São Paulo – Como você se sentiria se fosse demitido depois de telefonar para mais de 250 clientes em dois meses e, desse total, apenas quatro respondessem SMS enviado pelo sistema do banco negando que houve o contato? Pois foi o que ocorreu com um gerente pessoa física do Bradesco, subordinado à regional Jabaquara.
Uma das inúmeras tarefas dos gerentes do Bradesco é entrar em contato com clientes e depois registrar em um sistema os motivos do contato, que podem ser variados, como venda de produtos ou informações sobre investimentos.
Após a ligação, o sistema do banco envia um SMS ao cliente solicitando avaliação sobre a qualidade do atendimento e também pergunta se houve ou não o contato. Se durante o mês inteiro o sistema receber duas respostas negando que houve o contato, a meta do funcionário de todo esse período é zerada. Se isso se repetir no mês seguinte, o gerente é demitido.
“É ridículo o Bradesco submeter o cargo de um funcionário à resposta de um simples SMS que pode inclusive ter sido enviado para um número desatualizado ou errado”, lamenta um gerente que passou pela situação. “Tem muito telefone errado no cadastro do Bradesco. Eu mesmo já recebi mensagem em nome de outra pessoa”, afirma o trabalhador.
Ele relata que a demissão ocorreu depois de uma reunião entre os gerentes gerais das agências e o gerente regional de Jabaquara. Segundo o trabalhador, ao menos outros quatro gerentes foram demitidos pelo mesmo motivo.
O Sindicato cobrou o Bradesco sobre o sistema de avaliação via SMS, mas ainda não obteve resposta. “Não aceite este absurdo. Denuncie ao Sindicato. Vamos pressionar o banco para que essa situação acabe”, afirma o dirigente sindical e bancário do Bradesco Luciano Ramos da Silva.
Os bancários podem denunciar ao Sindicato diretamente a um dirigente sindical, pelo canal Assuma o Controle, pelo Whatsapp da entidade (11 97593-7749), ou por meio da Central de Atendimento (3188-5200). O sigilo é absoluto.
Sobrecarga de trabalho – O bancário ouvido relata ainda outro agravante: a sobrecarga de trabalho. Ele afirma que além da administração da carteira de clientes e dos contatos mensais, tinha de tocar outras tarefas relacionadas à unidade bancária de pequeno porte onde trabalhava.
“Sempre fazia tudo direito, batia as metas, mas não conseguia dar conta de fazer tudo, cuidar da carteira, produzir. Estava fazendo tratamento psiquiátrico, fiquei 15 dias afastado por causa do estresse, tenho laudo médico comprovando. A gente se doa para o banco, adoece, e um simples SMS que pode ter sido enviado para a pessoa errada é motivo de demissão. Duas [mensagens] dentro de 130 não chega nem a 2% de margem de erro”, protesta.
“Demissões como essas, sobretudo de funcionários que batem as metas e seguem estritamente as normas do banco para evitar práticas que podem gerar reclamações no Banco Central, levantam a suspeita de que com isso o Bradesco pretende reduzir ainda mais o quadro de funcionários por conta da fusão com o HSBC. Como se estivesse faltando serviço, mas a realidade que os bancários denunciam é justamente a contrária: a sobrecarga de trabalho cada vez maior no banco”, ressalta Luciano.
A essa situação soma-se o Plano de Demissão Voluntária Especial (PDVE) promovido pelo Bradesco que eliminou 7,4 mil postos de trabalho. “E para piorar, o banco ainda deslocou uma força tarefa de mais de 900 bancários para a Paraíba. E nada de contratações. As agências e departamentos estão todos com falta de funcionários e os que ficam estão desempenhando funções duplas e até triplas”, reforça o dirigente.