
Nesta quinta-feira, 25 de setembro, ocorreu a I Negociação Nacional da Evolução da Atividade Econômica Financeira, entre o Comando Nacional dos Bancários e Fenaban (federação dos bancos). Em pauta, a transformação do mercado financeiro nacional com a entrada e crescimento de novos atores no setor; assimetrias regulatórias; e o impacto no emprego bancário e nos direitos dos trabalhadores.
Diante da repercussão das demissões ocorridas no Itaú no último dia 8, o Comando Nacional dos Bancários propôs iniciar o debate sobre os impactos do uso de novas tecnologias no teletrabalho, cobrando transparência em relação às ferramentas de monitoramento utilizadas para medir a produtividade, aderência, jornada e outras exigências do contrato de trabalho.
Demissão em massa no Itaú
No início da negociação, a representação dos bancários enfatizou sua indignação com a demissão em massa feita pelo Itaú, de forma totalmente arbitrária, que impactou mais de mil bancários que atuavam em home office ou regime híbrido.
Demissão em massa esta que ignorou o processo negocial; da qual os trabalhadores não tinham conhecimento sobre os critérios do monitoramento que justificou os desligamentos; que impactou bancários premiados e promovidos pelo próprio banco; e que expôs os bancários demitidos, de forma pública, como pessoas que não trabalhavam.
Negociação coletiva sobre novas tecnologias

O Comando Nacional dos Bancários trouxe vários exemplos de negociação sobre o uso de Inteligência Artificial e outras novas tecnologias no monitoramento, contratação, avaliação de trabalhadores e até nos desligamentos. Também apresentou exemplos de acordos que garantem o direito à não discriminação na contratação; preservação da saúde; respeito a desconexão; transparência no acesso dos sindicatos as informações; bem como o acesso dos bancários ao uso destas tecnologias, assim como o direito à contestação dos resultados dessas avaliações; e a garantia do feedback.
“Vivemos um momento em que a tecnologia avança em ritmo acelerado e já ocupa espaço central na organização do trabalho bancário. A inteligência artificial e ferramentas de monitoramento remoto passaram a ditar métricas de produtividade, tempo de tela e até mesmo a permanência de cada trabalhador na empresa. Porém, nenhuma tecnologia pode estar acima da dignidade humana e do direito a informação. O que está em jogo não é apenas a automação, mas a forma como somos avaliados, reconhecidos ou descartados dentro dos bancos”
Neiva Ribeiro, presidenta do Sindicato e uma das coordenadoras do Comando Nacional dos Bancários
“Por isso, reivindicamos acesso integral e transparente às informações de monitoramento. Queremos saber quais dados são coletados; os critérios para avaliar produtividade; como estas ferramentas influenciam decisões sobre metas, promoções e desligamentos; e, sobretudo, assegurar que não ocorram discriminações, arbitrariedades ou substituições de trabalhadores por algoritmos. O direito à negociação coletiva inclui o direito à informação. Se os bancos utilizam a tecnologia para tomar decisões sobre os nossos empregos, o Sindicato tem o direito e o dever de acompanhar, fiscalizar e intervir quando necessário", acrescenta a presidenta do Sindicato.
“Precisamos debater este tema de forma transparente e estabelecer regras e limites para o uso de ferramentas tecnológicas para o monitoramento do trabalho. Os sindicatos e os trabalhadores precisam ter direito à informação e as tecnologias têm que melhorar o trabalho e a vida dos bancários, não os prejudicar”, reforça Juvandia Moreira, presidenta da Contraf-CUT e também coordenadora do Comando Nacional dos Bancários.
Manutenção do home office
O Comando Nacional dos Bancários destacou ainda a importância da manutenção do home office como um modelo de trabalho importante para a categoria, os impactos que a IA e a adoção de novas tecnologias podem ter no emprego bancário, além da necessidade de negociação coletiva efetiva sobre o tema, sendo necessário promover uma governança ética das tecnologias.
Nota conjunta

Após os debates, o Comando Nacional dos Bancários e a Fenaban acordaram a abertura de uma mesa de negociação para debater o tema.
Leia abaixo a íntegra da nota conjunta assinada pelo Comando Nacional dos Bancários e a Fenaban:
Em reunião realizada nesta data (25/09), o movimento sindical e a Fenaban discutiram aspectos do monitoramento do trabalho remoto.
As partes deliberaram pela abertura de mesa específica de negociação, com definição de calendário de reuniões e desenvolvimento de análises sobre o tema, visando à construção coletiva setorial.
Reiteraram, ainda, os princípios que têm norteado as negociações coletivas do setor, inclusive sobre teletrabalho: transparência, respeito à privacidade e governança ética.
Censo da Diversidade
Por fim, outro tema em debate foi o Censo da Diversidade, que está no ar desde o dia 15 de setembro e já foi respondido por mais de 27 mil bancários através de link exclusivo banco a banco, formato que, de acordo com a Fenaban, foi adotado em razão de questões relacionadas com a segurança dos dados.
O prazo para responder o Censo da Diversidade vai até 31 de outubro.
