou a fazer três baldeações: um ônibus até a Avenida Interlagos, dali pegava qualquer um até o Largo do Rio Bonito e lá pegava o Terminal Parelheiros pra ir para casa. “Estava conseguindo chegar em casa às 20h. Era um tempo a mais pra ficar com as minhas filhas que eu quase não vejo, porque saio de casa 5h30, todo dia”, relatou. Mas com a mudança na integração, a estudante não conseguiu mais manter essa rotina.
Quem ainda consegue pagar, tem bancado do próprio bolso o que o Vale-Transporte se tornou incapaz de bancar. O operador de caixa Vítor da Silva Pedroso tem feito isso desde o dia 20 de março, situação que se repetiu em abril. “Com a redução da integração, o VT acaba antes do fim do mês. A empresa não vai compensar o valor que a prefeitura determinou”, afirmou.
Todos os dias, ele vai do bairro do Lauzane, na zona norte, para o Cambuci, na região central, utilizando dois ônibus e o Metrô. “Eu acho uma sacanagem da prefeitura mudar algo que ajudava tanto a população na locomoção de casa ao trabalho. Conheço pessoas que estão perto de perder o emprego. Eu sou obrigado a tirar do meu bolso, no final do mês, pra poder trabalhar”, afirmou Pedroso.
Além do problema com o Vale-Transporte, o preço da tarifa segue sendo um impeditivo para que as pessoas circulem pela cidade. Segundo a pesquisa, 50% dos paulistanos ainda deixam de visitar amigos e parentes em outros bairros por esse motivo. O custo do transporte também faz com que 45% da população deixe de ir a parques, cinemas e outras atividades de lazer e 40% deixe de ir em consultas médicas agendadas.
O principal problema do transporte coletivo municipal segue sendo a lotação, apontada por 55% dos entrevistados. Além disso, após dois anos de queda na avaliação negativa, a demora dos ônibus voltou a ser um problema destacado pelos usuários do transporte. A taxa subiu de 26% de avaliação negativa, no último da gestão de Fernando Haddad (PT), para 41% na gestão de Bruno Covas (PSDB), tendo aumentado todos os anos desde que o ex-prefeito e atual governador paulista, João Doria (PSDB), assumiu (2017).
A situação poderia mudar se a prefeitura observasse as prioridades apontadas pela população para melhoria da mobilidade na cidade. A construção de mais faixas exclusivas e corredores de ônibus é apoiada por 87% dos entrevistados. A ampliação e construção de ovas ciclovias é apoiada por 82% dos paulistanos. E a redução das velocidades nas vias, marca da gestão Haddad, segue com alta aprovação: 56% aprovam a ampliação da medida na cidade.