São Paulo - Dirigentes sindicais de categorias profissionais de todo o mundo estão reunidos em Nyon, na Suíça, para discutir o futuro do trabalho diante da economia digital. É a Cúpula Mundial de Dirigentes Sindicais da UNI Global Union, entidade que representa 20 milhões de trabalhadores de 900 sindicatos afiliados.
Os bancários estão representados por Roberto von der Osten, presidente da Contraf-CUT, Mario Raia, secretário de Relações Internacionais da entidade. Pelo Sindicato participaram dos debates tão fundamentais à categoria a presidenta do Sindicato, Ivone Silva, e a diretora executiva Rita Berlofa, que é presidenta da UNI Finanças Mundial.
“Há tempos, a UNI estabeleceu a importância de centrar estrategicamente sua atuação na economia digital e agora passa ao terreno das soluções concretas aos desafios da vida real que teremos pela frente”, explica Rita.
Para isso a UNI e suas afiliadas atuam, por exemplo, formando novas alianças e trabalhando com organizações globais para empoderar os trabalhadores, proteger seus dados diante das novas formas de trabalho e fazer com que a economia digital seja transparente e responsável.
Direitos – Entre os debates do comitê mundial, o tema Direitos Fundamentais e Sociais destacou o trabalho nas plataformas digitais, alertando para o fato de que a ideia de ser este um trabalho autônomo tem de ser desmistificada.
“Efetivamente as convenções fundamentais da OIT como, exemplo, o direito de organização e de negociação coletiva, devem ser aplicadas a esses trabalhadores”, afirma a presidenta do Sindicato, Ivone Silva, lembrando do termo de compromisso entregue à federação dos bancos no Brasil. “A reforma trabalhista de Temer quer acabar com os direitos e transformar trabalhadores em PJ, terceirizados, intermitentes. Mas estamos na luta e não vamos aceitar.”
Essas plataformas, por exemplo, aplicam formas de avaliações de desempenho e dados pessoais aos quais os trabalhadores não têm acesso. Eles ainda podem ser penalizados por acessar um site de jornal online, já que a captura de tela indica essa mudança.
“É dever de nossas entidades acompanhar esses modelos de trabalho. O emprego deve ser tratado de uma forma mais abrangente com já estamos fazendo no Brasil”, reforça Betão, presidente da Contraf-CUT.
Diante da mobilidade do capital, que desestabiliza os locais e as formas de trabalho, alterando as estruturas de trabalho convencional, o secretário de relações internacionais Mario Raia ressalta; “precisamos maximizar nossa atuação junto a esses trabalhadores e criar novas perspectivas de como empoderar o trabalho nas plataformas digitais”.
Poder – Na seção que discutiu Inteligência Artificial, Ética e Proteção de Dados, os representantes dos trabalhadores abordaram a concentração de poder e riqueza atuais agravados pelo domínio de informações via redes sociais.
Utilizar a cultura do trabalho corporativo com organizações maiores e com meios de detenção de riscos é visto como uma das soluções para esse quadro. A tecnologia deveria inspirar confiança aos cidadãos, mas sem a “fé cega” no progresso tecnológico que pode levar à perda da autonomia pessoal, da habilidade e de empregos, a perda do conhecimento sobre como o mundo funciona.
“Devemos trazer para a luta a atual geração de milenials que, embora senão se intutulem atores políticos, têm convicções como justiça social, diversidade, igualdade de oportunidades exatamente as mesmas que inspiram nossas causas no mundo do trabalho”, avalia Rita.
Os debatedores lembraram a questão da coleta, armazenamento e manipulação de dados – o “big data” – como o novo ouro no mundo. Prevê-se que em 2020 cerca de 15% a 20% do PIB mundial será baseado no fluxo de dados.
“São dados que não só fornecemos como consumidores mas também como usuários de um aparelho celular, de um programa de busca, um mapa num computador. E os trabalhadores devem exigir acesso aos seus dados que, numa empresa, são coletados no recrutamento, no seu dia a dia e são utilizados para promoções mas também como forma de pressão e controle”, lembra Ivone Silva. “Nós, sindicatos, temos de garantir o poder de acesso aos trabalhadores, exigir o direito da explicação, de entender porque uma determinada ação foi praticada, incluir isso nos acordos coletivos. A proteção dos dados dos trabalhadores é condição fundamental para ser incluída nos acordos coletivos.”
Colonialismo – O painel final foi sobre Colonialismo Digital e a constatação de que, assim como os espanhóis e portugueses traziam espelhos para trocar por ouro e outros bens, hoje a troca tem como custo a liberdade dos cidadãos.
Foi debatida a ideia de que a inclusão digital, colocando todos conectados e empoderados, é uma falácia. “É falsa a promessa do Vale do Silício segundo a qual todos podem ser um empreendedor e se tornar um Mark Zuckerberg”, afirma Rita Berlofa. “Falamos aqui de Democracia e Liberdade na Internet, mas as tecnologias não são neutras. E os dados coletados podem ser usados no futuro. Por exemplo, a Uber pode ter mais dados sobre as cidades do que as prefeituras. Assim, empresas poderão ser mais suficientes que os estados.”
A presidenta do Sindicato alerta que, dessa forma, num futuro próximo os trabalhadores sequer poderão utilizar a greve como elemento de luta. “Mas nem tudo está perdido. Estamos reunidos e trabalhando para aprimorar cada vez mais o que sempre fizemos: resistência e ação! E você, bancário, é parte primordial dessa luta.”
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