São Paulo - Último país do mundo a abolir a escravidão, em 1888, o Brasil ainda é um país extremamente desigual, onde negros e brancos não encontram as mesmas oportunidades desde a escolarização até o mercado de trabalho. A Oxfam, entidade humanitária fundada no Reino Unido e hoje presente em 94 nações, que combate a pobreza e promove a justiça social, estima que negros e brancos brasileiros só terão renda equivalente em 2089, daqui a pelo menos 72 anos. Para debater essa realidade e fortalecer a construção da promoção da diversidade e igualdade racial nos bancos, foi realizado nos dias 9 e 10, em Recife, o IV Fórum pela Visibilidade Negra no Sistema Financeiro.
Foram debatidos em profundidade temas como as dificuldades para inserção e ascensão profissional de negros e negras nos bancos, além da desigualdade salarial no setor. O Sindicato foi representado pelos dirigentes Fábio Pereira, Ana Marta e Júlio César Santos (foto abaixo), todos do Coletivo de Combate ao Racismo.
“A desigualdade entre negros e brancos está fortemente presente no setor financeiro. No Brasil, a população negra compõem 51% da população. Entretanto, nos bancos, após intensas lutas do movimento sindical, esse percentual alcançou 24,8% (Censo da Diversidade 2014), sendo mais crítica a situação em instituições privados, onde os critérios para contratações dependem de políticas internas e do crivo de muitos gestores preconceituosos”, avalia a dirigente do Sindicato Ana Marta.
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“Elaboramos uma pauta conjunta de lutas e sensibilização, principalmente voltada às pessoas com o tom de pele preta, que englobam apenas 3,4% dos bancários, demonstrando a discriminação racial velada que existe nas instituições financeiras. Na hora da contratação, quando os bancos contratam pessoas identificadas como negros, optam na maioria das vezes por trabalhadores pardos. Quanto mais escuro o tom da pele, mais difícil é ser contratado por um banco”, acrescenta.
A dirigente lembra ainda que negros e negras tem maior dificuldade para ascender profissionalmente nos bancos. “Apesar de possuírem formação e competência para exercerem cargos de gestão e diretoria nas instituições financeiras, negros e negras estão concentrados em funções operacionais, administrativas e comerciais. Além disso, muitas vezes, o negro é relegado a posições de baixa visibilidade, escondido em áreas como call center e compensação”.
Para Ana Marta, no caso das mulheres negras a situação é ainda mais alarmante. “Negros e negras encontram nas instituições financeiras, em média, salários menores que dos brancos. No caso das mulheres negras, essa questão é ainda mais grave, já que sofrem uma dupla discriminação: racial e de gênero.”
"Nossa bandeira, como movimento sindical, será corrigir esta falha histórica da sociedade, que se reflete com força no setor financeiro, visando um ambiente bancário com igualdade de oportunidades para todos”, conclui Ana Marta.
Campanha - A Contraf-CUT (Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro) lançou, em 18 de outubro, a Campanha Nacional de Combate à Discriminação nos Bancos com o objetivo de valorizar os trabalhadores de todos os gêneros, raças e com deficiência. Idealizada pelo Coletivo de Gênero, Raça, Orientação Sexual e Trabalhadores e Trabalhadoras com Deficiência (CGROS), em parceria com a Secretaria de Comunicação, a campanha visa informar sobre a importância de levar o debate sobre os valores humanos à sociedade como um todo, não apenas ao movimento sindical.
“A nossa campanha é absolutamente oportuna, já que estamos num momento que o ódio apareceu com muita força, principalmente o ódio entre classes, nesse cenário de golpe”, destaca o presidente da Contraf-CUT, Roberto von der Osten.
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