São Paulo – Qual o papel que a história reservará para cada um dos atores do Golpe de 2016? Como eles agiram? De que forma a institucionalidade foi rompida? Ações internacionais, a participação da classe média, o estado de exceção, a função das delações e das igrejas, a participação de veículos de comunicação, Polícia Federal e o poder judiciário. Todos estes personagens representam ao menos um verbete no livro “A Enciclopédia do Golpe”, que será lançado em novembro.
A obra reúne 22 artigos, transformados em verbetes, assinados por intelectuais e personalidades das mais diversas áreas. O historiador Luiz Alberto Moniz Bandeira, o sociólogo Jessé Souza, o jornalista Luís Nassif, o ex-ministro da Justiça, Eugênio Aragão, a desembargadora, Magda Biavaschi e o economista Luiz Gonzaga Belluzzo são alguns dos personagens que ajudam a dar nome aos bois.
“Não pode ser negado, aos brasileiros, o Direito à Memória. É preciso que saibam e tenham o registro histórico de quem foram os golpistas e o papel de cada um deles no golpe iniciado em 2016 por intermédio do afastamento ilegal do afastamento da Presidenta da República eleita. Afastamento que se deu pelo pior Parlamento sob o beneplácito do pior momento do Judiciário da história do Brasil”, explica Wilson Ramos Filho, um dos organizadores da enciclopédia e que assina o posfácio da obra.
“As futuras gerações têm o direito de saber o papel que, em cada instituição, as pessoas que nelas mais se destacavam tiveram para a desconstrução da democracia no Brasil e, como consequência direta, dos direitos sociais”, completa. Segundo Xixo, como é mais conhecido o professor, ainda não é certo quanto tempo o golpe ainda durará. Contudo, é correto afirmar, que este período um dia chegará ao fim.
“Já escutamos, mesmo que discretamente, menções ao arrependimento do apoio ao golpe. Pequenos empresários que veem suas vendas caírem em virtude da redução do poder de compra, médicos assustados com o desmantelamento do SUS, advogados preocupados com o futuro que está tomando o direito da forma como o conhecíamos. São vários exemplos. Contudo, ainda não é certo quanto tempo será necessário para reorganizar o Brasil. Mas é certo que isso mais cedo ou mais tarde acontecerá”, projeta o advogado.
Neste momento é que a Enciclopédia do Golpe terá um papel ainda mais importante a desempenhar. “Seja como for, os algozes de hoje, os golpistas nos três Poderes, no empresariado, nos movimentos sociais de Direita, nas Instituições, nas igrejas, na classe média, nos órgãos de comunicação, estarão sujeitos à análise histórica de suas condutas”, garante.
Segundo volume – Antes mesmo de lançar o livro, Ramos garante que novos volumes da enciclopédia serão lançados. Contudo, as próximas edições, deverão tratar de forma temática os principais atores do golpe. Edições específicas com o papel de cada serão publicadas ao longo de 2018.
Serão obras específicas, também por verbetes, dedicados aos meios de comunicação, ao poder judiciário, aos intelectuais de direita e personagens que de uma forma ou outra foram relevantes para a destruição do Estado Social, mesmo que precário, que existia antes do Golpe de 2016.
“Não se trata de apenas um ‘para que nunca se esqueça e para que nunca mais aconteça’, mas sim, de uma essencial memorização. Um olhar histórico nos mostra que avanços e recuos, idas e vindas, são frequentes quando colocamos os fatos em perspectivas. Não há conquista irreversível e nem refluxo que dure para sempre. Esse é o papel que desejamos cumprir com o livro”, finaliza Ramos Filho.
A obra tem o apoio do Instituto Declatra.