São Paulo - Os bancos ocupam lugar privilegiado no mercado nacional. Há décadas, as maiores instituições acumulam resultados que permitem criar uma nova empresa, do mesmo tamanho, em apenas quatro ou cinco anos. A rentabilidade média de 20% ao ano era responsável por esse quadro que agora está mudando. Parte importante das receitas dos bancos era obtida sem muito "esforço": a cultura rentista que predominou por muito tempo na economia brasileira estava ancorada na altíssima taxa básica de juros, a Selic, que tanto prejudicava a economia nacional, mas fazia a festa dos especuladores e investidores de plantão.
Desde agosto de 2011, a Selic caiu 5,25 pontos percentuais, de 12,5% para 7,25% ao ano.
A redução da taxa básica é muito boa para o país. Cada 0,5 ponto percentual de queda gera economia anual de mais de R$ 9 bilhões para o governo, dinheiro que era perdido com os juros da dívida pública e agora pode ser aplicado em infraestrutura para o crescimento do Brasil. E leva a mudança de paradigma para o setor bancário, pois afeta diretamente duas receitas dos bancos de acordo com o modo como funcionam no Brasil: o resultado com títulos e valores mobiliários e o das aplicações compulsórias.
No primeiro caso, o efeito se dá porque os bancos investem alto e são os mais importantes detentores de títulos públicos: mais de 30% da divída pública brasileira está nas mãos das instituições financeiras e boa parte dessa dívida é remunerada pela taxa Selic. Ou seja, quanto mais alta a taxa, mais receita trazia para os bancos, com baixíssimo risco, e mais endividado o país ficava.
No segundo caso o ganho se dá porque o recolhimento compulsório que os bancos fazem ao Banco Central é, em muitos casos, remunerado pela taxa Selic. Recentemente, além da Selic, o compulsório também caiu, de acordo com as medidas do governo federal, que visam levar os bancos a liberar mais crédito para aquecer e fazer crescer o mercado interno brasileiro.
Novo cenário - Em suma, a redução da taxa básica de juros na economia brasileira atrelada à política do governo federal em acionar os bancos públicos com o objetivo de reduzir as taxas de juros bancárias e as tarifas traz nova configuração ao sistema financeiro nacional. Tal configuração obrigará os bancos a ampliar suas carteiras de crédito, trazer sua rentabilidade a padrões internacionais, aumentar seus investimentos nas empresas e, principalmente, contribuir para o financiamento do desenvolvimento econômico da nação.
"O Brasil está mudando e os bancos vão ter de mudar também", afirma a presidenta do Sindicato, Juvandia Moreira. "A queda da Selic é boa para todos. As instituições financeiras têm de se adaptar e mudar seu foco, seu modo de operar. Claro que se a Selic cai essas receitas 'fáceis' tendem a ficar comprometidas. Mas os bancos podem ganhar em escala se, nesse novo cenário, utilizarem esse dinheiro que estava parado em aplicações para ampliar o crédito e facilitar o acesso dos cidadãos e das empresas brasileiras a empréstimos com juros acessíveis", ressalta a dirigente. "Além disso, quando o Brasil cresce, aumenta também a demanda pelos serviços bancários. As instituições que souberem trabalhar nesse novo cenário vão crescer", completa a presidenta do Sindicato, lembrando que para isso ocorrer, os bancários são fundamentais. "Os bancos têm de contratar mais e oferecer condições dignas de trabalho para prestar atendimento decente à população."
Cláudia Motta - 24/10/2012
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Instituições financeiras continuam entre setores que mais lucram no Brasil, mas terão de se adaptar a novo cenário em que lucros devem vir da ampliação do crédito e dos serviços prestados à sociedade
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