São Paulo – Um país que viveu 350 dos seus 517 anos de história impondo a escravidão a quase seis milhões de africanos e seus descendentes. O Brasil foi o último do hemisfério ocidental a abolir oficialmente os trabalhos forçados não remunerados, em 13 de maio de 1888, mas o passado vergonhoso continua se refletindo no presente.
Ainda hoje, os negros são obrigados a conviver cotidianamente com a discriminação social, inclusive nos locais de trabalho, onde recebem salários menores e menos oportunidades de crescimento profissional do que os colegas brancos.
E o setor bancário, o mais lucrativo do país, não foge à regra. Os negros (compostos por pretos e pardos) têm rendimento médio correspondente a 87,3% do rendimento médio dos brancos. E as mulheres negras sofrem ainda mais discriminação: seu rendimento médio corresponde a apenas 68,2% do dos homens brancos. Os dados são do Censo da Diversidade Bancária, levantamento mais recente, realizado em 2014.
Racismo – Além da discriminação, há também o problema da subrepresentação. Segundo o IBGE, pretos e pardos compõem 54% da população total do país. Mas de acordo com o Censo da Diversidade 2014, ocupam apenas 24% dos cargos nos bancos.
Durante o 4º Fórum Nacional da Visibilidade Negra, realizado nos dias 9 e 10 de novembro, em Recife, dirigentes ressaltaram que o tom da pele é diretamente ligado às oportunidades oferecidas pelos bancos. Ou seja, as instituições financeiras priorizam a contratação e promoção de pessoas de pele branca, em seguida vêm os pardos, enquanto os profissionais de pele preta têm menos chances.
Santander – No Santander, a proporção de profissionais negros é ainda menor do que o verificado no setor bancário: 19,6%, segundo relatório de sustentabilidade do próprio banco. E o afunilamento de oportunidades para os negros aumenta de acordo com a relevância da função. Os brancos ocupam 94% dos cargos de diretoria do banco espanhol, e os homens, 83,4%, ainda segundo o mesmo relatório.
“Todos os anos, o movimento sindical aponta o mesmo problema: existem poucos negros ocupando cargos de atendimento ao público, como gerentes, e menos ainda nas diretorias, o que reforça a falta de visibilidade e oportunidade que os bancos dão à etnia que compõe a maior parte da população brasileira”, critica a dirigente sindical e bancária do Santander Ana Marta Lima.
“E para comprovar a discriminação instalada nessas instituições, os salários pagos aos homens e, principalmente, às mulheres negras, são muito menores. Lamentavelmente essa questão ainda precisa ser debatida mesmo quase 130 anos depois da abolição da escravidão. Continuamos a cobrar mais representatividade, visibilidade e igualdade”, afirma a dirigente.