São Paulo – O fechamento de agências anunciado pela direção da Caixa; a “reestruturação”, que na verdade é a desestruturação do banco; a verticalização, que está fechando áreas fundamentais para a execução do papel social da instituição, estão deixando empregados apreensivos em relação a seus salários, empregos e ao futuro do banco público.
“Anunciaram este ano o fechamento de 100 agências e algumas já foram encerradas. A diminuição de áreas fundamentais como a Gigov que cuida dos programas sociais, a redução da Cehab, que cuida de habitação, e da Gifug, que cuida do fundo de garantia. Todas essas áreas estão diretamente envolvidas com o papel social da Caixa, que é o fator principal do banco, e estão sendo extintas. Essas medidas fazem parte do desmonte da Caixa promovido pelo governo atual”, enfatiza o diretor do Sindicato e empregado da Caixa, Francisco Pugliesi, o Chico.
O dirigente acrescenta que, para piorar o clima de descontentamento, a Caixa impôs uma meta impossível de ser alcançada aos gerentes de relacionamento PJ e PF. “Eles estão sendo obrigados a encarteirar seus clientes, com mais ênfase em correntistas de renda alta. Não só é uma mudança de postura da Caixa, que é o único banco voltado ao atendimento da população de renda mais baixa, como também é uma desculpa para descomissionar bancários.”
Outro problema, segundo Chico, é que além de a meta de cada gerente ser quase impossível de ser batida, o sistema que dimensiona o resultado é falho.
Bancários descontentes – O gerente de relacionamento PJ Mateus (nome fictício) confirma: “A meta da verticalização é 300 pontos até dezembro. Para alguns é impossível logo de cara, mas o discurso da Caixa é de que basta esforço”.
O bancário exemplifica a dificuldade: “Clientes PJ que tem faturamento oficial declarado acima de R$ 360 mil por ano correspondem a 1,5 ponto apenas. Imagine a dificuldade, principalmente nas agências menores, de se chegar a 300 pontos até dezembro!”.
E o sistema que afere as pontuações, segundo Mateus, não é confiável. “Há inconsistências no sistema. Clientes que deveriam estar pontuando, não estão. Outros que não deveriam, estão.”
Mateus diz que a Caixa não explicita o que fará com o trabalhador que não alcançar a pontuação, mas já avisou que as agências, cujos gerentes de relacionamento não chegarem aos 300 pontos, não fazem jus ao cargo. “O que a gente não sabe é se esse gerente será transferido para outra agência ou se será descomissionado, perdendo até metade de sua remuneração.”
Diante dessa situação, dá para imaginar o clima entre os empregados. “O pessoal tá com bastante medo, principalmente os gerentes mais novos”, conta. “A impressão que todos têm é que o objetivo mesmo é descomissionar. Manobrar para cortar custos”, opina.
O bancário também acredita que há intenção do atual governo em privatizar a Caixa. “A direção sinaliza que não tem dinheiro para financiamento habitacional, para crédito. O banco precisa de aporte, e se o governo não dá, procura-se esse aporte no privado. O governo já anunciou que quer privatizar a loteria, a parte de cartões... ou seja, as áreas que dão lucro. O que ficar não vai sustentar o banco, e isso vai justificar a venda.”
Além disso, destaca o empregado, a Caixa já cortou muitos postos de trabalho. “Isso pode significar que está enxugando o banco para uma tentativa de privatização.”
Mateus considera a privatização equivocada. “A Caixa atende uma parcela da população que só vai ser atendida aqui. Tem cliente que só vai abrir conta aqui. E essas mudanças vão fazer com que a gente deixe de atender esse cliente, e quem vai atender?”, questiona.
A gerente geral Luciana (nome fictício) também discorda da privatização: “A Caixa é importante como regulador do mercado, ela funciona como um jogo de forças a favor da população. É importante para a população mais pobre e é fundamental que continue financiando projetos sociais. Enfim, é importante que a Caixa se mantenha 100% pública”.
E aponta o absurdo da meta. “Pouquíssimos alcançarão e isso para as agências de pequeno porte é praticamente impossível. E se o gerente não alcançar, vai perder sua função”, critica.
A consequência, segundo Luciana, é o sentimento geral de insegurança. “O clima está muito ruim. Muitos não sabem o que vai ser da vida deles. E essas mudanças não estão chegando de forma clara para a gente. A gente infere que isso tudo é para deixar o banco mais atrativo para o mercado, todos os gerentes gerais com quem converso acham que isso tudo é para preparar a Caixa para a venda. Deixar a Caixa enxuta para privatizar.”
Mobilização – Diante desse quadro, acrescenta Chico, os empregados têm de lutar ao lado do Sindicato e reforçar a mobilização em defesa da Caixa e dos demais bancos públicos, como a Campanha Se é publico é para Todos, os protestos que ocorrem todas as quartas-feiras em defesa dos bancos públicos e as audiências abertas que vêm ocorrendo em municípios da base do Sindicato, que reforçam a importância da Caixa e do BB para a população dessas cidades.
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“A Caixa é fundamental para a soberania do país e defendê-la é defender o Brasil. Os trabalhadores estão encampando essa luta novamente, como o fizeram na década de 1990, quando os bancos públicos foram ameaçados e alguns vendidos, no governo neoliberal de FHC. Tem de partir dos trabalhadores o debate com a sociedade, com a população, com os clientes, com as famílias”, orienta o dirigente.
Reunião – No sábado 7, o Sindicato convida os empregados da Caixa para uma reunião onde será discutida a verticalização. Será a partir das 9h, na Regional Norte (Rua Banco das Palmas, 288, próximo da estação Santana do Metrô). Participe!